Capítulo Catorze - Daniela Fernandes

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Daniela

Minha primeira segunda-feira desempregada está nublada, fria, e completamente sem graça. Bem diferente do meu humor, diga-se de passagem. Confesso que a falta de sexo estava me deixando rabugenta, visto que não paro de sorrir feito uma hiena, depois que deixei o apartamento do Ricardo.

Quando Felipe chegou, no final da tarde de domingo, eu já estava em casa. Meu irmão, apesar de não ter me ignorado completamente, trocou poucas palavras comigo. Na verdade, apenas o necessário, o que me deixou profundamente chateada. Essa foi a primeira vez que tivemos uma briga séria – já que os puxões de cabelo e beliscões que ganhei na infância não contam – e eu odeio, definitivamente, essa situação de merda.

Hoje pela manhã, como há muito não fazia, aproveitei umas horinhas a mais sob os cobertores para depois, aprimorar meu currículo e começar a enviá-lo via e-mail para algumas empresas de grande porte, aqui em São Paulo. Afinal, eu nem conversei direito com o Gui para saber dos detalhes da proposta que me fez, e a vida não pode parar. Tudo aconteceu tão rápido que me dei conta de que nem o telefone do garoto, eu tenho.

Estaciono o Uno Mille vermelho em uma das diversas vagas do estacionamento da Universidade, e o tranco na chave, visto que o carro não tem alarme.

Levi e Sandra não vão aparecer hoje, pois estão cansados demais da viagem, foi o que disseram através de uma mensagem de texto. Pelo jeito, Felipe também não vai dar as caras no mestrado, ou, mesmo com o clima teso que paira entre nós, teria sugerido de virmos os dois em seu carro.

Confesso que, no fundo, eu estava doida para me aventurar atrás do volante pelas extensas marginais de São Paulo. Vim para a Universidade um pouco antes, pois, apesar de ter carteira de motorista e um pouco de experiência, achei melhor evitar o trânsito caótico. Não estou acostumada a dirigir nesse aglomerado de carros, ainda.

A aula parece ainda mais longa sem àqueles dois, e, enquanto a professora da vez fala sobre a importância dos administradores bons para a atual situação econômica do país, decido que uma espiada no celular não fará de mim uma dependente nessa matéria enfadonha.

Há uma notificação de mensagem do Ricardo. Trocamos números de telefone ontem, a fim de facilitar as coisas para nós.

Você veio para a aula?

R.

Presumo que, pelo conteúdo da pergunta, ele está aqui, também. Com meus dedos ágeis, envio a resposta.

Sim, no meu carro novo :-)

D.

Não demora muito para outra mensagem chegar.

Aquilo que você nomeou de veículo é uma ameaça à sociedade.

Reviro os olhos, abrindo um sorriso inevitável. E para não perder o costume, respondo:

Babaca!

Nem tenho tempo de bloquear a tela e a resposta já vem:

Gostosa! Qual é a sua sala?

***

203, bloco azul.

Então eu guardo o celular no bolso da jaqueta de couro para evitar maiores problemas para mim. Essa coisa de marcação de professor existe até na faculdade, e prefiro não arriscar. No entanto, o aparelho vibra dentro do bolso novamente. Tento, por míseros segundos, resistir a vontade de olhar, mas falho vergonhosamente.

Pensando nos seus peitos.

R.

Sinto meu rosto esquentar. Com certeza devo estar semelhante a um tomate agora, e a culpa é toda daquele bastardo, do Ricardo Vasconcellos. O libertino; o rei da sacanagem.

Ultrapassando LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora