Felipe
É ano novo. Como em todos os anos - exceto pelo fato de termos descoberto que eu e Daniela temos o mesmo pai, que agora ela carrega meus sobrinhos dentro da barriga, e que a Suzana não faz mais parte dessa família - estamos reunidos na velha casa da minha avó, que ficou mais do que feliz com a notícia de que Daniela tem seu sangue, e que há dois bisnetos a caminho. Ao menos agora Dona Rita de Cássia desvia o foco da minha vida e para de me cobrar crianças remelentas para sustentar. Essa realmente não é a minha praia.
Daniela já fazia parte da minha família paterna há muito tempo, e ter o sangue dos Menezes correndo nas veias não mudou praticamente nada, exceto que meu pai deixou claro que faz questão de fazer o reconhecimento de paternidade e juntar o nosso sobrenome. Nada mais justo. E mais bonito, também. O nome da minha irmã ficará igual o meu: Daniela Fernandes de Menezes.
Minha mãe se juntou a nós, esse ano. Nenhum dos dois diz nada, mas tenho certeza de que os velhos estão se entendendo. Se vai dar em alguma coisa, eu não sei, mas não posso negar que, como filho, torço para que eles voltem a ser um casal. Sinto que assim, nossa família ficará ainda mais completa.
Todos estão em clima de festa, alegres, com suas taças nas mãos, com certeza planejando, mentalmente, coisas para o ano que está por vir. A maioria de roupa branca, seguindo a velha tradição do dia trinta e um de dezembro. Algumas mulheres devem estar usando calcinhas de diferentes cores, cada uma delas acreditando em suas superstições: dinheiro, paixão, esperança. Tudo quase no lugar, se não estivesse faltando o puto do Ricardo, aqui.
Se ele não está com a família de... como Daniela se referiu? Narcisistas, talvez? Não me lembro. Se ele não está com os pais e o Gui, em Curitiba, o que está fazendo agora, faltando apenas trinta minutos para meia noite?
Embora minha irmã esteja deslumbrante dentro de um vestido longo dourado que ressalta suas curvas, incluindo sua barriga pouco protuberante, a tristeza que seus olhos emitem é evidente.
Quando ela apareceu em minha porta, os olhos iguais aos meus, chorosos, o nariz vermelho, uma mala enorme à tiracolo, eu quis socar o Ricardo uma outra vez. Mas, diferente do que pensei, quem colocou um ponto final no relacionamento deles foi a própria Daniela.
Eu não queria lidar com a merda deles. Já meti o bedelho pra caralho nessa história, e tudo me dizia para recuar.
Mas então, em meio a soluços quase desesperados e palavras de difícil compreensão, Daniela abriu o jogo e pediu ajuda.
A primeira coisa que começara a tirar seu sono fora um torpedo anônimo contendo uma foto de Ricardo almoçando em um dia qualquer da semana.
Depois, fotos impressas dos dois passeando com o Zóiudo foram enviadas ao endereço do escritório.
Daniela também recebera, via e-mail, um GIF bem sugestivo, de um revólver trabalhando incessantemente.
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Ultrapassando Limites
RomanceDaniela Fernandes é uma jovem vinda de Boa Esperança, uma cidadezinha pacata do interior do Paraná. Filha de uma mulher simples e pai desconhecido, ela vai morar com o irmão - cujo vínculo sanguíneo é restrito apenas pela parte da mãe - em busca de...