Capítulo Vinte e Oito - Daniela Fernandes

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Daniela

– VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE ESCONDER ISSO DE MIM! – Ricardo explode, passando as mãos pelos cabelos, bagunçando-os.

Deus... como eu sinto saudades de afundar meus dedos neles. Mas não posso ser fraca. Não agora, a essa altura do campeonato.

Estamos no quarto de Dona Rita de Cássia – mãe do Augusto, minha avó –, que, gentilmente, cedeu o cômodo para que tivéssemos privacidade. A velha e intuitiva senhora percebeu que precisávamos conversar, ou explodiríamos diante de toda a família Menezes.

– NÃO GRITE COMIGO! – Respondo, furiosa. Será que ele não entende que fiz isso para seu próprio bem?

– VOCÊ AINDA NÃO ME OUVIU GRITAR! – Deus... Acho que nunca o vi tão enraivecido.

– EU SÓ ESTAVA TENTANDO TE PROTEGER! – Defendo-me, porque é a mais pura verdade.

ME PROTEGER? VOCÊ ESTÁ SE OUVINDO? QUEM ESTÁ GRÁVIDA E PRECISA DE PROTEÇÃO AQUI É VOCÊ, DANIELA!

– Mas eu pensei que...

– Eu sei o que você pensou, mas isso não me deixa menos furioso e puto da vida com você! Eu não quero nem ouvir os seus argumentos, Daniela. Você volta para o apartamento ainda hoje! Vou acompanhar toda a sua gravidez e garantir que vocês terão tudo o que precisa. – Seu tom não deixa dúvidas de que essa é uma questão indiscutível.

– Ricardo, você não está sendo racional! Nós não podemos ficar juntos enquanto tem um louco lá fora querendo fazer mal a todos que eu amo!

– Nós não estamos juntos.– Ele faz uma pausa dolorosa e torturante.– Você é a mãe dos meus filhos, e eu tenho o direito de acompanhar a gestação. Mas é só. Não temos nenhuma outra ligação além dessa. – Seu tom, mais uma vez, é implacável. É como se eu estivesse diante um advogado qualquer, cujo está exercendo sua profissão de maneira algente, e não do homem que eu amo, que embora taciturno, sabia muito bem demonstrar seus sentimentos por mim antes de eu juntar minhas trouxas e sair de casa.

À medida que minha mente processa as palavras dele, meu queixo cai gradativamente. Não consigo acreditar no que acabei de ouvir. Ainda que eu soubesse que minhas atitudes podiam gerar consequências graves, bem lá no fundo, eu pensei que quando Ricardo soubesse de toda a verdade, as coisas ficariam bem entre nós. Pensei que ele seria capaz de compreender o tamanho medo que estou sentindo, e perdoaria o fato de eu tê-lo abandonado, ainda que por um motivo justo.

Eu sei que o fato de eu estar me sentido uma cretina pela crueldade que fiz com ele não ameniza a minha situação. Mas, poxa vida! Eu só queria mantê-lo longe de toda essa merda!

– Eu pensei que quando você soubesse da verdade, tudo ficaria bem. Eu só estava com medo, Rick. Só a ideia de algo ruim acontecer com você... – não consigo terminar a frase. Apenas engulo a vontade de chorar.

Ele pressiona os lábios numa linha fina e assente com um movimento de cabeça. Sua mandíbula está tão contraída que dá para sentir de longe o quão bravo está comigo.

– Eu entendo, mas o mínimo que eu esperava de você era lealdade. Você tinha que ter compartilhado comigo um problema desse tamanho. Acha justo me deixar no escuro quando você está correndo risco? – Ricardo balança a cabeça negativamente. – Não tenho mais estrutura pra lidar com você, Daniela. Aguentei uma merda atrás da outra sem reclamar, sempre procurando ser compreensivo e entender os seus traumas. E então você transformou meu pior pesadelo, que era ver você indo embora, em realidade. Você conseguiu me quebrar de uma vez por todas.

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