Ricardo
Daniela foi dormir em sua cama, mas não fui eu quem a levou. Rafael não permitiu quando fiz menção de pegá-la nos braços, dormindo pesado demais, depois de ingerir algumas garrafas de cerveja. Apesar do tom brincalhão do meu amigo, tenho total consciência de que no fundo, ele sabe de minhas verdadeiras intenções para com a protegida. O que ele não sabe, é que eu jamais tentaria alguma coisa com ela desacordada pelo álcool, dentro de seu quarto antigo, quase infantil.
Felipe, Sandra e a pipoca, não voltaram para a sala, ontem à noite. E sabe deus que horas essa garota foi para o quarto da Daniela.
É sábado, penúltimo dia em Boa Esperança. Estou deitado no colchão jogado no chão, na sala de TV, onde me acomodei com Guilherme e Levi desde que chegamos. Não sei se hoje irei interpretar o papel do noivo superprotetor, mas de um jeito esquisito, sinto-me ansioso para começar o dia. Se não for ansiedade, não sei o que é, já que ainda são cinco e meia da manhã e estou acordado.
Levanto da minha cama improvisada, pulo os corpos do meu irmão e Levi, e, pé ante pé, sigo pelo corredor até encontrar a porta que quero, agradecendo piamente por Gui ter um sono pesado e Levi estar cansado demais para perceber minha fuga.
Minhas mãos suam, meu coração bate freneticamente dentro do peito a ponto de eu achar possível enfartar, mas não recuo.
Com cuidado e o silêncio de um animal traiçoeiro, abro a porta do quarto dela e espio pela fresta minúscula. Há só uma pessoa dentro do cômodo, e esta, é Daniela, já que a cama embutida de Sandra Cristina está intocada.
– Você transando feito coelho e eu aqui, de bolas roxas, seu filho da puta. –
Sussurro, xingando Felipe ao ver a cama preparada por Rosângela, intacta.Tranco a porta do quarto para garantir e, sem pensar muito nas consequências, me enfio debaixo do edredom, junto com ela. Daniela se mexe um pouco e ao pegar em sua cintura, percebo que está só de calcinha e camiseta.
Será que o Rafael teve a coragem de despi-la para dormir?
Que canalha!
Safado!
Hipócrita de uma figa.
– Ai, Deus, o que você tá fazendo aqui? – Senta na cama e tapa a boca, como se tivesse falado alto demais.
– Shhh! São quase seis da manhã, tá todo mundo dormindo. – Respondo e avanço para beijá-la, mas ela me empurra.
– Ricardo, tô com um bafo de leão, que nojo! – Reclama e eu rio um pouco de seu constrangimento.
– Meu pau não sente cheiro, então não se preocupa com isso, feiticeira.
Agarro sua nuca, e, com os dedos enfiados em seus cabelos enormes e emaranhados, puxo-a para mim, rolando a língua para dentro de sua boca sem frescura.
Ela ri baixinho e me empurra de novo, quando o beijo termina.
– Babaca. Sai daqui, antes que minha mãe acorde. – Seu tom agora é mais ameno, já que descobriu que só estamos nós dois acordados.
– Não, a gente fez um acordo e não aceito que volte atrás, sem ao menos tentar uma vez. – Digo, categórico, com um puta medo de ela falar que se arrependeu de ter dito "sim".
– Você não tá pensando que vamos fazer isso aqui, né? – Frisa o "aqui".
– Qual é o problema? Tem lugar certo pra foder agora, porra?
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Ultrapassando Limites
RomanceDaniela Fernandes é uma jovem vinda de Boa Esperança, uma cidadezinha pacata do interior do Paraná. Filha de uma mulher simples e pai desconhecido, ela vai morar com o irmão - cujo vínculo sanguíneo é restrito apenas pela parte da mãe - em busca de...