Capítulo Vinte e Seis - Ricardo Vasconcellos

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Ricardo

Embora eu não estivesse admitindo, meu dia foi uma verdadeira tortura ao pensar que, nem mesmo o mela cueca do Guilherme, havia se lembrado da porra da data de hoje. Mas eu deveria saber que a Daniela, minha Feiticeira sexy e persuasiva, estava aprontando alguma coisa.

Ver as pessoas que se tornaram a minha família desde que cheguei em São Paulo, reunidos para comemorar o meu aniversário, ostentando sorrisos em minha direção, e minha mulher segurando um bolo com velas que representam minha idade, cantando parabéns junto com os demais, com a expectativa explícita em seu olhar, não tem preço. Não há nada no mundo que pague sentir-se querido por alguém.

Embora Daniela esteja sorrindo, seus olhos hoje verdes oscilam entre mim e o Guilherme, como se temesse algo que eu ainda não sei.

Mas, porra, eu feliz pra caralho, e se me dissessem que eu estaria nessa situação há algum tempo atrás, tenho certeza que eu deixaria escapar uma sonora gargalhada de escárnio.

Quando pouso meus olhos no canto da sala e, enfim, noto meu progenitor e a oniomaníaca da minha mãe, ali, parados, esforçando-se para parecer simpáticos, é que eu entendo o comportamento da Feiticeira.

Só consigo pensar que minha garota é incrível, já que passara por cima dos problemas que tivera com meus pais para me fazer feliz no dia do meu aniversário. Entretanto, a carranca que se forma em minha expressão é inevitável, deixando explícita a preocupação que me arremete ao não ter estado presente no encontro desses dois com a Daniela mais cedo, onde pode ter acontecido alguma coisa que a tenha deixado magoada.

E se eles a ofenderam? E se deixaram-na nervosa ou aborrecida o suficiente a ponto de fazer mal ao Serumaninho? Eu juro que enxoto os dois do meu apartamento se algo similar a isso tiver acontecido.

Há alguns dias, quando liguei no celular da Marisa para manter ela e Norberto a par das mudanças que minha vida está sofrendo, eu estava apenas seguindo o conselho de Daniela e prezando pela minha consciência. Parece que ambos entenderam errado, no entanto. Minha ligação não fora um convite de "bem-vindos de volta à minha vida" depois de vinte e nove anos de ausência. Deve ter havido um grande erro de interpretação, da parte deles.

– Feliz aniversário, Amor. – Ela entrega o bolo para o Guilherme, ficando com as mãos livres para me abraçar. Aperto-a em meus braços e fecho os olhos, inalando o aroma gostoso que emana de seus cabelos macios.

– Obrigado, Feiticeira. Obrigado. Você é incrível. – Digo baixinho, somente para que ela escute.

– Eu sei. Você merece.

– Você está bem? – Sussurro ainda mais baixo, referindo-me à presença dos velhos.

Huhum.

– Tem certeza? Porque se eles...

– Ô casal, vamos parar com isso? Vocês estão em público. – Hugo solta uma gracinha para nos interromper e Daniela desvencilha-se cedo demais, acariciando meu queixo e sorrindo em seguida, como para me confortar.

– Parabéns, cara. sabe que eu te amo, né? – Gui abraça-me rapidamente e dá tapinhas em minhas costas, em um típico cumprimento masculino.

– Para com essa viadagem, pirralho. – Bagunço seus cabelos loiros.

– Cuidado pra não chorar, ou minhas dúvidas sobre sua masculinidade não existirão mais. – Alerta o Lipe, sendo o próximo a me dar os cumprimentos. – Vê se vira homem agora, meu velho. E cuida da minha irmã.

– Chorar é o caralho. – Digo, sabendo que esse bolo que se formou em minha garganta é apenas uma irritação passageira.– Eu já estou cuidando. Admita que você a perdeu pra mim, seu merda.

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