Prólogo.

1.5K 62 8
                                    

O que eu sinto por dentro pode ser considerado um defeito, pode ser mal visto pelas pessoas próximas a mim, mas serei sincero: Não se importar é o melhor remédio contra o sofrimento. E eu tenho motivos para sofrer, mas não sofro, exatamente pois... NÃO ME IMPORTO!

Isso começa a ser considerado um problema quando o advogado do meu pai me liga, de madrugada, e me diz a seguinte frase:

- Joseph, seu pai e sua madrasta faleceram. Você precisa ser forte e voltar para Ohio imediatamente. -e desligou o telefone-

Sim, o advogado do meu pai interrompeu minha transa para tocar essa bomba por telefone. Eu simplesmente me desvencilhei da mulher que no momento não me recordava o nome e vesti minha roupa, saindo do quarto e ligando para o aeroporto, comprando uma passagem.

Sabe a parte de ser considerado um problema não me importar? Então, eu não estou me importando com a morte do meu próprio pai.

- Como assim, Joe? -ouvi Jack murmurar e bufei, entrando no carro-

- Eu não sei. -dei de ombros- O advogado do meu pai me ligou e falou isso. -eu falei e meu amigo começou a dirigir em direção ao prédio onde morávamos-

- Cara, liga para sua irmã. -Jack falou e eu o olhei, confuso-

- Maya tem sete anos, idiota. Ela nem deve ter celular. -eu resmunguei e passei a mão pelo rosto-

- Você... Você não está assustado? Preocupado? -ele perguntou e eu respirei fundo-

- Estou confuso. Nada está fazendo sentido, Jack. -eu murmurei e ele me olhou como se eu fosse uma aberração-

- Se tivessem me ligado e falado o que falaram para você, eu teria desmaiado, Joe! -ele falou e eu dei de ombros-

- Bom, eu não sou assim. -eu falei e ele balançou a cabeça-

Jack estacionou a garagem do prédio e eu fui para meu apartamento, me despedindo de Jack que foi para o dele. Quando parei sozinho em casa, fiquei sem saber o que fazer. Depois de minutos olhando para a parede, descobri que tinha medo de ligar para o advogado e perguntar o que estava acontecendo. Quando me dei conta disso, peguei o celular no bolso da calça e liguei para o mesmo número que havia me ligado.

- Joshua. -eu ouvi a voz do advogado e bufei. Nunca gostei dele-

- Você pode me explicar que porra está acontecendo? -eu perguntei sem paciência e ouvi seu suspiro-

- Joseph. -ele murmurou e eu fiz uma careta por ver que ele estava com pena-

- Fala. -eu resmunguei e esperei-

- Seu pai e Clarice sofreram um acidente de carro. -ele murmurou e eu fechei meu olhos, jogando minha cabeça para trás e encostando nas costas do sofá-

- Porra. -eu sussurrei e respirei fundo-

- Eles... Eles morreram na hora. -ele falou e eu suspirei-

- O que eu tenho que fazer? -eu perguntei-

- Você tem que vir para Ohio, Joe. -ele falou- Eu estou cuidando de tudo em relação ao enterro e o resto, mas Maya.. Maya ainda não sabe. E eu não tenho coragem de lhe contar. -ele falou e eu passei a mão pelo rosto-

- Meu voo sai em duas horas. Ao amanhecer já estarei chegando. -eu falei- Já ligou para minha avó? -eu perguntei e houve uma pausa-

- Avisei seu avô. Ele vai contar para ela. -ele falou e eu suspirei-

- Isso é uma merda, cara. -eu murmurei e me levantei, meio desnorteado-

- Sei que não tinham uma boa relação, Joe. Mas isso é passado. Sua família precisa de você.

- Eu não tenho família. -retruquei no mesmo instante-

- Maya é sua família. -ele falou e eu balancei a cabeça-

Ter uma meia-irmã de sete anos era algo que eu, infelizmente, esquecia as vezes. A garota é linda, e as vezes eu vejo algumas fotos dela que Clarice postava nas redes sociais, mas eu sei que ela não sente minha falta. Tudo o que Maya menos precisa é de um irmão problemático e amargurado com a vida. Ela é doce e eu estragaria isso.

- A garota merece coisa melhor. -eu murmurei e Joshua bufou-

- Pare de agir como um adolescente amargurado e vá arrumar suas malas. -ele falou e desligou-

Respirei fundo e fiz o que aquele babaca sugeriu. Em uma hora já estava no aeroporto, pensando em tudo, menos na morte do meu pai. Já havia perdido minha mãe, quando era muito pequeno. Com ela sim eu me importava. Tinha dez anos quando ela faleceu e eu ainda não superei. Acho que nunca superaria. Mas meu pai... Que Deus o tenha, mas já estava acostumado a viver sem ele.

Posso agir como um "adolescente amargurado", mas só eu sei o quão podre a minha vida pode ser. Como já disse, Maya não precisa de mim. Só sinto por ela, ela não merece isso. Bom, eu também não merecia.

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora