Capítulo setenta.

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Ter Maya de volta em casa era algo que mexia com o meu lado emocional. Lado esse que eu tenho explorado nos últimos tempos, desde que comecei a terapia. O orgulho dificultava, mas eu devia admitir que me sentia uma pessoa melhor.

Depois que todos foram embora, eu e Maya ficamos vendo televisão até tarde. Era ótimo ouvir sua risada alta, enquanto ela estava muito bem aconchegada no meu braço. As vezes, com ela quietinha, eu ficava a observando, apenas para realmente acreditar que ela estava ali. Era difícil admitir que eu era absurdamente dependente de Maya, mas agora era impossível negar. Como já disse antes, Maya trouxe luz para minha vida, enquanto eu já havia me acostumado a andar no escuro.

- Joe... –ela me chamou baixinho e eu baixei meu rosto para olha-la- Eu tô com sono. –ela murmurou e eu sorri-

- Vamos dormir então. –falei e ela assentiu-

- Eu ainda tenho um quarto aqui? –ela perguntou ficando de pé e eu sorri, observando minha camiseta nela, como uma enorme camisola-

- Claro, né, Maya. Esse apartamento é seu também. –eu falei e ela sorriu- Vamos escovar os dentes. –eu falei e ela saiu saltitando na minha frente-

Por eu ter um banheiro no quarto, o banheiro do corredor era inteiramente de Maya. Quando ela foi embora, eu me neguei a mudar uma tolha de lugar sequer. A banheira era cheia de brinquedos de borracha, as tolhas roxas ainda estavam espalhadas pelos cantos e a escadinha na frente da pia ainda ocupava seu espaço. Maya soltou um suspiro adorável quando entrou no banheiro, e eu soube que ela realmente sentia falta daquilo. Ela subiu na escadinha e pegou sua escova de dente e sua pasta. Eu me encostei no batente da porta e a observei escovar os dentes enquanto cantarolava uma musiquinha. E só conseguia me perguntar como aguentei ficar dois meses longe da minha irmã. E sinto meu peito apertar só de imaginar que depois de amanhã à tarde, ficarei mais dois meses sem vê-la.

- Pronto. –ela falou secando a boca com uma toalha e pulando da escadinha-

Logo estávamos na sua cama. Ela estava coberta por um edredom fofinho cor de rosa e eu estava em cima do edredom, encolhido já que a cama era minúscula. Ambos observávamos o teto, vendo as luzinhas do seu abajur fazerem desenhos por lá.

- Não quero ir embora de novo, Joe. –ela sussurrou com a voz sonolenta e eu senti meu peito quase doer-

- Eu também não quero que vá, Maya. –eu sussurrei, e era como se evidenciássemos segredos-

- Eu gostava de antes, sabia? De quando eu morava aqui, e estudava com a Senhorita Lovato. –ela falou e deitou sua cabeça no meu ombro- Tá tudo diferente agora. Tipo quando o papai e a mamãe morreram e eu vim para cá. Só que não ficou bom como tinha ficado aqui. Ficou chato, ruim. –ela falou e abraçou meu braço com seus dois bracinhos-

- Logo, logo, você volta a morar aqui. –eu falei e ela suspirou-

- Promete? –ela pediu e eu fechei meus olhos-

Não podia prometer. Tudo dependia da decisão da juíza do caso, daqui dois meses, mas eu também não podia acabar com todas as esperanças que Maya depositava nisso. Esperança essa que eu compartilhava com ela.

- Prometo, Maya. –eu falei e ela assentiu-

- Boa noite, Joe. –ela sussurrou e eu soltei um suspiro sôfrego-

- Boa noite, meu amor. –eu falei e fechei meus olhos também-

Naquela noite, eu realmente dormi. Eu realmente descansei, aproveitei, e quando eu acordei, estava renovado. Claro que uma parte de mim estava se preparando para a despedida, mas eu precisava aproveitar o dia inteiro com ela, pois seu voo era só no fim da tarde.

E foi isso que fizemos. Fomos na sorveteria, no parque, na biblioteca, no cinema e eu só conseguia pensar em Maya e em como seu sorriso era lindo.

No fim da tarde, encontrei com meu avô em frente ao hotel que ele se hospedou. Ele me abraçou brevemente e entrou no meu carro, já que eu os levaria ao aeroporto. Quando chegamos lá, Maya arfou, surpresa ao ver Amy, Demi, Ethan, Abby e Jack a esperando para se despedir. Depois de muitos abraços, carinhos e de controlar o choro, todos nos deram espaço para que eu me despedisse dela. Meu avô também se afastou, sabendo que aquele momento era difícil para ambos.

Maya, entendendo o que estava prestes a acontecer, respirou tremulamente, e eu me sentei no chão, para ficar quase de sua altura. Ela pousou as mãos nos meus ombros e eu ajeitei o gorro que ela tinha na cabeça.

- Só daqui dois meses? –ela perguntou com o cenho levemente franzido-

- Só daqui dois meses, Maya. –falei e ela assentiu-

- A gente consegue, né? –ela perguntou e eu fechei os olhos-

- A gente consegue. –murmurei, mesmo sabendo que eu definitivamente não conseguiria-

Ouvi a ultima chamada para o voo dela e senti que aquela parte de mim que estava se preparando para a despedida ainda não pronta. E tudo ficou ainda mais difícil quando Maya se agarrou no meu pescoço, deixando claro que não queria soltar. Eu fechei meus olhos com força, apertando seu corpo contra o meu. Ela soluçou e eu solucei. Ficou difícil segurar o choro. O segurei pelos últimos dois meses, e, sendo sincero, não sei como consegui.

Não chorava desde criança, por medo de me sentir fraco, mas ali, desabando nos braços da minha irmã de sete anos, eu notei que fraco eu estive sem ela. Não me tornava fraco por estar chorando no meio do aeroporto, nos braços de uma criança. Muito pelo contrário, ali, chorando no meio do aeroporto, nos braços de uma criança, eu estava conseguindo a força que eu preciso para aguentar mais dois meses.

- Você tá chorando? –Maya perguntou assustada e se afastou, arregalando os olhos vermelhos ao me ver com o rosto molhado- Pensei que não chorasse. –ela sussurrou e limpou minhas lágrimas-

- Eu... –tentei falar, querendo não assusta-la, mas nada saiu e ela pareceu entender, pois assentiu e me abraçou novamente- Ah, Maya. –murmurei e ela me soltou, beijando a ponta do meu nariz e sorrindo tristemente-

- Eu volto. –ela prometeu e eu sorri entre as lágrimas, pois Maya sempre seria aquela que cuida de mim-

Depois de mais um abraço, e sorriso para meu avô, os dois partiram e eu senti que parte de mim se partia junto. Permanecia sentado no chão, observando quando os dois sumiram de vista, e me demorei ali, mesmo sabendo que tinha cinco pares de olhos em cima de mim. Estava prestes a olhar para trás e procura-los quando eu notei alguém se sentar ao meu lado.

Quando virei meu rosto e vi Demi, pensei que ficaria envergonhado por ainda estar chorando, mas ao ver seu rosto também molhado de lágrimas, eu simplesmente não senti vergonha. Respirei fundo e me inclinei para ela, deitando minha cabeça em seu ombro e sentindo ela passar o braço pelos meus ombros.

- Está tudo bem, Joe. –ela murmurou e eu solucei novamente, sentindo como se meu peito estivesse aberto e exposto- Eu sei que está doendo, mas vai passar. –ela sussurrou e eu me agarrei mais nela- Maya vai voltar para nós, Joe. Eu garanto. –ela disse e eu a olhei, limpando minhas lágrimas-

- Tá tudo uma confusão. –murmurei, estranhando minha voz fraca e embargada pelo choro-

- Eu sei... –ela disse e eu soube que estávamos falando de nós agora- Isso vai passar também. –ela falou-

Eu ergui minha mão e acariciei seu rosto antes de me inclinar e cobrir seus lábios com os meus. Fazia tempo, mas o sabor era o mesmo, e a paz que aquilo me transmitia também. Demi nem pestanejou e passou sua mão pelo meu rosto, suspirando no beijo, provavelmente sentindo a mesma paz que eu. Aquela paz no meio da confusão. A nossa paz.

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora