Capítulo seis.

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Estar nessa casa novamente estava desencadeando lembranças em mim que eu sempre luto para esquecer. Nem todas eu odeio, apenas preferia não lembrar. Algumas coisas não mudam, sabe? Como a cadeira de balanço da minha mãe na varanda de casa. Aquela mesma cadeira estava ali a tanto tempo, intocada e sem necessidade. Ainda lembro que ela sentava sempre antes do jantar, para me ver andar de bicicleta. Ainda lembro de como eu encontrava ela sentada aqui, no fim da noite, depois de alguma briga com o meu pai. Ela sempre tinha o rosto abatido, mas sempre disfarçava bem quando eu chegava perto. Lembro de depois da doença, ela passava os dias inteiros sentada ali, e só saía depois que dormia e meu pai a carregava para o quarto. Nunca entendi porque meu pai manteve essa cadeira.

Estava sentado no chão da varanda, observando a cadeira da minha mãe, enquanto fumava um cigarro, quando ouvi o barulho de carro. Vi quando o carro parou na calçada de casa e meu avô materno, Bob, desceu do carro.

Eu franzi o cenho, mas permaneci sentado, vendo-o se aproximar. Ele subiu os degraus que davam para a varanda e sorriu ao me ver, balançando a cabeça em reprovação ao ver o cigarro.

- Oi, vô. –eu murmurei e ele bufou, sentando ao meu lado no chão e batendo no meu ombro-

- Como está, filho? –ele perguntou e eu sorri, revirando os olhos e pegando meu maço de cigarro, lhe oferecendo-

Meu avô negou e eu voltei a guarda-lo, suspirando altamente antes de responder. Lembro de quando meu avô descobriu que eu fumava. Eu tinha dezessete anos, e pensei que ele ia me xingar, mas ele apenas suspirou, sentou ao meu lado e pegou um cigarro, fumando junto comigo. Lembro de rir quando ele murmurou "isso vai mata-lo, filho", e ele riu também.

- Bem, eu acho. –eu dei de ombros e ri, balançando a cabeça- O que está fazendo aqui? –eu perguntei-

- Eu e sua avó estávamos em Columbus, num festival de vinho. Nós decidimos parar em um hotel, e eu a esperei dormir, e vim ver você. –ele deu de ombros- Nós queríamos ter ido ao enterro, mas... Mas preferimos não ir. –ele fez uma careta-

- Eu entendo. –eu murmurei e dei mais uma tragada em meu cigarro- Também não queria ter ido. –murmurei e ele suspirou-

- É complicado, Joe. –ele murmurou e eu assenti-Você ainda estavam brigados? –ele perguntou e eu respirei fundo-

- Sim. –respondi- Nos falamos umas duas vezes nos últimos dois anos. Mais por pressão de Clarice, que insistia que precisávamos nos acertar.

- Ela era uma boa mulher. –ele comentou e eu assenti-

- Meio fútil, mas sempre foi uma boa mãe para Maya. –dei de ombros e ele sorriu-

- E Maya? –ele perguntou e eu fiz uma careta-

- Está dormindo. –eu falei olhando brevemente para a porta-

- Como ela está lidando com tudo isso? –ele perguntou-

- Sei lá. As vezes ela se distrai, parece esquecer por alguns segundos e logo se lembra. Ela disfarça bem, mas ainda está assustada. –dei de ombros- Ela é forte. –garanti e ele sorriu-

- Você também é, Joe. –ele falou e eu revirei os olhos-

Se existe no mundo alguém que eu realmente admiro, esse alguém é o meu avô. É o homem mais forte, determinado, e compreensível que eu conheço. Nunca se abala, sempre muito calmo, muito seguro de si, confiante e confiável.

- E vovó? –eu perguntei e ele sorriu-

- Bebeu duas taças de vinho e já queria aprender a dançar Tango. –resmungou e eu ri- Ela está bem. –ele falou sorrindo com amor-

- Sinto falta dela. –murmurei e ele me olhou, sorrindo-

- E ela sente a sua. –ele garantiu e eu assenti-

Minha avó me ligava uma vez por semana, sempre perguntando tudo sobre meu emprego, minha vida, se estava me alimentando direito, se estava dormindo no horário certo, se estava namorando e quando eu iria visita-la. Sempre prometia que assim que conseguisse tempo, eu iria. Mas nunca conseguia.

Ela é um doce. Sempre sorrindo, alegre e tranquila. A alma gêmea do meu avô, mesmo eu não acreditando nessa besteira de amor. Eles eram a prova viva que isso existia.

Eu e meu avô ficamos em silencio por minutos a fio, e não era algo desagradável. Nós sempre fomos disso. De ficar quietos com nossos pensamentos, um ao lado do outro, um ali pelo outro, para quando um precisar.

- Achei uns charutos do meu pai. –comentei e ele me olhou- Quer experimentar? –eu perguntei e ele riu-

- Você é uma chaminé, garoto? –ele brincou e eu ri, me levantando-

Estendi minha mão e ele a pegou, logo tomando impulso e levantando também. Assim que ficamos em pé, eu o puxei para um abraço. Não tinha esse costume, mas apenas deixei isso de lado e o abracei. Ele logo retribuiu, batendo em minhas costas. Quando nos separamos ele riu, balançando a cabeça e passou a mão pelo meu cabelo.

-Vamos experimentar esses charutos. –ele falou e entramos na casa-    

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