Capítulo setenta e seis.

463 40 5
                                    

Narrado por Abby.

- Abby? –eu ouvi e encarei a porta do meu apartamento- Querida, Demi viajou e eu tenho sorvete e solidão para compartilhar. –sorri, pois Ethan era a rainha do drama-

- Está aberta, Ethan! –eu gritei do meu sofá e logo vi a porta ser aberta por um Ethan de pijama- Qual é o sabor do sorvete? –eu perguntei me sentando no sofá para dar espaço para ele-

- Baunilha. –ele respondeu sentando-se ao meu lado e me entregando uma colher- Posso saber por que está tão sumida e quietinha em sua bolha? –ele perguntou colocando uma porção gigante de sorvete na boca-

- Confusão. –murmurei e engoli uma porção absurda de sorvete também-

- Sobre Amy? –ele perguntou e eu suspirei assentindo- Vocês já se falaram? –ele perguntou e eu o olhei-

- Eu sinto que preciso ligar para ela, mas eu não tenho coragem. –eu disse e deitei minha cabeça em seu ombro-

- Abby, faz dois meses. –ele disse e eu o olhei- Eu sei que tudo está uma confusão, querida, mas... Faz dois meses! –ele disse e eu bufei- Na primeira semana, você passou pela fase da incredulidade, depois pela fase da negação, e agora você está na fase da enrolação. Faz dois meses, Abby. –ele disse e eu mordi o lábio inferior- Você não sente falta dela? –ele perguntou-

- Sinto. –murmurei e balancei a cabeça- Mas ela não me procurou também. –eu disse e suspirei-

Com certeza esses últimos dois meses foram os piores da minha vida. Todo santo dia eu ficava durante horas encarando meu celular, esperando uma ligação de Amy, mas não tinha nada. Eu estava doida para conversar com ela, mas não posso ligar. Não sei o que eu poderia falar se ela aceitasse ter uma conversa comigo.

- Abby, isso é mais simples do que você imagina. –Ethan comentou e eu o olhei- Sei que parece um bicho de sete cabeças, e você se sente perdida, mas... Isso é muito simples de resolver. –ele falou e eu arfei, exasperada-

- Simples? Como? –perguntei em puro desdém-

- Abby, você beijou a Amy? –Ethan perguntou e eu franzi o cenho, assentindo- Por que? –ele perguntou e eu abri a boca, procurando palavras- Eu já ouvi você explicar essa história trinta mil vezes, mas eu ainda não havia feito essa pergunta. Por que você a beijou? –ele perguntou e eu passei as mãos pelos cabelos-

- Porque... Porque me pareceu a coisa certa a se fazer. –eu respondi e ele assentiu-

- E porquê? –ele perguntou remexendo com a colher no sorvete-

- Ela havia se declarado para mim, e eu só consegui pensar em beija-la. –eu respondi e me encolhi-

- Foi uma vontade súbita? –ele perguntou e eu fechei meus olhos-

- Não. –sussurrei- Eu já olhava para ela antes, há algum tempo, pensando em como seria beijá-la. Mas era confuso, e parecia ser apenas curiosidade. –eu dei de ombros-

- Agora não parece mais? –ele perguntou-

- Não. Não era curiosidade. –respondi prontamente- Era... Era vontade. –eu falei e o olhei- Você passou por isso? –eu perguntei e ele riu-

- Querida, eu sei que sou gay desde que aprendi o que 'Gay' significa. –ele falou e eu ri- Nunca foi confuso, ou complicado. –ele deu de ombros- Você a beijaria de novo? –ele perguntou e eu corei-

- Beijaria. –disse e ele sorriu-

- Então acho que não existe mais confusão na sua cabeça. –ele falou e se levantou-

- O que? –perguntei confusa. Parecia que eu havia perdido uma parte da conversa-

- Abby, a gente não precisa de um rótulo, ok? Não interessa se você se considerava hétero até alguns meses atrás, e agora sente atração pela Amy. Você deve fazer o que sente vontade de fazer. Você é adulta, independente, livre e madura. Nada te impede de fazer o que quer. Você quer ficar com a Amy? Fique! Converse com ela, se abra com ela. Ela quer você, e você quer ela. O único obstáculo que lhe impede é o seu medo de viver. O seu medo dos julgamentos. Não deixe que os julgamentos te impeçam, ok? Viva a sua vida como você quer viver. –ele disse e beijou minha testa- Eu sempre admirei sua coragem, querida. Faça por onde, pegue esse celular e ligue para ela. Resolvam o que tem que resolver. –ele disse e saiu do meu apartamento, me deixando ali, com a cabeça latejando de tanta informação-

Olhei meu celular por alguns segundo e o apanhei, abrindo a lista de contatos e procurando o numero da Amy. Quando achei, fechei os olhos e apertei em seu nome, para ligar para ela. Sabia que se eu hesitasse por um segundo sequer, eu desistiria. Por isso nem hesitei, apenas fiz. Chamou três vezes até que ela atendesse.

- Abby? –eu ouvi e respirei fundo, balançando a cabeça-

- Oi, Jack. –eu disse e senti meus olhos arderem-

- Oi, Abby. Amy deixou o celular dela no meu escritório. –ele disse e eu ri tristemente, pois saberia que eu não teria coragem para ligar para ela novamente-

- Ok, eu... –me preparei para me despedir, mas ele me interrompeu-

- Oh, espere. Ela voltou. –ele disse e eu ouvi sua voz ao fundo-

- Quem é? –ela perguntou e ouvi a risada de Jack-

- Apenas atenda. –ele disse e ouvi Amy bufar-

- Alô? –ouvi e fechei meus olhos com força-

Coragem, Abby.

- Oi, Amy. –eu murmurei mordendo o lábio inferior-

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora