Capítulo cinquenta e um.

511 37 3
                                    

Angustia.

Era exatamente isso que eu estava sentindo enquanto observava o mar. Já era de madrugada, e eu não conseguia voltar para a casa dos meus avós. Depois de descobrir que meu avô tem câncer, eu simplesmente saí e caminhei até não poder mais ver a casa deles. Transtornado, perdido e apavorado.

Era impossível não voltar quinze anos da minha vida, quando eu descobri que minha mãe estava com câncer. Lembro que fiquei confuso quando ouvi essa palavra sair da boca do meu pai, e ele me explicou que era uma doença forte, mas que minha mãe era mais forte ainda, e a venceria. Acabou que não venceu. Acabou que eu a perdi.

Hoje, no entanto, era tudo tão mais impactante. Pois agora eu sou um adulto traumatizado com o câncer. Porque agora eu sei que o câncer é realmente uma doença forte. E eu sei que meu avô talvez não tenha força para vencê-lo. Bom, não há como saber, já que eu não sei nada sobre a doença dele. Eu só sei que dei as costas para ele quando ele se abriu comigo. Eu sou um merda de um covarde!

Senti meu celular vibrar e o peguei, vendo o nome de Amy e uma foto dela fazendo careta. Atendi e coloquei meu celular no ouvido.

- Alô? –perguntei com a voz mais rouca que o normal, me deitando na areia-

- Oi, Joe. –ela falou e eu fiz uma careta- Tudo bem? –ela perguntou e eu soube que Maya havia falado com ela-

- Maya ligou há muito tempo? –eu perguntei e ouvi seu suspiro-

- Faz cinco minutos. –ela falou e eu bufei-

- É madrugada, Amy. –eu comentei-

- Sim, por isso eu a atendi, ora. –Amy falou zangada- O que houve? Maya apenas disse que você havia sumido e que ela não conseguia dormir. –ela falou e eu senti meu peito apertar ao imaginar uma Maya aflita me esperando-

- Eu... Eu descobri que meu avô está doente. –eu falei e fechei meus olhos, pois falar em voz alta era ainda mais impactante- Ele tem a mesma doença que matou minha mãe. –eu fui mais especifico-

- Merda. –ouvi Amy falar abafado e balancei a cabeça-

- Eu apenas... Saí. –dei de ombros- Não soube lidar, entende? Não soube perguntar, não soube reagir. Só... Só saí. –eu falei-

Sabia que Amy não ia me julgar por ter sido um covarde. Ela me entendia. Ela sabia tudo sobre a minha vida. Sabia sobre a minha mãe, sobre o meu pai, sobre o quão estragado eu sou.

- Olha, eu não sei o que te falar agora, ok? Eu estou meio bêbada, e vou acabar falando algo que você não precisa ouvir. –ela falou e eu soltei uma risada leve- Volte para Maya, ela está nervosa e confusa. –ela pediu e eu suspirei-

- Ok, vou voltar. –falei e esperei para Amy falar mais alguma coisa, mas ela apenas ficou em silencio- Onde você está? –eu perguntei-

- Em casa. –ela respondeu e eu franzi o cenho-

- Sozinha? –eu perguntei-

- Sim. –ela respondeu e eu fiquei ainda mais confuso-

- Desde quando fica bêbada sozinha em casa? –eu perguntei e ela riu de leve-

- Desde quando eu não tenho vontade de sair, e prefiro ficar bêbada na segurança da minha casa. –ela respondeu e eu sorri-

- Você está bem, Amy? –eu perguntei e ela suspirou-

- É... Eu estou. –ela falou e eu soube que ela estava mentindo- Ok, hm... Volte para casa, ok? Maya precisa de você. –ela disse-

- Tá bem. Boa noite, Amy. –eu disse-

- Boa noite. –ela falou e desligou-

Eu me levantei e fiz meu caminho de volta para casa. Demorou cerca de vinte minutos, e quando eu entrei, não havia barulho nenhum. No balcão da cozinha havia um prato de comida coberto com um pano, e eu sorri sabendo que meu avô havia deixado para mim. Eu não sentia fome, por isso guardei o prato na geladeira e subi direto para o quarto que Maya estava ficando. Eu abri a porta e sorri tristemente ao vê-la na janela, já de pijama. Eram 2h00 e ela estava me esperando. Eu bati de leve na porta e ela se virou, me olhando e soltando um alto suspiro aliviado. Ela correu até mim e eu me agachei, recebendo-a em meus braços. Maya me apertou forte e eu fechei meus olhos, me sentindo amado pela primeira vez em muito tempo.

- Você sumiu. –ela falou baixinho com a cabeça deitada em meu ombro-

- Desculpe, pequena. –eu falei com a voz mais baixa ainda, e me levantei, pegando em sua mão e a levando até a cama-

Fiz ela se deitar e me deitei ao seu lado. Ela me olhou, ainda confusa, parecendo querer perguntar, mas hesitando e desistindo. Eu suspirei e comecei a lhe fazer cafuné. Ela estava com sono, isso era nítido, por isso ela apenas fechou os olhos. Segundos antes dela começar a ressonar, senti Maya pegar minha mão e a segurar forte contra a sua.

- Eu te amo, Joe. –ela falou baixinho e eu vi sua cabeça tombar levemente para o lado, me dando a certeza que ela havia dormido-

Eu sorri mais triste ainda, e beijei seus cabelos. Me ajeitei na cama ao seu lado e fechei meus olhos, esquecendo todos meus problemas e só pensando em uma última coisa antes de entrar em um sono profundo: O que eu fiz para merecer um anjo como Maya em minha vida?


Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora