Capítulo sessenta e quatro.

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Vazia. Era isso que minha vida sempre foi. Me acostumei com isso depois da morte da minha mãe. Conviver com as pessoas não era algo bom, por isso optei por uma vida vazia. Sem sentimentos, responsabilidades e consequências, esse era o meu plano. Durante quinze anos da minha vida, eu segui esse plano com sucesso, mas a partir do momento que eu decidi trazer Maya para meu apartamento, eu senti que meu plano havia falhado. Conviver com Maya durante todos os meus dias, encheu minha vida de um sentimento puro. Eu mudei, e a responsável disso tudo foi Maya Jonas. Se aquela juíza conhecesse minha vida, ela com certeza notaria que eu faria o possível e o impossível pelo bem da minha irmã. Sou irresponsável ainda, não posso negar, mas faria a vida de Maya a minha prioridade.

Faz duas horas que ela foi embora, carregando um urso de pelúcia e com sua mochila de joaninha nas costas. Meu avô carregou o resto de suas coisas, segurando a mão de uma Maya chorona. Eu apenas fiquei sentado no sofá, usando toda a minha força para não desabar na frente da minha menina. Amy, Jack e Demi estavam ali, e o silencio que se instalou no apartamento sem Maya foi arrebatador. Jack estava sentado no chão, encarando a televisão desligada. Amy estava na poltrona ao seu lado, e Demi no sofá, sentada ao meu lado. Eu queria acabar com aquele silencio, mas não ousaria abrir a boca. Não enquanto eu tivesse essa certeza de que choraria a qualquer momento. Demi e Amy se entreolhavam as vezes, como se uma pedisse a outra para começar uma conversa, mas nenhuma começava, e eu já estava me sentindo nervoso.

Me levantei de repente, assustando os três, e caminhei até a cozinha, abrindo a geladeira e pegando em uma cerveja. Quando voltei para a sala, os três olhavam para mim, confusos e receosos, mas eu ignorei e voltei a me sentar no mesmo lugar. Bebi toda a garrafa em minutos, com três olhares perturbados em cima de mim. Quando terminei, encarei a garrafa de vidro vazia por alguns segundos, sentindo minha cabeça doer com tantos pensamentos. Por fim, meu próximo movimento foi tocar a garrafa contra a televisão, fazendo os três pularem ao ver a televisão estourar junto com o vidro.

- Falem alguma coisa. –eu falei sem olha-los e Jack se levantou, saindo de perto da televisão e a desligando da tomada-

Os três se entreolharam, e eu bufei, balançando a cabeça e esperando.

- Hm... –ouvi Demi murmurar e fechei meus olhos. Sua voz estava tremula e rouca- Você está com fome? –ela perguntou e eu balancei a cabeça-

- Não. –respondi e me levantei-

Os dois sobressaltaram e eu bufei, olhando para cada um, colocando minhas mãos nos bolsos da calça.

- Vocês podem ir embora, se quiserem. –eu falei dando de ombros e voltei para a cozinha, abrindo a geladeira e pegando em outra cerveja-

Dessa vez, não voltei para a sala, e bebi sozinho na cozinha. Não ouvi eles falarem na sala, mas ouvi passos. Quando estava quase terminando minha cerveja, vi Amy entrar na cozinha, com os braços cruzados na altura do peito.

- O que vamos fazer? –ela perguntou e eu suspirei, vendo seu rosto pálido e seus olhos vermelhos-

- Bom, eu pretendo tomar um remédio para dor de cabeça. Ou vários, para ver se eu durmo por um bom tempo, e tomar um banho também. Tem alguma sugestão? –eu perguntei debochado, sentindo meus olhos arderem pelas lágrimas que eu segurava-

- Se vai tomar remédio, porque está bebendo? –ela perguntou apontando para a minha cerveja e eu sorri forçadamente, soltando a garrafa na pia- Você sabe que isso faz mal. –ela comentou e eu ri de leve-

- Ah, faz mal? –eu perguntei debochado e ela assentiu séria- Bom saber. –murmurei e dei um último gole na minha cerveja antes de tocar a garrafa na pia-

Ouvi Amy suspirar pesadamente, mas ignorei e abri uma gaveta ao lado da pia, tirando o frasco de remédio para dor de cabeça. Porém quando fui abrir o pequeno frasco, Amy o tirou da minha mão. Eu respirei fundo, sentindo a fúria tomar o lugar da minha paciência e me virei pra ela.

- Me devolve. –pedi baixinho, estendendo a mão e Amy ergueu a sobrancelha-

- Não. –ela disse e eu avancei até ela-

- Me devolve, porra! –gritei vendo-a se afastar rapidamente e a puxei pelo braço- Vá se foder, Amy. Qual é o seu problema? –eu perguntei e a soltei, vendo a marca dos meus dedos em seu braço pálido-

- O meu problema, Joseph? –ela gritou e bateu em meu peito- Meu problema é que você está agindo como se não sentisse porra nenhuma! –ela gritou e bateu novamente em meu peito- Perdemos a Maya, cara. Será que você pode se importar com isso? Ainda há esperança de recupera-la. –ela disse e começou a chorar-

- Você acha que eu não me importo? Acha realmente que eu não me importo? –eu perguntei, já aos berros e vi Demi e Jack entrarem na cozinha-

- Eu sei que se importa, Joe. Mas... –ela tentou falar, mas eu a calei-

- Cale a sua boca, então, Amy! Você não sabe de porra nenhuma! –eu gritei e ela me bateu novamente, mas eu agarrei seu pulso-

- Eu sei que se você quer sua irmã de volta, você precisa virar homem. –ela disse e se soltou, jogando o frasco para mim e me dando as costas-

- Amy! –eu chamei e fui de atrás dela, mas ela já havia saído do apartamento- Porra! –gritei e chutei minha porta-

Sentei no sofá e tapei meu rosto com as mãos. Senti quando o sofá afundou um pouco do meu lado, indicando que alguém havia sentado ao meu lado e logo senti a mão delicada de Demi na minha perna. Tirei as mãos do meu rosto e procurei por Jack que estava sentado na poltrona, me encarando.

- Está tudo bem, cara. –ele murmurou e eu me encolhi, sabendo que não estava tudo bem- Não é primeira vez que vocês discutem e nem vai ser a última. –ele deu de ombros e eu respirei fundo- Quer que eu vá de atrás dela? –ele perguntou e eu assenti-

- Por favor. –eu sussurrei e ele sorriu se levantando-

- Vai tudo se acertar, irmão. Você não está sozinho. –ele disse e bateu de leve em meu ombro antes de caminhar até a porta e sair-

Assim que a porta bateu, eu peguei a mão de Demi e fechei meus olhos. Demi acariciou minha mão e eu respirei fundo, sentindo todo o meu corpo tremer.

- Fale alguma coisa. –eu sussurrei e ela respirou fundo-

- Eu vou dormir aqui hoje. –ela sussurrou e eu senti uma onda de alivio me inundar-

Nem tudo estava uma merda, afinal. 

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora