Capítulo setenta e cinco.

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No fim do dia, eu e Demi subimos para o sótão, pois ela insistia em querer conhecer parte da minha infância. Como o sol já estava prestes a se pôr, eu aceitei, e enquanto ela via minhas fotos, eu observava a linda vista que tinha da pequena janela de lá.

- Você usava óculos? –ela perguntou e riu, observando outra foto minha-

Eu sorri fracamente e me aproximei dela que estava sentada no chão do sótão, com uma caixa de fotos entre as pernas, observando cada uma das minhas fotos de criança.

- Na verdade, linda, eu ainda uso. –eu disse sentando ao lado dela- Mas só para trabalhar, e de vez em quando. –eu disse sorrindo e peguei a foto da mão dela-

- Você era adorável. –ela disse pegando em outra foto- De marinheiro, Joe! –ela falou com um olhar encantado olhando para uma foto minha com roupa de marinheiro. Eu sorri e peguei mais algumas fotos- Mas não tem fotos sua de adolescente. –ela comentou guardando as fotos que já tinha visto-

- Bom, eu nunca tirei. –dei de ombros e ela me olhou-

- Porque não? –ela perguntou e eu fiz uma careta-

- Eu não tive uma adolescência normal. –respondi e guardei mais algumas fotos- Eu ficava sempre na rua, só voltava para casa para tomar banho e dormir. Não convivi com minha família. Não há motivos para ter fotos minhas. –respondi e ela suspirou-

Pude notar a mente de Demi trabalhando arduamente para mudar de assunto, e quase sorri por isso. Ela não me cobrava respostas, nem informações sobre meu passado. Ela sabia que era um assunto difícil para mim e não queria me ver numa situação desconfortável.

- E da Maya? –ela perguntou fechando a caixa com as minhas fotos-

Eu me levantei e caminhei até o armário com várias caixas de fotos. Lembro que Clarice sempre foi muito organizada com as coisas, por isso as caixas são todas etiquetadas e organizadas em várias categorias. A maior caixa daquele armário era com certeza a caixa da Maya. Clarice pagou diversos books para minha irmã, fora os ensaios de fotos dos aniversários de Maya. Aniversário esses que eu nunca presenciei. Bom, exceto o primeiro, que eu apareci bêbado na hora de cantarem parabéns, e minha avó, Margo, me deu um tapa na cara. Sorte a minha que Maya não lembrava disso. E provavelmente não existiam fotos sobre isso.

Peguei na caixa, duas vezes maior que a minha, e coloquei no chão. Demi abriu e sorriu, vendo os diversos álbuns ali dentro. Ela pegou o primeiro, que era de Maya quando bebê. Sentei ao seu lado e sorri ao ver as fotos de Maya e seus bochechões.

- O que sua mãe teria achado dela? –Demi perguntou e eu a olhei, fechando meu sorriso-

- Demi... - balancei a cabeça e ela suspirou-

- Falar ajuda, sabia? Eu sei que dói, mas guardar o que você sente sobre a morte da sua mãe, não vai ajudar, Joe. –ela disse e sorriu fracamente-

Demi não sabia que eu fazia terapia agora. Foi algo que eu decidi guardar para mim e para meus amigos. Não queria que ela me visse como alguém vulnerável. Só que ela estava certa. Eu não falava sobre a minha mãe. Nem com Anne consegui falar.

- Qual era o nome dela? –ela perguntou e eu respire fundo, sentindo um nó na garganta-

- Denise. –respondi e ela assentiu-

Pude ver que ela notava a dificuldade que era para mim falar sobre minha mãe. Mas, mesmo assim, ela notava meu esforço.

- Ela era... Ela era professora de artes. –murmurei e ela sorriu, pegando minha mão- Ela ia começar a dar aula em uma faculdade quando descobriu o câncer. –eu falei e seu sorriso diminuiu aos poucos até sumir-

- Foi ela que te contou? –Demi perguntou e eu assenti-

- Eu fui o primeiro para quem ela contou. –eu falei e sorri fracamente- Éramos muito cumplices, sabe? Ela disse que queria que eu segurasse sua mão quando fosse contar para o meu pai. Eu acho que consegui lidar melhor que ele no início. –eu falei e só então notei que sim, eu estava realmente falando sobre aquilo, pela primeira vez na vida-

Demi encarava as fotos de Maya, mas eu sabia que sua atenção estava no que eu falava. Eu olhei para o álbum e entendi sua intenção. Ela não estava me pressionando.

- No início? –ela perguntou e eu assenti- E no fim? –ela perguntou-

- No fim, havíamos a perdido, mas cada um reagiu de um jeito. –eu disse e entrelacei meus dedos nos seus, ainda encarando as fotos de Maya- Eu lembro que me senti vazio. Depois que a enterramos, meu pai mudou. Parecia outra pessoa. –eu falei, sentindo o nó na minha garganta só aumentar- Ele... Ele passou a me desprezar. –eu falei e olhei nossas mãos- Joshua uma vez me falou que era porque eu lembrava muito ela. –eu disse e balancei a cabeça- Quando eu notei, eu estava como ele. Eu senti raiva dela. Raiva por ela ter partido, por ter nos deixado aqui. Eu a achei egoísta, e eu detestei ela, mas... Mas hoje eu sei que se ela pudesse, ela estaria aqui. –eu engoli em seco e respirei fundo- Só que... Se ela estivesse aqui, Maya não existiria. –eu falei e fechei o álbum, erguendo o rosto e encarando Demi- Respondendo a sua primeira pergunta... Minha mãe teria amado Maya à primeira vista. –eu falei e sorri tristemente- E Maya, com certeza, adoraria ela. –eu disse e guardei o álbum- Podemos mudar de assunto? –eu perguntei e ela assentiu, sorrindo suavemente-

- Eu gosto quando se abre comigo. –ela sussurrou e eu sorri-

- Vem cá. –eu falei e puxei suas pernas, fazendo-a sentar no meu colo- Notou que estamos juntos desde de manhã e eu ainda não beijei você? –eu perguntei e ela sorriu, passando seus braços pelo meu pescoço-

- Não quero que me beije no sótão, Joe. –ela falou e eu sorri, beijando seu queixo-

- Como quiser, linda. –eu falei e me levantei com ela em meus braços-

Ela riu, rodeando suas pernas na minha cintura e eu a segurei pelas coxas, começando a caminhar até a porta. Coloquei-a no chão e ela começou a descer as escadas. Eu a segui, e assim que paramos no corredor, eu a puxei novamente pela cintura e ela riu, voltando para o meu colo.

- Tem uma coisa que você não notou. –ela comentou enquanto eu beijava seu pescoço-

- O que? –perguntei lhe dando uma mordida que a fez gemer-

- Nós vamos passar uma semana juntos. –ela sussurrou e eu a olhei-

Meses atrás, se alguma mulher com quem eu estava saindo me dissesse isso, eu juro, galera, eu fugiria. Até atualmente, se estivesse saindo com outra mulher e essa mulher me dissesse isso, eu fugiria! Mas era a Demi ali nos meus braços. Com aquele sorriso doce, os olhos brilhantes e o rosto corado. Era a Demi. E a última coisa que passava pela minha cabeça era fugir.

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora