Capítulo cinquenta e dois.

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Assim que amanheceu, acordei com Maya aninhada em meus braços, encolhida e ferrada em seu sono. Eu me levantei, beijei sua testa e fiz meu caminho até meu quarto, para tomar um banho. Acabou que eu dormi com jeans e camiseta, já que quando cheguei fui direto ver Maya.

Depois de um banho demorado, onde eu me recusava a pensar no que aconteceu na noite passada, eu me troquei e desci para a cozinha, onde um ótimo cheiro de café se espalhava pela casa. Minha avó estava lá, servindo um pouco de café em uma xicara. Assim que entrei ela me olhou e suspirou aliviada. Eu me sentei no banco do balcão, sem esboçar nenhuma reação, querendo que ela fosse a primeira a falar.

Porque, afinal, eu não sabia o que falar. Não sabia se eu precisava pedir desculpa pelo meu comportamento, não sabia se o meu comportamento havia sido aceitável. Eu não sabia de nada.

- Café? –ela perguntou tímida e eu suspirei-

- Não, obrigada. –respondi e ela assentiu, tomando um gole do seu café-

- Não jantou, querido. Você precisa comer alguma coisa. –ela falou e eu assenti-

- Vó... –eu chamei e ela me olhou- Desculpa. –eu falei e ela soltou a respiração-

- Não precisa se desculpar, meu amor. –ela falou carinhosa- Quando eu descobri, eu quis fazer o que você fez.

- Fugir? –perguntei-

- Evitar. –ela respondeu e eu passei a mão pelo cabelo- Desculpa por não termos contado antes. –ela falou e eu assenti-

Eu não fiquei chateado por terem escondido isso de mim. Eu os entendia. Eles quiseram me poupar disso, já que eu já havia passado por isso.

- É muito grave? –eu perguntei e senti um aperto no peito assim que vi minha avó balançar a cabeça, olhando para o chão-

- Sim. –ela falou e tomou outro gole do café- Você quer falar sobre a doença? –ela perguntou e eu assenti- Então coma alguma coisa primeiro. –ela pediu e eu fiz uma careta- Meu amor, você está há muito tempo sem comer. –ela falou e eu bufei, me levantando e caminhando até a geladeira-

Eu peguei em uma maçã e a mordi, olhando minha avó. Ela sorriu fracamente e se levantou, pegando em minha mão livre e me puxando. Caminhamos até o escritório do meu avô, e ela se sentou na cadeira dele, pegando em alguns papeis.

- O câncer do seu avô é diferente do câncer da sua mãe. –ela falou e eu franzi o cenho-

- Não é no pulmão? –eu perguntei, sentindo minha voz falhar por ser algo tão difícil-

- É no pulmão, mas é diferente. Existem dois tipos de câncer no pulmão, o câncer de pulmão de células não pequenas, e o câncer de pulmão de células pequenas. –ela falou e eu assenti- Denise teve o câncer com as células não pequenas. Seu avô tem o outro tipo. –ela explicou e eu assenti novamente, esperando a continuação- O câncer do seu avô é mais grave. Mais... Mais rápido de se espalhar. O da sua mãe não era tão fácil de se espalhar para os outros órgãos, o do seu avô é. –ela falou e trinquei minha mandíbula-

- Não há tratamento? –eu perguntei e ela suspirou-

- Tem, mas como o médico disse que a doença já avançou muito, e o tratamento seria mais intenso, seu avô se recusou a fazer. –ela deu de ombros e eu vi seus olhos brilharem com as lágrimas que ela segurava-

- E se eu falar com ele? –eu perguntei, me sentindo uma criança perdida-

- Não há jeito, Joe. Seu avô já se decidiu. –ela falou e limpou uma lágrima que desceu-

- E a senhora não vai fazer nada? –eu perguntei nervoso e ela me olhou-

- Eu estou fazendo, querido. Estou aproveitando meu marido, e a minha felicidade, enquanto ambos têm o tempo escasso. –ela falou e sorriu tristemente- Seu avô é traumatizado, Joe. Tanto quanto você. Você perdeu sua mãe, ele perdeu a filha. Ele não tem esperanças com o tratamento. Ele viu Denise ter esperanças, e viu que de nada adiantou. –ela falou e fechou os olhos, deixando mais lágrimas escorrerem-

Eu queria chorar junto. Chorar com uma criança, do jeito que eu chorei quando minha mãe morreu. E ver minha avó chorar nesse momento, sabendo que vai perder o amor da sua vida, fica difícil segurar as lágrimas, mas eu seguro, pois eu sei que chorar não vai adiantar. Do mesmo jeito que eu sabia que chorar não ia trazer minha mãe de volta, eu sei que chorar não vai curar meu avô.

- Há quanto tempo sabem? –eu perguntei com a voz embargada-

- Seis meses. –ela respondeu e eu senti como se tivesse levado um soco-

Em Ohio, uma semana antes de levar Maya para Nova York, meu avô apareceu por lá e nós fumamos charutos juntos. Senti como se tivesse levado outro soco ao lembrar de todas as vezes que eu e meu avô dividimos carteiras de cigarros.

Fechei meus olhos com força e balancei a cabeça, sentindo minhas mãos tremerem. Abri meus olhos e vi minha avó se levantar e caminhar até mim, passando seus braços pelos meus ombros e deitando minha cabeça em seu peito. Eu a abracei fortemente, me sentindo novamente com dez anos, recebendo força de uma das mulheres mais fortes que eu conheço.

Olhei de relance meu avô parado na porta do escritório, nos olhando com os olhos vermelhos. Eu soltei minha avó e caminhei até ele, lhe abraçando fortemente. Senti meu avô tremer assim que ele me abraçou de volta, e eu só conseguia pensar que eu o abracei muito pouco nessa vida.

~


Nota:


Oi, gente!!! Tudo bom com vocês?

Vim aqui só para avisar que em breve terá mais cenas Jemi, e que os capítulos não tiveram pois, como eu disse no inicio da fic, LTL é uma fic focada na história do Joe. Claro que Jemi não deixa de ser importante, até porque é o casal principal, mas o foco da fic é realmente o Joe, e em como ele mudou depois da Maya e da Demi. 

Enfim, só queria avisar para ficarem tranquilas que Jemi não vai demorar para voltar! kkk 

Beijos, boa leitura para vocês. <3

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora