Capítulo quarenta e sete.

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Há alguns meses eu era o cara que dormia com uma mulher diferente quase todos os dias da semana. Era o cara que flertava com alguma mulher no bar, na festa, no trabalho, no prédio, no elevador, na reunião de condomínio, na rua, ou em qualquer outro lugar. Para mim, oportunidades não faltavam. Eu sabia aproveita-las. Entre um grupo de conhecidos, eu era chamado de "A lenda", pois conseguia qualquer mulher em que pusesse os olhos. Eu nem precisava me esforçar. Uma rápida troca de palavras, e eu já garantia uma bela noite de sexo. Há alguns meses...

Pois agora, nesse exato momento, eu estou caminhando pelo corredor do colégio da minha irmã com uma rosa na mão. Isso mesmo, uma rosa! Quando foi que eu deixei de ser "A Lenda" para ser o cachorrinho com o rabo entre as pernas? Nem sei mais o que é sexo. Sou uma vergonha!

Acontece que eu não pude deixar Maya no colégio de manhã, pois tive uma reunião com o dono da revista, e Amy teve que levar Maya, assim adiando minha conversa com Demi. Mas agora eu estava indo buscar minha irmã, e estava indo preparado para Demetria. Eu posso ter errado no sábado, mas, por favor, agora eu estou levando uma flor para aquela mulher! Eu deveria era entregar uma caixa com laço vermelho e minhas bolas dentro! Estava domado por uma mulher que não confia em mim! Oh, minha grande vida de merda.

Havia chegado cedo para buscar Maya, e não haviam outros responsáveis de alunos, o que era bom, pois facilitaria minha conversa com Demetria. Eu bati na porta, e esperei, controlando a vergonha que sentia por estar segurando uma flor pela segunda vez na minha vida. Sim, segunda vez, pois a primeira foi quando coloquei uma flor em cima do caixão da minha mãe. Repito: Oh, minha grande vida de merda.

Enfim, quando estava prestes a bater novamente, a porta foi aberta com uma Demetria sorridente. Claro que seu lindo sorriso sumiu assim que ela me viu, mas eu sorri mesmo assim, tentando parecer inofensivo.

- Ainda faltam dez minutos para a aula acabar. –ela falou e tentou fechar a porta, mas eu a impedi, e ergui a flor, fazendo Demi franzir o cenho- Você é ridículo, Joseph. –ela falou tentando esconder um sorriso-

O que eu posso fazer? Eu conheço minha garota. Sei que ela é fã de comédias românticas, e de coisas clichês. Sei que nesse exato momento ela está tentando com toda sua força ficar brava comigo novamente, mas está falhando, porque eu a conheço bem.

- É para você. –eu falei encostado no batente da porta, e bati levemente a rosa no nariz dela, fazendo-a abrir um sorriso, e revirar os olhos- Eu devia ter avisado antes, linda, mas eu não sei ser um bom amigo. Eu faço besteiras. –eu falei e ela pegou a flor-

- Dez minutos. –ela falou agora mais gentilmente e eu assenti-

Ela fechou a porta e eu esperei, encostado na parede. Alguns pais já apareciam e sorriam para mim, educadamente. Os dez minutos passaram rapidamente, e logo os alunos começaram a sair. Maya foi a última, com um sorriso cumplice e desconfiado. Eu me agachei para ficar da altura dela, e peguei sua mochila, ajudando-a a tirar a gravata.

- Eu vou esperar no parquinho enquanto você pede desculpa para ela, ok? –Maya sussurrou para mim e eu ri de leve-

- Ok, pequena. –eu falei, cumplice e ela sorriu animada por estar ajudando- Como ela reagiu com a flor? –eu perguntei e ela deu de ombros-

- Ela ficou vermelha... E cheirou a flor. –ela falou e eu sorri assentindo-

- Se cuida no parquinho, ok? –eu pedi e ela assentiu-

- Ok. –ela deu de ombros e saiu correndo-

Eu respirei fundo e me levantei, observando Demi acenar para um aluno na porta. Quando o aluno sumiu, ela me olhou, se encostando no batente e cruzando os braços.

- Para nossa briga, até que nós estamos levando bem a sério. –eu comentei tentando quebrar o clima, me encostando na parede ao lado dela, virado em sua direção-

- Acho que não devemos continuar tão próximos. –ela falou e eu dei um passo para trás, confuso- Não, Joe. Não fisicamente. –ela riu de leve, mas parecia triste- Acho que não devemos ser amigos. –ela explicou e eu franzi ainda mais o cenho, trincando minha mandíbula-

- Demi... –eu murmurei, mas ela me calou-

- Eu não... Não quero mais ser sua amiga. –ela falou mordendo o lábio inferior e desviando o olhar-

- Mentira! Quer sim. Você que inventou essa porra. –eu falei alterado e ela fechou os olhos, nitidamente incomodada com meu jeito de falar. Ela se virou e entrou na sala, eu a segui e fechei a porta- Demi, você está sendo tão exagerada. –eu falei e ela riu, balançando a cabeça e revirando os olhos, me olhando e cruzando os braços-

- Eu não me importo. –ela falou friamente e eu fiz uma careta. Demi não era assim- Toda vez que eu olho para você, algo dentro de mim me alerta que eu vou ser machucada. Que você vai me magoar. –ela falou e eu me encolhi-

- Eu dou minha palavra que não vou machucar você. –eu falei me aproximando, mas ela se afastou-

- Eu não consigo confiar em você, Joe. –ela falou passando as mãos pelos cabelos- Eu juro que tento. Juro que quero confiar em você, mas eu não consigo. Porque o que a gente tem não é mais amizade. Nunca foi, na verdade. Eu só estava tapando meus olhos para isso, e insistindo para mim mesma que éramos amigos e eu não sentia nada por você, mas droga, Joe, eu sinto. E não quero sentir, porque você vai me machucar. –ela despejou e eu engoli em seco- Eu não quero mais ser sua amiga. –ela repetiu e eu balancei a cabeça-

Naquele momento eu queria apenas gritar com ela e dizer que ela estava errada. Dizer que eu não a machucaria e que também sentia algo por ela. Mas se tem algo que eu não faço é implorar por algo que sei que não vou conseguir. Por isso eu simplesmente assenti, engolindo toda a frustração.

- Ok, senhorita Lovato. –eu falei amargurado, e dei as costas para a única mulher que me fez sentir o que eu estava sentindo-

Minha grande vida de merda.

Minha grande vida de merda

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