Capítulo sessenta.

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Demorei para dormir, ao contrário de Demi que dormiu rapidamente. Fiquei a observando durante quase a madrugada inteira, tentando entender o que eu sentia por ela. Queria dizer que ainda sou o cara que não se importa, e que foi só sexo, mas eu estaria mentindo rudemente se dissesse isso. Porque me importo, e definitivamente não foi só sexo. Eu saberia se tivesse sido apenas sexo, até porque, eu sempre fiz isso. Mas foi redondamente diferente com Demi. Foi como uma primeira vez. Antes, com outras mulheres, era como se eu visse tudo embaçado. Eu nunca prestei atenção no rosto dela, ou se estava bom para ela. Era algo só meu, e isso é egoísta como o inferno. Mas com Demi, eu me importei do começo ao fim, e foi incrível do começo ao fim. Me importo com ela, quero vê-la bem e comigo. Não sou o cara que namora, ou que se declara, mas hoje em dia não sou mais o cara que deixa uma pessoa ir. E não é qualquer pessoa, é Demi. É a minha pessoa.

Quando finalmente fiquei com sono, já estava amanhecendo. Eu parei de passar meus dedos nas costas nuas de Demi e me ajeitei embaixo dela, me preparando para dormir. Acordei horas depois, sozinho. Ao meu lado, na cama, o lençol estava frio, evidenciando que Demi havia me deixado há algum tempo já.

Não posso dizer que estou surpreso. Não estou. Sabia que Demi não estaria aqui quando eu acordasse. Sabia que nada mudaria entre nós. É uma droga admitir que no nosso caso, os opostos não se atraem. Somos muito diferentes, e por isso não podemos ficar juntos.

Depois de um suspiro eu decidi me levantar. Tomei um banho rápido, tentando tirar o pensamento de que Demi havia tomado banho ali mesmo, da minha cabeça. Depois de me vestir, chequei o horário e fui acordar Maya. Ela estava toda torta na cama e eu ri assim que me aproximei.

- Maya. –chamei e ela se remexeu- Maya! –chamei novamente e passei a mão pelos cabelos- Bebê, hora de acordar. –eu falei e me deitei ao seu lado, beijando sua bochecha-

- Não quero ir na aula hoje. –a ouvi murmurar e franzi o cenho-

- Porque não? –perguntei e ela se virou para mim, passando seus bracinhos pela minha cintura e deitando sua cabeça no meu ombro-

- É aniversário do papai, Joe. –ela sussurrou e eu congelei, surpreso-

Lembrava vagamente da última vez que me importei com o aniversário do meu pai. Eu devia ter uns quinze anos, e gastei toda a minha mesada para comprar um relógio para ele, e então eu dei o presente a ele e ele não deu bola. Uma semana depois nós brigamos e eu quebrei o relógio com um taco de beisebol.

- Era. –sussurrei, amargo e Maya ergueu seu rosto para me encarar- Desculpe, pequena. –murmurei e ela assentiu-

Maya parecia já saber que eu não suportava nosso pai. Ela parecia entender que o que eu sentia por ele passava longe de saudade.

- Você não precisa ir na aula hoje. –eu falei e ela suspirou, assentindo novamente- O que quer fazer? –eu perguntei e ela deu de ombros-

- Eu estou com fome. –ela murmurou, mas nem se mexeu-

- Quer panquecas? –perguntei passando os dedos por seus cabelos-

- Joe. –ela me chamou baixinho e eu inclinei meu rosto para olha-la- Você chora? –ela perguntou e eu novamente fui pego de surpresa-

- Não. –respondi e ela assentiu- Mas não há nada de errado em chorar. –eu disse e ela suspirou-

- Eu queria chorar. –ela sussurrou- Será que se eu não chorar, eu não sinto? –ela perguntou apreensiva e eu só quis abraça-la mais forte-

- Eu tenho certeza que você sente, Maya. Chore apenas quando você tiver vontade. –eu falei e beijei sua testa-

Eu sabia o que ela estava sentindo. Apesar de ter chorado muito quando perdi minha mãe, tinha momentos que eu não sabia reagir, e não chorava. Eu me sentia sufocado nesses momentos. Parecia que eu ia explodir.

- Eu nunca vi você chorar. –ela comentou e eu suspirei-

- Hoje em dia eu não sei mais fazer isso. –eu disse e ela me olhou, com o cenho franzido-

- Mas já chorou? –ela perguntou e eu fechei os olhos-

- Já. Já chorei muito. –respondi, não gostando de lembrar disso-

- Quando sua mamãe foi para o céu? –ela perguntou e eu assenti devagar-

- Eu não quero falar sobre isso, Maya. –sussurrei e ela assentiu-

- Ok. –ela falou e se levantou, suspirando e passando a mão pelo rosto- Vamos comer panquecas, então. –ela falou se levantando e me lançando um olhar cumplice-

Eu sorri devagar, ignorando o aperto em meu peito, e decidi que não ficaria chateado hoje. Ficaria grato, pois tenho um anjo comigo. Um anjo que infelizmente partilha da mesma dor que eu, e que eu vou cuidar, da mesma forma que ela cuida de mim. Isso é uma irmandade, e eu queria ter vivenciado isso antes.

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