Capítulo oitenta e um.

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Narrado por Amy.

Depois de muito enrolar, tive que acabar aceitando tomar um café com Ethan e seu ar superior. Confesso que tinha medo, pois sabia que ele iria falar de Abby, e eu sabia que Ethan não tinha muitos limites com as palavras, assim como eu. Seria uma conversa perigosa, mas mesmo assim eu fui.

Cheguei na cafeteria perto do meu trabalho e logo o encontrei. Ethan se destacava naquele local comum, com sua roupa absurdamente chique e seu nariz empinado. Quem não o conhecesse, juraria que ele é um poço de arrogância, mas só quem já conversou com ele sabe que Ethan é na verdade bem legal.

- Bom dia, Amy. –ele disse assim que eu me sentei na cadeira na sua frente-

- Bom dia, Ethan. –eu disse- Você já pediu? –perguntei-

- Não, estava esperando você. –ele disse e eu assenti-

Logo eu pedi um café e Ethan pediu um cappuccino. Esperamos nossos pedidos em um silencio desconfortável que Ethan só quebrou depois de provar de sua bebida.

- Acho que você sabe porque eu quero conversar com você. –ele falou e eu assenti, mexendo no meu café com a colher- Eu sou muito protetor com as minhas amigas, Amy. Não quero que elas sofram. Estou prestes a ter outra conversa com o Joe, só estou esperando mais um pouco para ver se ele e Demi deixam de enrolação e se resolvem de uma vez. –ele sorriu e balançou a cabeça- Temo dizer que a situação que você está com a Abby é um pouco mais complicada. –ele disse mexendo na sua taça de cappuccino- Você já teve dúvidas, Amy? –ele perguntou e eu bufei-

- Você não? –perguntei e ele sorriu-

- Não sobre quem eu sou, mas sinto que sou uma exceção. –ele disse e eu respirei fundo-

- Eu já tive duvidas, Ethan. Tive dúvidas, medo e tive um ar de negação durante toda a minha adolescência. Como se eu pudesse evitar, e ignorar o fato de que gosto de mulheres.

- E quando se aceitou? –ele perguntou parecendo realmente interessado-

- Quando minha mãe me chamou de aberração e eu notei que não havia nada de errado comigo. Ela me chamou de aberração, e eu parei para entender o porquê de estar sendo chamada daquele jeito. Veja bem, eu nunca havia feito mal a ninguém. Nunca havia batido em alguém, humilhado alguém, roubado alguém. Nunca havia usado drogas, matado aula, tirado alguma nota baixa. Eu era a filha perfeita, Ethan. Mas mesmo assim, aos olhos da minha mãe, eu era uma aberração por amar meninas. –eu disse largando meu café, me sentindo nauseada-

Meu passado foi conturbado, e eu odiava lembrar dele. Minha mãe me expulsou de casa quando eu tinha dezessete anos, depois de me encontrar com uma menina aos beijos dentro do meu carro. Eu vivia em New Jersey, com meus pais, e meu irmão cinco anos mais novo que eu. Me recusava a sentir falta de algo do meu passado, já que quando eu precisei, ninguém me ajudou. Meu passado não importa.

- Você tem sorte de ser uma exceção. –sussurrei e ele apertou minha mão-

- Eu sinto muito. –ele disse e eu assenti- Mas está certa. Eu tive sorte, Amy. –ele disse e sorriu tristemente- Minha mãe sempre lidou muito bem com isso. Eu sempre soube o que eu era, e ela também, por isso nunca foi um problema. Ela não me criou para ser hétero. Ela me criou para ser feliz. –ele deu de ombros e eu sorri, voltando a pegar meu café-

- Isso é lindo. –disse e suspirei- Sobre a Abby... –eu falei e ele me olhou, esperando- Eu não sei o que você quer que eu faça, Ethan. –eu soltei uma risada seca- Eu não posso resolver as dúvidas e outra pessoa.

- Eu sei que não, mas... Você está com uma visão muito estreita da situação. Você é apaixonada por ela, ok. Ela sempre ficou com homens, ok. Você acha que ela nunca vai corresponder o sentimento, ok. Mas Abby está com uma confusão na cabeça dela, e você é a única que pode ajuda-la. –ele disse-

- Como eu posso ajuda-la, Ethan? Eu estou nessa confusão. –eu falei e ele suspirou-

- Como você pode ajuda-la? Como amiga. –ele deu de ombros- Porque acima de tudo, Amy, você é amiga dela. Você é uma amiga que já teve as dúvidas que ela está agora. Só... Fique do lado dela, ok? –ele pediu e eu o observei-

- Nós combinamos de fingir que não aconteceu. –eu murmurei e ele balançou a cabeça-

- E ambas sabem que isso não vai durar para sempre. –ele falou revirando os olhos e se inclinou sobre a mesa, apoiando os dois cotovelos na mesma- Amy, Abby é uma das minhas melhores amigas, mas eu não posso ajuda-la. Você pode. –ele disse e eu vi meu celular vibrar na mesa, ao lado do meu braço-

Olhei o nome de Joe e recusei a ligação, sabendo que era algo do trabalho. Voltei a encarar Ethan que esperava alguma resposta de mim.

- Ninguém nunca me ajudou, Ethan. E eu consegui. Consegui me aceitar, consegui ignorar os julgamentos. –respondi-

- E foi difícil, não foi? –ele perguntou e eu desviei o olhar-

- Claro que foi. –respondi-

- Se você se importa com a Abby, poupe-a dessa dificuldade. Seja a amiga. –ele falou e olhou meu celular que voltou a vibrar- Não vai atender? –ele perguntou e eu peguei meu celular e atendi-

- Alô? –respondi e logo a voz aflita de Joe preencheu meu ouvido- O que? Los Angeles? –perguntei confusa, já que ele falava muito rápido- Sim, eu posso pega-la. Porque vai para Los Angeles? –eu perguntei e senti meu coração parar com a resposta- Oh, Joe. –eu disse colocando a mão no rosto- Eu sinto muito. –sussurrei com os olhos fechados- Sim, eu cuido dela. Fique bem, ok? Eu sinto muito mesmo, irmão. –falei e ele desligou-

Minhas mãos estavam tremulas quando eu voltei a encarar Ethan.

- O que aconteceu? –ele perguntou aflito e eu balancei a cabeça-

- O avô de Joe morreu. –respondi-

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