Capítulo oitenta e dois.

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Narrado por Joe.

- Vó? –chamei entrando em seu quarto que tinha a porta entreaberta-

Ajeitei minha camisa preta observando minha Vó Florence que usava um vestido preto e tinha os cabelos presos. Ela estava sentada na beirada da cama, segurando em suas mãos uma foto. Ela não me olhou, mas me aproximei e sentei ao seu lado. Era a foto do meu nono aniversário. Senti minhas mãos tremerem quando encarei a foto. Minha mãe sorria abertamente enquanto me abraçava, e eu ria por causa das cócegas que meu pai fazia em mim. Meu avô estava do lado da minha mãe, fazendo careta para a foto e a minha avó segurava o bolo ao lado do meu pai. Pensar que daquela foto, somente eu e minha avó estamos vivos, me dá um arrepio forte na espinha. Acabamos de perder meu avô e devo dizer que a dor no meu peito é tão forte quanto a dor de perder minha mãe. Não importa se eu não tenho mais dez anos. Posso ter a idade que for, e ainda vou sofrer como uma criança enquanto vejo a vida tirar as pessoas de mim.

- Já está pronto, querido? –ela perguntou ainda sem me olhar-

- Estou. –respondi e ela assentiu-

- Eu... –ela limpou a garganta- Eu lembro quando sua mãe me contou que estava doente. –ela comentou e acariciou o rosto da minha mãe na foto- Eu lembro de ter começado a chorar, e ela me acalmou, dizendo que tudo ficaria bem. –ela disse e eu me encolhi- Lembro de ter perguntado o que iriamos fazer, e ela sorriu e disse precisávamos organizar uma festa de aniversário para você. –ela falou e sorriu, balançando a cabeça- Denise herdou a teimosia do pai. –ela disse e acariciou o rosto do meu avô na foto-

- Vó? –chamei segurando sua mão e ela finalmente me olhou-

Minha avó parecia calma. Quando eu cheguei, ontem de noite, a encontrei na varanda, olhando o céu e agarrada em uma camisa do meu avô. A abracei por quase uma hora até que ela adormecesse nos meus braços, e então a levei para a cama. Enterramos meu avô logo quando o sol nasceu, e depois disso o velório ainda está acontecendo no andar de baixo. Agora o andar de baixo estava cheio de vizinhos, parentes distantes e pessoas que já passaram pela vida do meu avô.

- Quer descer? –perguntei e ela sorriu fracamente-

- Não sei se estou pronta. –ela sussurrou e eu acariciei sua mão-

- Eu também não estou, mas precisamos fazer isso. –eu disse e ela deitou a cabeça no meu ombro-

- Quando sua mãe morreu, eu me fiz de forte para cuidar de você, sabia? –ela disse e balançou a cabeça- E agora você está fazendo a mesma coisa por mim.

- Não estou me fazendo de forte, vó. Estou quebrado, e não estou disfarçando isso. –disse e ela se levantou, passando as mãos pelos cabelos-

- Você é forte, querido. –ela disse e passou as mãos pelo vestido- Vamos? –ela perguntou e eu assenti-

O resto da tarde passou de forma lenta e torturante. Tudo me lembrava do velório da minha mãe, que eu passei horas embaixo de uma mesa e só saí quando meu avô me chamou para darmos uma volta. Lembro que ele disse que queria ser criança para poder se esconder embaixo da mesa e eu lhe disse que ele não precisava ser criança para isso, era só comprar uma mesa mais alta. Se fechar os olhos, ainda posso ouvir sua gargalhada depois de me ouvir dizer aquilo. A primeira risada que eu ouvi depois da morte da minha mãe. Aquela gargalhada que me mostrou que em algum momento não iria mais doer tanto. Em algum momento, eu saberia seguir minha vida e guardar aquela dor, aquele aperto no peito, em algum canto não tão movimentado do meu ser.

Olhei para a minha avó e a vi sorrindo para alguma das vizinhas que conversavam com ela. Senti meu celular vibrar no bolso e o peguei, vendo que era Amy. Me levantei, caminhei até a cozinha e atendi.

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora