Capítulo cinquenta e seis.

549 41 16
                                    

(ainda narrado pela Demi)

__

Aguardava o final da aula observando a chuva que caía do lado de fora. Meus alunos já haviam terminado todos os exercícios e eu os liberei para conversar um pouco nos últimos dez minutos de aula. Sorri ao ouvir a gargalhada de algum deles, mas continuei com meu olhar na janela. A chuva parecia aumentar, e eu esperava que todos os responsáveis aparecessem no horário para pegarem minhas crianças. Não gostava do fato de que alguns alunos iam sozinhos as vezes, de ônibus. Achava perigoso. Eles são pequenos demais para uma cidade tão grande.

Pulei de susto ao ouvir o sinal dando o fim da aula, e me levantei, caminhando até a porta e a abrindo. Sorri para os vários responsáveis que estavam ali, todos com guarda-chuvas fechados nas mãos. Logo comecei a dispensar alguns alunos, dando um beijo no rosto da cada um, como eu fazia todos os dias. Não demorou até que todos os alunos já haviam ido embora. Todos, exceto um.

Quando fechei a porta e me voltei para a sala de aula, rumo a minha bolsa na mesa, é que eu notei que Maya ainda estava ali dentro, com um olhar apreensivo. Joseph não havia chegado.

- Oh. –eu murmurei e ela fez uma careta tristonha-

- Ele se esqueceu. –ela murmurou com a voz triste e eu suspirei-

- Ele deve ter se atrasado, Maya. O trânsito nesse horário é terrível. –eu disse e ela assentiu, nem um pouco convencida-

- Eu nem o vi hoje, sabia? Ele não saiu do quarto. –ela murmurou com uma careta- Se Amy não tivesse aparecido, eu nem teria vindo, Senhorita Lovato.

- Ele... Ele está triste, querida. –eu falei mordendo o lábio inferior-

- É, eu acho que sim. –ela deu de ombros, triste- E se ele não aparecer? –ela perguntou nervosa-

- Ele vai aparecer, Maya. –eu disse, nervosa também-

- Ele nunca se atrasa para me buscar. –ela falou cabisbaixa-

Eu queria falar algo para conforta-la, mas ela estava certa. Joseph nunca se atrasava para busca-la. Muito pelo contrário. Na maioria das vezes ele chegava bem cedo.

- Eu vou tentar ligar para ele. –sugeri e ela assentiu, caminhando até a janela e observando a chuva-

Peguei meu celular e liguei novamente para Joseph, mas foi direto para a caixa de mensagem. Tentei mais duas vezes e nada. Por fim, soltei um suspiro e vendo que já havia se passado vinte minutos, decidi que precisaria levar Maya para casa.

- Ok, anjo, vamos comigo. –eu disse e ela arregalou os olhos-

- A Senhorita vai me levar para casa? –ela perguntou surpresa e eu assenti-

Guardei minhas coisas e caminhei até a porta, olhando de relance para Maya que pegava sua mochila e me seguia. Saímos da sala e logo estávamos entrando no táxi que eu havia pedido. Demorou cerca de vinte minutos para chegarmos na casa de Joe, e no caminho todo eu tentei ligar para Joseph, mas só caía na caixa de mensagem. Assim que descemos do táxi, eu já estava bastante zangada com Joseph por ter esquecido de buscar a própria irmã.

Conseguimos entrar no prédio e logo eu estava apertando a campainha do apartamento dele, enquanto com minha outra mão, eu segurava a mão de Maya. Quando Joe abriu a porta, eu esperava vê-lo apressado, com as chaves do carro na mão, pronto para ir no colégio, mas o que eu encontrei foi exatamente o contrário. Joe abriu a porta devagar, usando um uma calça de moletom e uma regata branca, esfregando a mão no olho, como se tivesse acabado de acordar. Isso só fez com que minha raiva aumentasse. E olha... Eu nunca ficava com raiva!

Quando ele focou seu olhar em Maya que tinha o olhar triste e uma expressão apreensiva, ele tirou a mão do olho, parecendo notar a burrada que havia feito.

- Merda. –ele sussurrou e eu bufei, passando por ele com Maya- Que horas são? –ele perguntou fechando a porta e pegando no seu relógio de pulso, atirado na mesinha de centro- Merda. –ele voltou a falar e eu revirei os olhos-

Maya balançou a cabeça e largou sua mochila no corredor, caminhando rumo ao banheiro, mas parando antes de chegar lá.

- Espera um pouco, Senhorita Lovato. –ela pediu e eu assenti, vendo-a entrar no banheiro-

Assim que a porta do banheiro foi fechada, eu me virei para Joseph que estava encostado na porta da entrada, com a expressão culpada, me encarando.

- É assim que quer ganhar a guarda dela? Sendo um irresponsável? –eu perguntei cruzando meus braços e ele ergueu as sobrancelhas-

- Eu dormi. –ele deu de ombros, se defendendo e eu bufei-

- Como eu disse, irresponsável. –dei de ombros e ele revirou os olhos-

- Não enche, Demi. –ele resmungou e passou por mim, entrando na cozinha-

- Qual é o seu problema, Joseph? –eu perguntei furiosa e ele se virou para mim, com a mandíbula trincada-

- O meu problema? Bom, por onde posso começar? –ele perguntou debochado e eu revirei os olhos-

- Por onde pode começar, Joseph? Comece virando homem! Maya é sua irmã, sua prioridade! Cresça! –eu gritei e me virei para sair da cozinha, mas Joseph agarrou meu braço com força-

- Quem você pensa que é para entrar no meu apartamento e me falar essas coisas? –ele gritou na minha cara, vermelho de raiva e eu me encolhi-

- Eu trouxe a Maya, seu idiota! –gritei e o empurrei- A vida de ninguém é fácil, Joseph. Mas você precisa ser responsável, se quer criar a Maya. –eu sussurrei, ofegante pela discussão-

Joseph também ofegava, ainda vermelho de raiva, e eu nunca imaginei que o veria assim. Jurei que ele falaria alguma coisa, ou até gritaria novamente, mas ao invés disso ele passou por mim, saindo da cozinha. Pulei assim que ouvi a porta do seu quarto ser fechada com força, e saí da cozinha, encontrando uma Maya assustada no corredor.

- Fica comigo, senhorita Lovato. –ela sussurrou com a voz tremula e eu respirei fundo, sentando na beirada no sofá e a chamando para se sentar ao meu lado. Assim que ela o fez, eu peguei sua mão-

- Não vou a lugar algum. –murmurei e beijei sua testa, vendo-a respirar fundo para se acalmar. Por fim, fiz o mesmo, mesmo sabendo que eu demoraria a me acalmar-

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora