Capítulo sessenta e sete.

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Fazer minha vida voltar para os trilhos sem Maya por perto é um desafio que eu tento vencer todos os dias. Nem sempre venço, mas não posso parar de tentar. Não consegui falar com ela desde o dia do julgamento, provavelmente porque minha avó bloqueou as linhas da sua casa. Eu tento todos os dias, mesmo já perdendo as esperanças, me iludindo com o fato de que talvez em algum momento ela atenda.

Lembrar que minha vida funcionava muito bem antes de Maya é algo que não me conforma nem um pouco. É como se eu tivesse passado uma borracha naquela parte fria da minha vida. Eu comecei a viver mesmo com minha irmã do lado.

Não tenho saído muito, mesmo já tendo feito as pazes com a Amy, e Jack me convidando todos os dias. Eu simplesmente não tenho vontade de encarar o mundo lá fora. Tenho passado bastante tempo dentro de casa, só saio para trabalhar ou para fazer compras no mercado. Não tenho falado com Demi, pois ela anda muito ocupada na época de provas com seus alunos. Eu mando mensagem as vezes, mas fica nítido que nossa relação que nem havia começado, já esfriou.

Dois meses já se passaram desde o dia do julgamento. Faço terapia há um mês, e isso tem me ajudado bastante. Anne é uma ótima terapeuta, e já se tornou uma boa amiga. Ainda não notei nenhum progresso gritante, mas agora não é mais tão difícil lidar com minhas lembranças.

Parei de fumar. Definitivamente, dessa vez. Antes de Maya partir, eu já estava tentando parar, mas tinha recaídas. Tomei a iniciativa de parar quando soube do câncer do meu avô, mas só agora, com terapia e sem pressão, eu havia realmente conseguido. Estou começando a sentir o gosto real dos alimentos novamente, depois de dez anos, e é uma sensação boa entre todas as sensações ruins que me cobrem. Amy está tentando parar também, e estamos nisso juntos.

Falo com meu avô todos os dias por telefone. Às vezes, quando termina a ligação, eu estou feliz. Outras eu estou triste. Ele não tem melhorado, e não tem se esforçado para melhorar. Ele só está esperando que a morte venha, e não deixa ninguém na sua volta tentar impedir. Não vai demorar, e ela vai chegar, e eu sinto que vou me perder novamente, depois de tanto tempo para me achar.

Falta um mês para o aniversário de Maya, e eu sinto meu peito apertar toda vez que lembro disso. Minha menina vai fazer oito anos, e eu não vou estar do lado dela. Ok, eu nunca estive ao lado dela em seus aniversários, mas agora é diferente. Agora, eu até planejaria uma festa.

Falo com senhora Elizabeth todos os dias. Ela me pergunta se eu consegui falar com Maya, e a resposta infelizmente é sempre negativa. Ela sente falta de Maya que era sua ajudante na cozinha. As duas se davam muito bem.

Ouvi meu celular tocar e peguei o mesmo, vendo o nome de Amy no visor. Era sábado, e eu estava atirado no meu sofá, enrolado em um edredom grosso, pois estava bem frio. Atendi e me ajeitei, esperando a maluca começar a falar.

- Não quer sair comigo, com o Jack e com a Abby hoje? –ela perguntou e eu sorri, olhando para o relógio na parede-

- É 5hs da tarde, Amy. Porque já está fazendo planos para a noite? –eu perguntei e ela riu de leve-

- Ora, você me conhece. –ela disse e eu sorri-

- Não estou afim, Amy. Deixa para uma próxima. –eu disse e ouvi seu suspiro-

- Você se tornou um velho de 89 anos, cara. –ela disse e eu ri de leve-

- Eu só não quero sair. –eu disse e ouvi outro suspiro-

- Joe, quando foi a ultima vez que você transou? –ela perguntou e eu bufei-

- Hm... –eu tentei lembrar- Dois meses. –respondi e ela estalou a língua-

- Com a Demi, né? –ela perguntou-

- Sim. –respondi-

- Então não conta, querido. –ela disse e eu bufei-

- Porque não? –perguntei-

- Ora, porque quando eu digo "transa", eu me refiro àquela transa sem valor e sem importância, com uma garota bonita do bar, entende? Não com o amor da sua vida. –ela disse e eu revirei os olhos-

- Bom, então sinto em informa-la, cara amiga, que eu já nem me lembro mais. –eu disse e ela gargalhou-

- Oh, cara, o que aconteceu com as suas bolas? –ela perguntou e eu ri-

- Tchau, Amy. –eu falei e ela riu-

- Tchau, otário. –ela disse e eu desliguei-

Ainda ri de leve e me levantei, jogando o edredom para o lado do sofá, e me dirigindo para a cozinha, prestes a preparar alguma coisa quente para comer. Foi quando ouvi a campainha.

Presumi que fosse a Senhora Elizabeth, e ajeitei minha roupa antes de abrir a porta. Estava prestes a sorrir e cumprimentar minha vizinha quando me deparei com um pequeno corpo na minha frente, usando um casaco rosa pink, e um gorro branco na cabeça. Eu empedrei, sentindo todo o meu sangue parar de circular em minhas veias, e fiquei sem reação alguma por alguns segundos.

- Maya. –eu sussurrei antes de cair de joelhos e receber o melhor abraço de toda a minha vida-

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