Capítulo dois.

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Terminei de ajeitar minha gravata e sai do meu antigo quarto. Joshua havia arranjado um terno para mim em tempo recorde. Ele disse que o jeans preto e a camisa da mesma cor, não eram apropriados.

Sai do quarto e caminhei pelo corredor até o quarto de Maya. Vi pela porta entreaberta, a empregada mostrar dois vestidos pretos para Maya que ainda fungava, passando a mão pelo rosto.

- Eu não quero ir, Anne. –ela murmurou com a voz chorosa e eu me encostei no batente da porta-

- Você precisa ir, carinho. Precisa se despedir deles. –a empregada falou e eu suspirei-

Maya não merecia isso. Não merecia ter passado tão pouco tempo com eles. Pois, apesar de pais atenciosos para a menina, meu pai vivia trabalhando, e Clarice vivia no shopping.

- Mas isso é tão injusto. –ela sussurrou e voltou a chorar-

Eu adentrei o quarto e fiz sinal para a empregada sair. Ela assentiu, cabisbaixa e saiu do quarto. Me agachei em frente a Maya e passei minha mão pelos seus cabelos negros.

- Posso te contar uma história? –eu perguntei e ela assentiu, fungando- Quando minha mãe partiu, Maya, uma senhora me falou que sempre estaremos com quem a gente ama. Mesmo que não estejamos juntos no físico, eu me sinto muito próximo da minha mãe.

- Como? –ela perguntou curiosa, ainda fungando levemente, com o rostinho vermelho-

- Eu a guardei no meu coração, linda. –eu dei de ombros e ela ergueu as sobrancelhas, parecendo pensar a respeito- É difícil viver longe de quem a gente ama, mas a gente aprende a viver com isso. A gente aprende a guardar as lembranças na memória. E sempre que a saudade apertar, você pensa nessas lembranças.

- Joe? –ela chamou baixinho, como se receasse a minha presença-

- Oi? –eu perguntei e ela respirou fundo antes de murmurar-

- Promete não me deixar sozinha? –ela perguntou e eu travei-

Não sabia dizer se Maya se referia a não a deixas sozinha no enterro, ou no sentido geral do seu futuro. Essa incerteza me deixou nervoso. Não posso prometer algo que posso não cumprir. Não sei o que acontecerá com Maya. Não sei se ela vai viver com alguma irmã de Clarice, ou com nossos avós. Não posso garantir algo que talvez seja quebrado. Maya não merece isso. Ela é só uma criança que agora se encontra perdida. Sua vida é muito pequena para já sofrer uma mudança desse tamanho. E não posso também prometer um futuro para Maya, levando em conta que eu não sei nem sobre o meu futuro. Sou adulto, tenho um grande apartamento em Nova York, um emprego legal de publicitário em uma revista, e uma vida completamente independente. Minha vida não pode sofrer uma mudança desse tamanho também.

- Maya... –eu murmurei e senti Maya passar seus bracinhos pelo meu pescoço-

- Prometa, Joe... –ela pediu fungando no meu ombro-

E então eu percebi que nunca havia abraçado Maya. Nem quando ela era um bebê e eu ainda morava com ela. Eu preferia ficar na rua, fazendo besteira, do que aproveitar o tempo com minha irmãzinha. Eu nunca criei nenhum vínculo com essa menina, e agora aqui estava ela, agarrada no meu pescoço, pedindo para que eu criasse esse vínculo.

- Onde está minha neta? –eu ouvi e suspirei, vendo Maya se afastar, confusa-

Quando olhei para minha avó, na porta de Maya, com o rosto vermelho e abatido, toda a raiva que eu sentia, quase sumiu. Teria sumido completamente se ela não tivesse me olhado com desprezo e indiferença. O desprezo que eu nunca mereci. Sei que nunca fui o neto perfeito, mas continuo neto, e mereço algum mérito por isso.

- Joseph. –ela murmurou e eu soube que ela estava surpresa por me ver-

- Oi, vó. –eu murmurei e me levantei, pegando a mão de Maya-

A elegante Senhora Jonas resolveu me ignorar e olhou diretamente para Maya.

- Venha com a vovó, querida. –ela murmurou e eu baixei meu rosto para fitar Maya-

Maya retribuiu meu olhar, insegura e hesitante e eu logo entendi. A relação que ela tinha com a nossa avó era como a minha antiga relação com a mesma. Nula e falsa.

Nossa avó não sabia lidar comigo, sempre muito impaciente, muito exigente e incompreensível. Maya sentia a mesma repulsa que eu sentia por ela, e isso só me fez apertar mais a mão da minha irmã.

- Ela vai ficar comigo, vó. –eu falei e senti o alivio de Maya-

- Depois conversamos, Joseph. –ela falou e eu assenti, indiferente-

Ela não me amedronta mais.Hoje sou adulto, independente, e não me sinto mais inseguro perto dela. E sedepender de mim, Maya também não vai se sentir.    

Learn to love.[JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora