capítulo 1

235 18 9
                                    

Oii meus leitores, então esse já é o meu segundo livro que eu faço, espero que gostem. Bjss boa leitura, não se esquecem de votar...
----------------------------------------------------

- Então ainda não falou com ele?

- Hum? - Dulce Saviñon continuou a trabalhar em sua mesa de desenho, marcando traços divisores no papel com uma experiência adquirida ao longo de anos.

- De quem você está falando?

Seguiu-se um longo suspiro de censura. Ao ouvi-­lo, Dulce teve de se esforçar para não rir. Conhecia muito bem Anahí Puente, sua vizinha do andar de baixo, e sabia exatamente sobre quem ela estava falando.

- Do irresistível sr. Misterioso do 3B, Dul. Ele se mudou para cá há uma semana e ainda não trocou uma palavra com ninguém! É mistério de­mais para mim. Seu apartamento fica bem em frente ao dele e você nem tentou dizer "olá"? Pelo amor de Deus, mulher! Você precisa fazer alguma coisa!

- Tenho andado muito ocupada ultimamente. - Dulce levantou a vista e arriscou olhar para Anahí, que estava andando pelo estúdio com ar impaciente, fazendo os cabelos loiros balançarem com veemência.

- Mal notei a presença dele.

Anahí revirou os olhos, parecendo não acreditar no que estava ouvindo.

- Não me venha com essa história, Dul. Notou a presença dele, sim.

Anahí se aproximou da mesa de desenhos e in­clinou-se por cima do ombro da amiga, então tor­ceu o nariz. Nada além de algumas linhas azuis. Gostava mais quando Dulce começava a esboçar as figuras.

- Ele ainda nem pôs o sobrenome na caixa do correio. E ninguém o vê sair do prédio durante o dia. Nem mesmo a sra. Wolinsky, e olha que nin­guém escapa àquele olhar de falcão.

- Talvez ele seja um vampiro.

- Uau... - Intrigada com a idéia, Anahí aper­tou os lábios. - Sabe que essa hipótese seria mesmo excitante?

- Excitante demais - anuiu Dulce, voltando a se concentrar no desenho, enquanto Anahí reto­mava sua caminhada impaciente pelo estúdio, fa­lando sem parar.

Dulce nunca se importara em ter companhia en­quanto trabalhava. Na verdade, até gostava disso. Não era do tipo que gostava de isolamento e quie­tude. Talvez por esse motivo se sentisse tão feliz vivendo em Nova York, em um prédio de aparta­mentos cheio de vizinhos animados e, quase sem­pre, muito barulhentos.

Aquele tipo de coisa a satisfazia não apenas em nível pessoal, mas também servia de base para seu próprio trabalho.

De todos os moradores do prédio, Anahí Puente era sua vizinha preferida. Três anos antes, quando Dulce se mudara para o prédio, Anahí era uma enér­gica recém-casada que acreditava plenamente que todo mundo tinha de ser tão feliz quanto ela. E felicidade, para Anahí, era sinônimo de casamento.

Depois que se tornara mãe de Charlie, um ado­rável bebê de oito meses, Anahí passara a se em­penhar ainda mais em sua campanha casamen­teira. E Dulce sabia muito bem que era a principal "vítima" da amiga.

- Nem mesmo o viu no corredor? - Anahí quis saber.

- Ainda não.

Pensativa, Dulce pegou uma caneta e apoiou-a entre os lábios rosados e polpudos. Seus olhos ex­pressivos eram de um profundo tom de verde, se­melhante ao das águas de algumas praias privi­legiadas ao redor do mundo. Os suaves matizes amarelados, que permeavam o estonteante tom de verde das íris, sugeriam a imagem das luzes do crepúsculo sobre o mar. Seriam considerados "olhos de tigresa", não fosse o fato de viverem constante­mente iluminados por um brilho de bom humor.

- Acho que a sra. Wolinsky está é perdendo a prática. Eu o vi sair do prédio durante o dia, o que elimina a "hipótese vampiresca".

- Viu mesmo? - Anahí se aproximou dela no mesmo instante, com ar de interesse. - Quando? Onde? Por quê?

- Quando? De madrugada. Onde? Indo na di­reção leste da cidade. Por quê? Por causa de uma crise de insônia. - Decidindo entrar na brincadeira, Dulce girou a cadeira, mostrando um brilho de divertimento no olhar.

- Acordei cedo e fiquei pensando nos biscoitos que sobraram da festa da outra noite.

- Biscoitos atômicos - brincou Anahí.

- Sim. E não consegui voltar a dormir até pro­var outro deles. Já que havia levantado e estava sem sono, decidi vir até aqui trabalhar um pouco e, em certo momento, acabei indo parar diante da janela. Foi quando o vi sair. Aliás, é impossível não notá-lo. Deve ter um metro e oitenta, mais ou menos. E aqueles ombros...

As duas reviraram os olhos, imaginando como deveria ser tudo aquilo de perto.

- Bem, ele estava carregando uma espécie de mochila de ginástica e trajava jeans e camiseta pretos. Portanto, deduzi que ele estivesse saindo para o trabalho, em alguma academia. Ninguém consegue ter aqueles ombros comendo batatinhas fritas e bebendo cerveja por aí, meu bem.

- A-ha! - Anahí estalou os dedos no ar. - Você está interessada.

- Não estou morta, Anahí. Ele é lindo de morrer. E como se não bastasse isso, aquele ar misterioso e o traseiro perfeito moldado no jeans justo... - Dulce levantou as mãos no ar. - O que mais uma mulher pode fazer, senão fantasiar?

- E por que só fantasiar? Por que não bate à porta dele e lhe oferece alguns biscoitos ou algo do gênero? Dê-lhe as boas-vindas como vizinha. Quem sabe, assim, conseguirá descobrir o que ele faz lá dentro o dia inteiro. Tente descobrir se ele é solteiro, no que trabalha... Se é solteiro... E o que... - Ela se interrompeu, levantando a cabeça, em alerta. - Charlie está acordando.

- Eu não ouvi nada. - Dulce virou a cabeça, mirando o ouvido na direção da porta. Concen­trou-se, mas não ouviu nada.

- Puxa, Anahí, desde que deu à luz está com uma audição de morcego.

- Vou trocá-lo e levá-lo para um passeio. Quer vir também?

- Não, não posso. Preciso trabalhar.

- Nos veremos à noite, então. O jantar será às sete horas.

- Está bem.

Anahí foi até o quarto de Dulce, onde havia dei­xado o filho dormindo, e o pegou no colo. Acenou para a amiga, ao passar pela porta do estúdio, e saiu em seguida. Dulce sorriu consigo. Anahí podia até ser meio excêntrica, mas havia se tornado uma mãe maravilhosa.

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora