Anna MacGregor desceu a ampla escada, sorrindo com satisfação. Os cabelos quase brancos estavam penteados para trás, em um coque elegante, e os olhos castanho-escuros transmitiam um brilho de sabedoria impossível de passar despercebido. Ao se aproximar, ela abriu os braços para envolver a neta em um abraço.
- Oh, vovó... - Dulce fechou os olhos com carinho, adorando sentir o familiar perfume de lavanda da avó. - Como consegue ficar cada vez mais bonita? - disse ao se afastar.
Anna afagou o braço dela com carinho e sorriu.
- Uma mulher tem de saber manter um pouco de vaidade, menina. Mesmo se tratando de uma com a minha idade.
- Não consigo vê-la como uma mulher velha. Está sempre tão linda. Não é mesmo, Christopher?
- Sem dúvida - anuiu ele, com um sorriso.
- Ora, um elogio vindo de um lindo jovem é sempre bem-vindo, mesmo que seja por pura gentileza - gracejou Anna. Mantendo o braço em torno da cintura de Dulce, ela estendeu a mão para cumprimentar Christopher.
- Olá, Christopher. Não deve se lembrar muito bem de mim. Acho que você não tinha mais do que dezesseis anos da última vez em que o vi.
- Isso mesmo - confirmou ele, apertando a mão dela. - Mas lembro-me muito bem da senhora. Estávamos em um baile de primavera em Newport, e a senhora foi muito compreensiva comigo, quando eu a cumprimentei e disse que preferiria ter ido a outro lugar.
- Ah, então você se lembra. - Anna sorriu. - Agora fiquei mesmo lisonjeada. Venham se aquecer, meninos. Devem estar com frio depois de haverem tomado essa garoa.
- Onde estão vovô e Matthew? - Dulce quis saber.
- Ah. - Anna riu baixinho enquanto os conduzia ao aposento que a família costumava chamar de "Sala do Trono". - Daniel levou o coitado para nadar com ele na piscina. Disse que Matthew estava precisando se exercitar um pouco, e você sabe como seu avô leva a sério esse negócio de nadar diariamente. Vive dizendo que é isso que o mantém jovem.
- Tudo o mantém jovem. - Dulce riu.
A melhor palavra para definir aquele aposento era "apropriado", pensou Christopher. Uma cadeira de espaldar alto, com certeza pertencente ao velho Daniel, dominava a sala forrada por um felpudo tapete vermelho-escuro. Os móveis eram antigos, feitos de madeira maciça e trabalhada. As luzes do lustre antigo se encontravam acesas, assim como a lareira de pedra, cujo calor deixara a sala com uma temperatura extremamente agradável.
- Vamos tomar o chá da tarde. Imagino que Daniel vá insistir para acrescentarmos uísque ao chá e que usará o fato de termos visitas como desculpa para isso. Sentem-se e fiquem à vontade - acrescentou Anna, indicando as poltronas. - Se eu não o avisar que vocês estão aqui, ouvirei reclamações por semanas - explicou, com um gesto de mão.
- Sente-se a senhora, vovó - falou Dulce. - Pode deixar que eu avisarei vovô e servirei o chá.
- Oh, continua prestativa como sempre, não é, minha querida? - Anna afagou a mão da neta, enquanto se sentava. - Sempre foi. - Indicando a poltrona ao lado da dela, continuou: - Sente-se aqui, Christopher. Daniel e eu assistimos à sua peça, em Boston, há alguns meses. Achei o roteiro poderoso, contestador. Sua família deve se sentir muito orgulhosa de seu talento.
- Na verdade, acho que eles ficaram mais surpresos do que orgulhosos.
- Às vezes, essas reações levam ao mesmo resultado - disse ela, com sabedoria. - Na verdade, nunca esperamos que nossos parentes, por mais que os admiremos, demonstrem genialidade. Isso sempre nos espanta e nos leva a pensar: "Como não notei isso durante todo esse tempo?".
- A senhora conhece minha família - falou Christopher. - Então deve ter notado que abordei vários comportamentos deles na minha peça.
- Sim, eu notei. Mas, às vezes, é bom desabafar por meio da arte. Além de facilitar o processo de catarse, permite a alguém de talento, como você, criar uma bela obra artística. Sua irmã está bem?
- Sim, apesar dos filhos. - Ele riu. - Eles são o centro da vida dela.
- E quanto a você, Christopher. O trabalho é o centro" de sua vida?
- Creio que sim.
- Oh, desculpe-me. - Aborrecida consigo mesma, Anna tocou o braço dele. - Estou sendo bisbilhoteira, e geralmente deixo isso a encargo do meu marido. Estou interessada em saber mais detalhes porque me lembro muito bem da maneira como você olhava para sua irmã naquela festa, em Newport. Lembrou-me a maneira como Alan e Caine sempre olharam para Serena, e de como isso sempre pareceu aborrecê-la, como pareceu aborrecer... Jenna, é isso?
- Sim - confirmou Christopher, com um sorriso. - Ela ficava mesmo muito brava. - O sorriso logo desapareceu. - Se eu tivesse agido com mais cautela nos anos que se seguiram, ela não teria ficado magoada.
- Christopher, você não a magoou. E, na verdade, eu não pretendia fazê-lo recordar esses fatos do passado. Agora me conte no que está trabalhando, ou será que isso é segredo por enquanto? - acrescentou ela, com um sorriso gentil.
- Não, não é segredo. - Ele sorriu com charme. - É uma história de amor que se passa em Nova York. Pelo menos, é nisso que está se transformando.
- Ainda não serviu um uísque para o rapaz, Anna?
Daniel entrou na sala com passos firmes e, como sempre, sua presença logo dominou o ambiente. Os responsáveis por isso eram sua postura, seu porte elegante e aquela voz firme que se negava a enfraquecer com a idade. Os olhos muito azuis continuavam com um brilho sagaz e os cabelos completamente grisalhos lhe atribuíam um charmoso ar de sabedoria.
- Isso é maneira de receber um homem que andou nessa garoa fria e que conseguiu trazer nossa neta preferida até aqui?
- Oh, que ótimo - resmungou Matthew, vindo atrás dele. - Quando quis ter sua piscina consertada, eu era seu neto preferido.
- Bem, ela está consertada agora, não está? - falou Daniel, com uma piscadela para todos e um sorriso afetuoso para o neto.
- É muito bom revê-lo, sr. MacGregor.
Christopher ficou de pé e cruzou a sala com a mão estendida, para ir cumprimentá-lo. Mas para Daniel isso não era suficiente quando havia algum tipo de interesse de sua parte em um "pretendente em potencial". Por isso, enlaçou Christopher em um abraço que pareceu deixar o rapaz sem fôlego por um instante.
- Está com uma aparência ótima, Uckermann. Só está faltando mesmo uma boa dose de uísque escocês para pôr um pouco de cor em seu rosto.
- Terá uma gota de uísque em seu chá, Daniel, se é isso que está querendo - Anna interveio, indo buscar a bebida.
- Uma gota? - Para um homem daquela idade, Daniel ainda sabia choramingar como um bebê. - Anna...
- Duas gotas - corrigiu ela, com um sorriso que parecia querer dizer: "Estou sendo mais do que generosa, portanto, não me provoque".
- Diga-me uma coisa, Christopher, você fuma charutos?
- Não por hábito - respondeu ele.
Anna virou-se e olhou para Daniel com ar de aviso.
- Então, se eu chegar em algum lugar e o vir com um charuto entre os dedos, saberei quem o passou para você.
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...