- Desculpe-me. - Furioso consigo mesmo, Christopher ficou de pé. Dulce continuou olhando-o como se houvesse levado uma bofetada.
- Estou tendo de me esforçar para conseguir terminar esse roteiro e estou impaciente por isso. - Passou a mão pelos cabelos ao notar que ela não tivera nenhuma reação.
- Vamos lá para baixo.
- Não, eu preciso ir. - Dulce decidiu ir embora, antes que acabasse passando pela situação ridícula de chorar na frente dele.
- Preciso dar alguns telefonemas, e estou com dor de cabeça - acrescentou, massageando a têmpora.
- Acho que preciso de uma aspirina.
Ela fez menção de sair, mas parou ao sentir a mão de Christopher em seu braço. Foi então que ele notou quanto ela estava trêmula.
- Dulce, eu...
- Não estou me sentindo bem, Christopher. Vou para casa me deitar um pouco.
Desvencilhando-se dele, ela se encaminhou para a porta. Christopher se encolheu ao ouvi-la bater.
- Seu idiota - ralhou consigo mesmo.
Aborrecido, perambulou pelo aposento mantendo as mãos nos bolsos. Por fim, aproximou-se da janela e afastou as cortinas.
O sol intenso o fez estreitar o olhar. Talvez ele estivesse mesmo muito isolado do que se encontrava do outro lado daquela janela, pensou. Mas trabalhava melhor assim, sem ter de dar explicações sobre seus hábitos de trabalho para ninguém.
Ainda assim, não precisava ter magoado Dulce daquela maneira. O problema fora ela haver aparecido feito por um furacão, e no pior momento possível. Ele estava em meio a um momento de intensa concentração, com as falas e as atitudes das personagens fervilhando em sua mente.
Não havia dispensado ou ignorado Dulce. Como diabos seria possível ignorar alguém que ocupava a maior parte de seus pensamentos ao longo do dia?
Contudo, era isso que vinha tentando fazer, não era? Ignorá-la. E deliberadamente, desde aquela conversa com Daniel MacGregor, em Hyannis. No íntimo, sabia que o velho estava certo, por mais que detestasse ter de admitir isso. Sim, estava apaixonado por Dulce. Mas se continuasse tentando negar o sentimento, mantendo-o o mais de longe possível de seus pensamentos, talvez ele desaparecesse por si só.
Não queria se arriscar no amor novamente, não depois de saber com tanta precisão o que aquele sentimento era capaz de fazer a uma alma e a um coração. Não iria se permitir ficar vulnerável mais uma vez. Não poderia.
Fechou as cortinas com um gesto súbito, dizendo a si mesmo que iria superar aquilo. Logo as coisas voltariam a se equilibrar e ambos ficariam mais felizes.
De qualquer maneira, teria de encontrar um modo de se desculpar pela atitude que havia tomado nos últimos dias. Dulce não fizera nada para merecer aquilo. Desde que o conhecera, ela não havia feito outra coisa a não ser se doar inteiramente. E ele não fizera outra coisa a não ser aceitar isso.
Ciente de que não conseguiria mais trabalhar, desceu para o andar de baixo. Pensou em bater à porta do apartamento dela e se desculpar, mas, provavelmente, nesse momento era Dulce quem devia estar querendo ficar sozinha. Então daria algum tempo para ela, enquanto saía para uma caminhada.
Não havia pensado em comprar flores para ela até passar diante de uma grande floricultura. Não levaria rosas, elas eram muito formais. Margaridas também não cairiam bem para a ocasião. Embora fossem alegres, eram muito comuns. Então, decidiu-se por um belo vaso amarelo com tulipas vermelhas.
Havia sido muito rude com Dulce, mas mudaria aquela situação desagradável. Ofereceria a ela tanto quanto ela lhe oferecera, até que ambos ficassem em pé de igualdade. Assim, quando chegasse o momento da despedida, e ele chegaria, ainda restaria a chance de eles se tornarem amigos. Por outro lado, já não conseguia imaginar sua vida sem Dulce fazendo parte dela.
Passou o resto daquela tarde fora. Quando voltou para casa, no início da noite, não se sentiu tolo por estar trazendo flores. Sentiu-se aliviado. E quando Dulce abriu a porta, sentiu que aquele era o momento certo para ele estar ali, daquela maneira.
- Conseguiu descansar um pouco?
- Sim, obrigada.
- Posso lhe fazer companhia?
Dizendo isso, Christopher mostrou as flores a ela. Ao vê-las, Dulce não conseguiu disfarçar a surpresa.
- Gosta de tulipas? - perguntou ele.
- Ah... Sim, claro. São lindas - respondeu ela, aceitando o vaso e levando-o até a mesa.
- Sinto muito sobre o que aconteceu essa tarde - Christopher se desculpou.
- Oh.
Então as flores eram um pedido de desculpas, concluiu Dulce. Deixando de lado a vaga sensação de desapontamento, virou-se para ele com um meio sorriso.
- Não tem importância. É isso o que acontece quando se perturba um urso em sua caverna.
- Importa sim - insistiu ele. - E eu realmente sinto muito.
- Tudo bem.
- Só isso? Muitas mulheres fariam um homem se ajoelhar em uma situação como essa.
- Não sou do tipo que gosta de humilhar os homens. Portanto, considere-se um homem de sorte.
Christopher levou a mão dela aos lábios e beijou-lhe a palma com delicadeza.
- Sim, sou um homem de sorte.
Pela segunda vez, viu um brilho de surpresa nos olhos dela. Nunca havia sido verdadeiramente terno com ela, concluiu ele, indignado com a própria tolice. Nunca havia oferecido a Dulce um pouco mais de romance.
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...