capítulo 36

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A casa dos MacGregor se localizava em um belíssimo conjunto de colinas com vista para o mar. Tudo ali era sóbrio e mar­cante, principalmente a imponente construção de pedra. Tudo na aparência do lugar, desde suas torres semelhantes às dos castelos, até a bandeira tremulando com o símbolo do clã, parecia bradar a palavra "orgulho" aos quatro ventos.

O velho Daniel havia mandado construíra casa em seu lugar preferido: o cume de uma das colinas mais altas e com uma das mais belas vistas do mar que se poderia ter dali. E era mais do que evidente que a construção havia sido feita para durar. Como um sólido legado dos MacGregor aos descendentes do clã.

Os inúmeros canteiros de rosas, que floresce­riam com todo vigor na primavera seguinte, não amenizavam o efeito de imponência do lugar. De fato, serviam apenas para enfatizar aquela aura mágica e quase mítica.

- Pare - pediu Christopher, pousando a mão sobre o braço de Dulce. - Pare o carro.

Um sorriso se insinuou nos lábios dela. Sabia muito bem o que era ter aquela reação ao ver a casa dos MacGregor ao longe. Feliz em notar que a visão o afetara tanto quanto sempre a afetava, Dulce parou o carro com movimentos cuidadosos.

- Parece um castelo de conto de fadas, não? - disse, apoiando-se sobre o volante, enquanto ambos observavam a mansão através da leve ga­roa. - Não aqueles das versões mais românticas, mas um castelo com personalidade própria.

- Eu já o tinha visto em fotografias, mas elas nunca são como a imagem real.

- Não se trata apenas de uma mansão, mas de um lugar que transmite uma aura de genero­sidade. Sempre que a visitamos, encontramos al­guma novidade aqui e acolá. E geralmente algo que nos surpreende.

E dessa vez, não seria diferente, pensou Dulce. Só que seria ela quem levaria a surpresa até a mansão.

- Essa garoa combina com a paisagem, não? - disse a ele.

- Acho que essa paisagem fica bem em qual­quer clima.

- Tem razão - anuiu Dulce, com um sorriso. - Precisa ver esse lugar no inverno. Sempre via­jamos para cá na época do Natal. É lindo como o efeito da neve e do vento deixam-na com a apa­rência de um castelo de gelo. No ano passado, quando as rosas começaram a desabrochar e o céu estava tão azul que chegava a ofuscar a vista, meu primo, Duncan, casou-se aqui. Mas assim, em meio à garoa... - Ela sorriu com ar sonhador. - O lugar lembra uma paisagem escocesa.

- Já esteve na Escócia?

- Hum-hum. Duas vezes. E você?

- Não. Nunca estive lá.

- Pois deveria viajar até lá. Por uma questão de raízes - acrescentou ela. - Ficará surpreso com a força que você passa a sentir ao respirar o ar das Terras Altas e ao ver as lindas paisagens das Terras Baixas.

- Talvez eu viaje para lá em breve. Vou querer algumas semanas de descanso quando esse meu último roteiro estiver terminado. - Christopher olhou para ela e arqueou as sobrancelhas. - E então? Está gostando do carro?

- Bem, levando-se em conta que você só me deixou dirigi-lo por aproximadamente quarenta e cinco segundos, acho meio difícil lhe dar um pa­recer. Mas se me deixar dar uma volta mais de­morada com ele amanhã...

- Nem mesmo seu maior poder de persuasão vai me convencer a deixá-la dirigi-lo por mais tem­po do que daqui até a mansão.

Dulce deu de ombros, como que não dando im­portância ao fato. Porém, no íntimo, pensou: "É o que veremos", e partiu novamente pela estrada.

Quando chegaram, ela estacionou o carro diante da suntuosa mansão.

- Muito obrigada - agradeceu e deu um leve beijo nos lábios de Christopher, antes de lhe entregar as chaves do carro.

- Não há de quê.

- Não vamos nos preocupar com a bagagem agora, está bem? Vamos esperar primeiro essa garoa passar, depois viremos pegá-la ou manda­remos um dos empregados fazê-lo.

Dizendo isso, ela abriu a porta do carro e saiu correndo em direção à varanda coberta, onde pa­rou para sacudir os cabelos e secá-los com as mãos.

Durante algum tempo, Christopher ficou parado no carro, apenas admirando o jeito encantadoramen­te infantil de Dulce. Não se cansava de olhar aque­le belo sorriso de menina misturado ao ar sensual que se manifestava nela com naturalidade, e do qual Dulce nem parecia ter consciência. De certa maneira, esse último detalhe parecia torná-la ain­da mais sedutora.

Queria acreditar que o que estava sentindo era apenas desejo, mas, por outro lado, sabia que de­sejo puro e simples não despertava o receio de ficar longe ou de perder a outra pessoa. O mero desejo era algo mais simples de se lidar, e menos perigoso. No entanto, já que não tinha como ig­norar aquilo que estava sentindo, pelo menos ten­taria continuar negando o fato para seu próprio bem, e para o de Dulce.

Respirando fundo, saiu correndo em direção à va­randa, deixando que a garoa e o vento, a essa altura mais intensos, atingissem seu rosto e seus cabelos. Quando alcançou Dulce, não resistiu ao riso divertido que ela soltou e puxou-a para si, tomando-lhe os lábios com uma paixão quase violenta.

Por um momento, Dulce apenas agitou as mãos no ar, aturdida com a pressão do corpo másculo de Christopher junto ao seu e com urgência daqueles lábios quentes colados aos seus. Porém, não de­morou muito para se render mais uma vez àquela sedutora aura de desejo, retribuindo o beijo com a mesma intensidade.

- Christopher...

Ele ouviu o murmúrio em meio à tormenta que varria seu corpo e sua mente, feito ondas batendo contra rochas sólidas. De fato, foi somente o som da voz de Dulce que o fez despertar para a rea­lidade e se lembrar de onde eles se encontravam.

- Com sua família por perto, não poderei fazer isso por algum tempo - explicou ele, prendendo uma mecha dos cabelos dela atrás de sua orelha delicada.

Dulce sentiu um carinho todo especial naquele gesto e o sorriso que curvou seus lábios foi de puro encantamento. Já não se importava que Christopher percebesse que ela estava apaixonada por ele. Aquele sentimento era bonito e intenso de­mais para continuar sendo mantido apenas em seu coração.

- Bem, pelo menos isso exigirá que eu também me comporte. Mas sei que não vai ser fácil... - acrescentou dando um último beijo nele.

Com um sorriso, segurou-o pela mão e o puxou para dentro.

O interior da mansão, apesar de grandioso, era inusitadamente aconchegante. Pelas paredes, via-se espadas e escudos antigos polidos ao ponto de bri­lhar. Afinal, tratava-se da casa de um guerreiro. Um aroma de flores e de madeira recendia pelo ar, tornando o ambiente ainda mais agradável.

- Dulce!

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora