capítulo 13

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Voltando a adquirir o mesmo ar sonhador, Dulce pegou o lápis novamente e desenhou pequenos corações sobre o papel. Então se empolgou e co­meçou a desenhar outros maiores, esboçando o rosto de Uckermann dentro de um deles.

Sim, ele tinha traços fortes e marcantes, mas que se amenizavam quando sorria. Ela adorava fazê-lo sorrir. Aliás, fazer as pessoas sorrirem era um de seus talentos.

Ficaria mais tranqüila quando conseguisse ar­ranjar um emprego para ele. Depois providencia­ria um sofá para aquela sala vazia, mas isso não seria difícil com seus contatos. Tinha muitos ami­gos que poderiam ajudá-la a encontrar móveis prá­ticos e por um bom preço. Queria ver Uckermann instalado com mais conforto, só isso. Claro que não havia nenhum interesse de sua parte, afinal, faria isso por qualquer pessoa. Ainda mais por um vizinho maravilhoso que beijava como um deus saído diretamente do sonho de toda mulher.

Satisfeita com seus planos, cruzou as pernas sob si e voltou a se concentrar no trabalho.


Depois de deixar Charlie no quarto, dormindo feito um anjinho, Anahí desceu para o andar de baixo e abaixou o volume do aparelho de som. Então, sentindo-se como se estivesse em sua pró­pria casa, foi até a cozinha e preparou o café. Subiu a escada pouco depois, carregando uma ban­deja com duas xícaras de café e alguns biscoitos. Aquele pequeno ritual matinal era um de seus momentos preferidos do dia.

Considerava Dulce como uma irmã e por isso fazia de tudo para vê-la feliz. De fato, não se dava tão bem nem com as próprias irmãs, que só sabiam viver reclamando da vida e dos maridos.

Deixando a bandeja sobre a mesa, entregou uma xícara de café a Dulce.

- Obrigada, Anahí.

- Fez uma ótima tira esta manhã. Não acredito que Emily esteja disfarçada com um casaco e um chapéu, seguindo o sr. Misterioso por todo o dis­trito de SoHo. De onde ela tirou essa idéia?

- Você sabe que ela é uma criatura impulsiva e dramática. - Dulce provou um biscoito. Era co­mum as duas se referirem a Emily e aos outros personagens como se fossem pessoas de verdade.

- E abelhuda também. Ela simplesmente preci­sava saber.

- E quanto a você? Já descobriu alguma coisa sobre nosso sr. Misterioso?

- Sim - respondeu Dulce, com um suspiro. - O nome dele é Uckermann.

- Também ouvi dizer isso. - Instantaneamen­te alerta, Anahí apontou o dedo para a amiga.

- Ei, você suspirou!

- Não, só respirei mais fundo.

- Não, você suspirou. E por qual motivo?

- Bem, na verdade... - Dulce estava morrendo de vontade de falar sobre aquilo.

- Nós... acaba­mos saindo ontem à noite.

- Vocês saíram? Como um casal? - Anahí puxou a cadeira mais para perto da amiga no mesmo instante. - Onde? Como? Quando? Detalhes, Dul. Quero detalhes.

- Está bem, então. - Dulce virou mais a ca­deira, até ficarem uma de frente para a outra. - Você sabe que a sra. Wolinsky está sempre que­rendo que eu saia com o sobrinho dela, não é?

- Ah, de novo?! - Anahí revirou os olhos. - Será possível que ela não vê que vocês não têm nada a ver um com o outro?

O imenso carinho que Dulce sentia pela amiga foi o que a impediu de dizer que aquilo também servia para ela e Frank.


- Bem, é que a sra. Wolinsky adora o sobrinho. De qualquer modo, ela arranjou outro encontro entre nós ontem à noite, só que eu não estava com a mínima vontade de ir. Mas você terá de jurar que não vai dizer isso a ninguém.

- Exceto Chuck.

- Tudo bem. Maridos estão excluídos do voto de silêncio nesse caso. Bem, o fato é que eu disse a ela que já tinha um encontro... com Uckermann.

- Você tinha um encontro com ele?

- Não, eu só disse isso porque fiquei deses­perada. E você sabe como começo a gaguejar quando minto.

- Deveria praticar mais. - Anahí comeu outro biscoito.

- Talvez. Mas assim que acabei de dizer isso, percebi que ela iria ficar olhando pela janela para se certificar de que eu ia mesmo sair com ele, por isso tive de apelar e fazer uma espécie de acordo com Uckermann. Dei cem dólares a ele e lhe paguei um jantar.

- Você pagou a ele?! - Anahí arregalou os olhos, mas estreitou-os em seguida, com ar especulativo. - Mas isso é brilhante. Se eu houvesse tido essa idéia na época da faculdade, quando não estava namorando ninguém e nem tinha com quem sair, a história teria sido outra, minha amiga. Como se decidiu pela quantia de cem dólares?

- Achei que parecia justo. Ele não está traba­lhando regularmente, e achei que ficaria agrade­cido pelo dinheiro e pela refeição. Até que nos divertimos - acrescentou, com um sorriso. - Foi realmente muito bom. Só espaguete e boa conver­sa. Bem, na verdade, o encontro tendeu mais para o monólogo, porque Uckermann não é muito de falar.

- Uckermann - Anahí repetiu o nome devagar. - Ainda soa misterioso. Não sabe o primeiro nome dele?

- Ele não o disse em nenhum momento e nem me ocorreu perguntar. De qualquer maneira, é melhor assim. Acho que fui meio precipitada, Anahí. Ele estava parecendo relaxado, quase ami­gável, então vi o carro de Johnny e entrei em pânico. Imaginei que a sra. Wolinsky não iria me deixar em paz se eu não demonstrasse com clareza que estava interessada em outra pessoa. Então fiz outro acordo com Uckermann e ofereci a ele cin­qüenta dólares por um beijo.

Anahí apertou os lábios, antes de tomar outro gole de café.

- Deveria ter deixado claro que esse valor es­tava incluído nos cem dólares - disse ela.

- Não houve tempo - justificou Dulce. - Já havíamos definido o acordo e não havia mais tem­po para renegociar. A sra. Wolinsky estava nos espiando através da janela. Então ele me beijou bem ali, na calçada do prédio.

- Uau! - Anahí comeu outro biscoito. - E qual movimento de impacto ele usou?

- Ele me puxou de uma vez e colou meu corpo ao dele.

- Minha nossa! A puxada súbita. Oh, adoro esse movimento.

- Então fiquei lá, em meio aos braços dele e mal conseguindo me equilibrar na ponta dos pés, porque ele é alto.

- Sim, ele é bem alto - anuiu Anahí, ainda mastigando o biscoito. - E atlético também.

- Realmente atlético, minha amiga. Quero di­zer, seus músculos parecem rocha.

- Oh, Deus. - Anahí lambeu os dedos, sem des­viar os olhos da amiga. - Então você estava lá, na ponta dos pés. E depois?

- Bem, ele... se inclinou.

- Ah, meu Deus... Uma puxada súbita com inclinação! - Em sua empolgação, Anahí quase derrubou o outro biscoito que havia acabado de pegar. - Um movimento clássico. Quase nenhum homem utiliza isso hoje em dia, minha cara. Chuck fez isso em nosso sexto encontro, e foi assim que terminamos no meu apartamento, experimen­tando a comida de um fast food chinês, na cama.

- Pois Uckermann agiu como um perito no as­sunto. Então, quando eu estava sentindo a cabeça girar, ele se afastou de repente e simplesmente olhou para mim.

- Homens - disse Anahí, com ar de censura.

- E fez tudo novamente! - festejou Dulce.

- Um duplo?! Não acredito! - Anahí segurou a mão da amiga, quase dando um-pulo de alegria. - Você recebeu um duplo, Dul! Há mulheres que passam a vida inteira sem sequer saber o que é isso! Sonham com isso, claro, mas nunca passam pela emoção de experimentar a puxada súbita com inclinação seguida de beijo, olhar in­tenso e beijo.

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora