- Por que mentiu?
- Porque pensei que isso a manteria em seu próprio lugar. Porque senti que sua proximidade era um pouco perigosa demais para mim. E porque, no íntimo, parte de mim desejava que você continuasse querendo me ajudar a encontrar um emprego. - Christopher hesitou ao vê-la encolher os ombros. - Dulce, eu não quis ofendê-la. Mas como poderia não me divertir vendo-a me oferecer cem dólares para jantar com você? E tudo isso para não magoar uma velhinha de setenta anos e poder, ao mesmo tempo, oferecer uma boa refeição a um saxofonista desempregado. Aquilo foi muito... doce de sua parte. E isso não é algo muito comum de eu dizer, pode acreditar.
- É humilhante - resmungou ela, pegando o outro pacote e se encaminhando para a cozinha.
- Não deixe que seja. - Christopher deu a volta pelo balcão, de modo que os dois ficaram na cozinha. - A situação só teve aquele efeito desastroso porque deixei que a coisa fosse longe demais. Assumo a culpa por isso. Se eu tivesse lhe contado a verdade durante o jantar, como deveria ter feito, aposto que você teria rido muito de tudo. Mas, em vez disso, eu a fiz chorar e não consigo me perdoar por isso.
Dulce permaneceu onde estava, diante da geladeira. Não imaginara que Christopher fosse se importar tanto com aquilo, e que se desculpar houvesse se tornado uma questão tão essencial para ele. Mas, pelo visto, enganara-se. E ela simplesmente não conseguia resistir à completa sinceridade de alguém.
Respirando fundo, disse a si mesma que talvez valesse a pena tentar fazer as pazes com ele.
- Quer uma cerveja?
Christopher relaxou os ombros no mesmo instante.
- Claro que quero.
- Foi o que eu imaginei. - Dulce pegou uma garrafa, colocou-a sobre a pia e começou a procurar um copo para ele.
- Deve estar com sede. Eu nunca tinha ouvido você falar tanto de uma só vez desde que nos conhecemos.
Quando se virou para ele com o copo de cerveja, Christopher estava com um brilho de divertimento no olhar.
- Obrigado - agradeceu ele, aceitando o copo.
- Mas estou sem biscoitos.
- Ainda há tempo de fazer alguns.
- Talvez. - Dulce começou a examinar as compras.
- Para ser sincera, eu estava pensando em preparar uma torta. - Arriscando um olhar por sobre o ombro, arqueou uma sobrancelha.
- Nunca comemos torta juntos.
- É verdade.
A visão foi sensual demais para sua paz de espírito, pensou Christopher. Dulce estava vestida com um camisão branco de algodão e com uma calça justa de um bonito tom de azul-claro. Porém, o detalhe mais provocante era o fato de ela estar descalça. A visão dos pés delicados, com as unhas pintadas de cor-de-rosa, provocou-lhe uma onda de excitação. As preferências exóticas de Dulce, como aquela de usar dois brincos de argola em uma mesma orelha e uma simples pedrinha de brilhante na outra, deixavam-no quase sempre encantado. Dulce era uma surpresa constante. Deliciosamente inesperada.
Quando ela se virou para continuar esvaziando o pacote de compras, Christopher lhe segurou o pulso com a mão que se encontrava livre.
- Estamos de bem novamente? - Parece que sim.
- Então há algo mais que preciso lhe dizer. - Ele colocou a garrafa cerveja sobre a pia.
- Sonhei com você.
Foi a vez de Dulce sentir a boca secar.
- O quê?
- Sonhei com você - repetiu Christopher, aproximando-se dela o suficiente para que Dulce se encostasse contra a parede.
Pelo menos dessa vez era ela que estava contra a parede, não ele, pensou Christopher.
- Sonhei que estava tocando você. - Sem desviar os olhos dos dela, ele roçou a ponta dos dedos sobre os seios dela.
- E acordei sentindo o sabor dos seus lábios.
- Ah, meu Deus.
- Você disse que sentiu algo quando a beijei, e que achou que eu também havia sentido. - Enquanto falava, foi deslizando as mãos devagar até os quadris dela.
- Você estava certa.
Dulce engoliu em seco, sentindo as pernas trêmulas.
- Estava?
- Sim. E quero sentir aquilo novamente.
Ela se endireitou junto à parede quando ele se aproximou mais.
- Espere!
Christopher parou os lábios a centímetros dos dela.
- Por quê?
Dulce não soube ao certo o que dizer.
- Eu não sei.
Os lábios dele se curvaram em um de seus raros sorrisos.
- Mande que eu pare quando achar que deve - sugeriu ele, antes de tomá-la nos braços.
Foi a mesma coisa de antes. Dulce não tinha certeza de que voltaria a sentir todas aquelas sensações maravilhosas se Christopher voltasse a beijá-la, mas foi exatamente isso o que aconteceu. No entanto, era como se todo seu ser estivesse preparado e esperando por aquele turbilhão de sensações. Anahí tinha razão, pensou ela. Christopher havia arrasado sua vida. Nunca mais ela conseguiria exigir menos do que aquilo.
Linda, receptiva, doce, carinhosa... Dulce era tudo isso. Tudo aquilo que ele havia esquecido de que tanto precisava estava bem ali, em seus braços, concluiu Christopher. Queria tê-la para si. E com uma urgência que nem mesmo ele esperava sentir.
- Quero beijá-la, Dulce - disse, com voz rouca. Roçando os lábios sobre a curva sensível do pescoço delicado, acrescentou: - Aqui, bem aqui...
Dulce fechou os olhos.
- Não.
Aquela era a última coisa que ela esperava ouvir sair de seus próprios lábios, com as mãos de Christopher passeando por seu corpo e levando-a a desejar ir além, muito mais além. Ainda assim, porém, ouviu-se repetir:
- Não. Espere.
Christopher levantou a cabeça, fitando-a com os olhos enevoados de desejo.
- Por quê?
- Porque eu... - Dulce se interrompeu com um gemido, quando Christopher pousou a mão em concha sobre um de seus seios.
- Eu te quero, Dulce - sussurrou ele, junto ao ouvido dela. - E sei que você me quer.
- Sim, mas... - Ela abriu e fechou as mãos sobre os ombros dele, lutando contra a onda de desejo que a estava invadindo.
- Há certas coisas que não me permito fazer por impulso. Sinto muito, mas essa é uma delas.
Dulce exalou um suspiro trêmulo. Christopher estava muito perto, pensou, observando os detalhes daquele rosto bonito. Perto demais.
- Não se trata de um jogo, Christopher.
Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso por ela haver sido tão perspicaz em deduzir seus pensamentos.
- Não? Não - afirmou em seguida, entendendo o que ela quisera dizer.
- Você não aceitaria esse tipo de jogo, não é?
Alguém aceitara antes dela. E provavelmente magoara Christopher por isso, deduziu ela, lamentando por ele.
- Não sei. Nunca agi assim antes.
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Ola meus leitores, aqui estar mais um cap, se vcs gostaram curte e comenta... Bjs e até o próximo cap.😘
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...