- E seu defeito - replicou Daniel, satisfeito ao ver que seu comentário o afetara de alguma maneira. - Já vivi mais de noventa anos neste mundo, tendo a chance de observar as pessoas e a maneira como elas se comportam. E vou lhe dizer uma coisa, Christopher Uckermann, algo que você ainda não notou por si mesmo, talvez por ser muito jovem ou muito teimoso: vocês dois combinam. Um equilibra o outro.
- O senhor está enganado.
- Ah, essa é boa! - ironizou Daniel. - Dulce não o teria deixado freqüentar a casa dela se não estivesse apaixonada. E você não teria aceitado vir até aqui, se também não estivesse apaixonado por ela.
Daniel se recostou novamente na cadeira, satisfeito ao notar que Christopher empalidecera. O amor, para alguns, era mesmo algo assustador.
- O senhor entendeu mal - insistiu Christopher, tentando manter a calma mesmo sentindo uma sensação de aperto no estômago. - O que existe entre mim e Dulce não tem nada a ver com amor. E se eu a magoar... Quando eu a magoar - ele corrigiu -, parte da culpa será sua.
Dizendo isso, saiu com passos firmes. Daniel continuou fumando seu charuto. Magoar-se era algo que fazia parte do amor, pensou consigo. Ainda da assim, não pôde deixar de lamentar o fato de que sua preciosa menina sofreria um pouco ao longo do caminho. E sim, sabia que em parte a culpa era sua. Mas quando o rapaz parasse de teimar feito uma mula e a fizesse feliz... Ora, quem mais receberia o crédito por isso a não ser o astuto Daniel MacGregor?
Sorrindo, terminou de fumar o charuto enquanto repassava seus planos com a calma que somente um homem suficientemente vivido e sábio conseguia ter.
Dulce lamentou que a viagem até Hyannis houvesse deixado Christopher de mau humor. Algo que, segundo vinha notando, ainda não havia mudado mesmo depois de eles haverem retornado para Nova York havia uma semana.
Christopher era uma pessoa dificil. E ela aceitava isso. Agora que sabia tudo pelo que ele havia passado, e tudo que haviam feito a ele, não conseguia ver muita possibilidade de ele agir de modo diferente.
Para um homem com tanta sensibilidade, seria preciso um longo tempo até que fosse possível ele voltar a confiar em alguém. E talvez mais tempo ainda para se permitir sentir algo mais profundo por alguém.
Mas ela poderia esperar. Por mais que isso doesse. Não conseguia deixar de lamentar quando ele a deixava e partia de maneira súbita, ou quando ele se isolava, usando o trabalho como desculpa. Ultimamente, Christopher também havia adquirido o estranho hábito de tocar sax em horários inusitados, como se aquilo fosse uma espécie de desabafo que precisava ser posto para fora no exato momento em que algo o afligia.
Dulce tentou se convencer de que o trabalho devia estar causando problemas para ele, embora Christopher nunca mais houvesse falado a respeito dele com ela. Talvez ele imaginasse que ela não fosse capaz de compreender toda a angústia que envolvia o ato da criação artística. Embora isso a magoasse, convenceu-se de que seria melhor aceitar a opção e o silêncio de Christopher. Sempre havia conseguido mentir melhor para si mesma do que para os outros.
Seu próprio trabalho havia tomado um novo rumo e estava exigindo mais tempo e energia de sua parte. A reunião que ela havia tido antes de partir para Hyannis havia sido importantíssima, mas ela não a mencionara para ninguém. Talvez fosse um pouco de superstição de sua parte, concluiu ela, descendo do táxi diante de seu prédio, mas era assim que ela preferia agir. Não quisera contar nada a ninguém antes de ter certeza de que o negócio seria fechado. Mas agora tinha certeza.
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...