capítulo 14

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- Foi minha primeira vez - confessou Dulce. - E foi... maravilhoso!

- Tudo bem, tudo tem. Agora apenas a parte do beijo, certo? Apenas a parte dos lábios e das línguas. Que tal foi essa parte?

- Muito ardente.

- Ah, meu Deus! Acho que terei de abrir a janela de novo. Estou começando a suar.

Dizendo isso, levantou-se com um movimento súbito e abriu a janela, respirando fundo.

- Então foi ardente. Muito ardente. Continue.

- Foi como ser... Sei lá, devorada. Sabe quando seu corpo inteiro fica trêmulo, um calor gostoso se espalha por seu corpo e... - Dulce moveu as mãos, tentando encontrar as palavras certas para se expressar. - Não sei como descrever.

- Tem de se esforçar. - Aflita, Anahí segurou-a pelos ombros. - Tente isso: -na escala de um a dez, que nota você daria?

Dulce fechou os olhos.

- Não há escala...

- Sempre há uma escala - Anahí a interrom­peu. - Não é possível...

- Não, Anahí, o que eu senti não se enquadra em nenhuma escala.

Anahí deu um passo atrás.

- Deus meu... Preciso me sentar. - Anahí sen­tou-se, passando a mão pela testa. - Você experi­mentou um beijo que não se enquadra em nenhuma escala. Acredito em você, Dul. Mas muita gente não acreditaria. Muitas pessoas poderiam até zombar dessa afirmação, mas eu acredito no que disse.


Dulce sorriu.

- Eu sabia que poderia contar com você.

- Sabe o que isso significa, não sabe? Significa que Uckermann arruinou sua vida. Agora, nem mes­mo um beijo nota dez vai satisfazê-la. Você vai sempre procurar um que não se enquadre em ne­nhuma escala.

- Isso já me ocorreu. - Pensativa, Dulce pegou lápis e começou a tamborilá-lo sobre a mesa.

- Mas creio que será possível levar uma vida tranqüila e feliz, alcançando com certa regulari­dade uma escala entre sete e dez, mesmo depois dessa experiência. O homem pode até ir à lua, Anahí, viajar pelo espaço e se ver em outro mundo por algum tempo, mas tem de voltar para a terra e continuar vivendo.

- Puxa, isso foi sábio. - Anahí tirou um lencinho de papel do bolso da calça. - Quase heróico.

- Obrigada - Dulce agradeceu e, com um de seus sorrisos marotos, acrescentou:

- Mas, en­quanto isso, não fará nenhum mal bater à porta em frente de vez em quando, certo?


Dulce estava descendo para o andar de baixo, após uma manhã de intenso trabalho. Ao ouvir o familiar e agradável som do sax, pensou em bater à porta de seu vizinho para lhe oferecer um café, mas o som do interfone lhe interrompeu os pensamentos.

- Sim?

- Estou procurando o sr. Uckermann, do 3A - disse uma voz feminina.

- Não, ele está no apartamento 3B.


- Oh, droga, então por que ele não está respondendo?,

- Provavelmente porque não ouviu o interfone, já que está tocando sax - explicou Dulce.

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora