capítulo 41

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Chegara a hora de ter uma boa con­versa com Christopher Uckermann, pensou Daniel. Mas não seria nada dificil. Tudo que teria de fazer seria levá-lo até seu escritório, enquanto Dulce estivesse ocupada com Anna em algum outro aposento da casa. Quanto a Matthew... Bem, com ele não haveria problema, já que o rapaz passava a maior parte do tempo procurando inspiração para montar seus brinquedos de metal. As esculturas de Matthew sempre o deixavam surpreso e orgulhoso ao mesmo tempo. Não podia negar que o rapaz era talentoso, embora criasse coisas esquisitas.

- Sente-se, meu rapaz. E aproveite para esticar um pouco as pernas. - Dizendo isso, caminhou até a estante de onde tirou um exemplar de Guerra e Paz. - Aceita um? - perguntou ele, abrindo o livro e revelando se tratar de uma caixa de charutos.

Christopher arqueou uma sobrancelha.

- Não, obrigado. Literatura interessante, sr. MacGregor.

- Bem, um homem deve saber o que fazer para não ser aborrecido pela esposa.

Daniel passou o charuto sob o nariz, apreciando seu aroma, e suspirou alto ao sentar-se, anteci­pando o prazer que teria em fumá-lo. Com calma, destrancou uma das gavetas de sua mesa e tirou dela uma concha que, pelo visto, era usada regu­larmente como cinzeiro. Em seguida, também ti­rou da gaveta um pequeno ventilador movido a pilha. Sem dúvida, seu mais novo artifício para evitar que a esposa sentisse o cheiro do charuto.

- Anna não quer que eu fume - declarou ele, balançando a cabeça. - E quanto mais velha ela está ficando, mais apurado está ficando também seu nariz. Às vezes, mais parece o de um cão de caça - resmungou, encostando-se na cadeira.

- E se ela aparecer? - indagou Christopher, ao notar que ele pretendia mesmo acender o charuto.

- Vamos nos preocupar com isso se e quando acontecer, meu rapaz.

Apesar da aparente despreocupação, Christopher não deixou de notar que o velho Daniel manteve o pequeno ventilador bem junto de si.

- Muito bem, sua nova peça está fazendo sucesso? - Sim, está.

- Quero que saiba que estou lhe perguntando isso porque quero saber mais detalhes a seu respeito.

- Hum-hum - anuiu Christopher, sem querer se arriscar a oferecer respostas mais elaboradas.

- Admiro o trabalho de seu pai. Tenho alguns livros dele na minha estante. - Daniel se ajeitou melhor na cadeira, dando uma baforada no cha­ruto. - Alguém me contou que Hollywood está bastante interessada em seu trabalho.

- Tem informantes muito bons, sr. MacGregor.

Daniel sorriu.

- Faço o possível para me manter sempre bem informado. Então, como vai indo esse negócio com o cinema?

- Bem.

- Prefere manter a discrição, não é mesmo? Gosto disso. - Daniel bateu o charuto levemente sobre a concha, antes de prosseguir: - Vai ficar em Nova York por mais algumas semanas?

- Por mais um mês, provavelmente. A essa altura, a maior parte da reforma da casa já deverá ter acabado.

- Uma belíssima casa com vista para o mar, não? - Daniel sorriu ao ver Christopher estreitar o olhar. - Alguém me disse todas essas coisas. E bom para um homem ter uma casa própria. Al­guns de nós simplesmente não conseguem viver em prédios, dividindo as páredes da própria casa com as de outras pessoas. E bom ter espaço para a família. Um lugar suficientemente grande para que seja possível se fumar charuto sem ter de ouvir um sermão durante horas seguidas.

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora