capítulo 30

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- Matthew! Por que não disse que viria? Quando chegou? Quanto tempo vai ficar? Oh, estou tão feliz em vê-lo! Deus, mas você está todo molhado. Entre e tire essa jaqueta. Quando vai comprar uma nova? Essa aqui parece que passou por uma guerra!

Matthew apenas riu e abraçou-a mais uma vez, levantando-a do chão e dando-lhe um beijo sonoro.

- Continua tagarela.

- Você sabe que eu não consigo parar de falar quando estou feliz. Quando... Oh, você está aí, Christopher. - Ela foi até a porta, com um brilho de felicidade no olhar. - Não vi que estava aí.

- Isso ficou evidente - respondeu ele, contendo a vontade de agarrar o sujeito pelo colarinho e colocá-lo para fora do apartamento. -

Mas não interrompam o encontro por minha causa.

- Matthew, esse é Christopher Uckermann - Dulce os apresentou.

- Uckermann? - Matthew sorriu, mostrando os dentes muito alvos, sem sequer desconfiar que Christopher estava com vontade de acertá-los com seu punho. - O roteirista de teatro. Vimos seu tra­balho da última vez em que estive na cidade. Dulce chorou um bocado. Tive praticamente de ampa­rá-la para fora do teatro.

- Não exagere, Matthew. Eu não fiquei tão mal assim.

- Ficou, sim. Se bem que você é do tipo que chora até vendo comerciais de tevê. Então não sei se todo aquele seu sentimentalismo contou muito...

- Oh, Matthew, como você gosta de me provo­car e... Oh, o telefone. Esperem um minuto, eu já venho.

Dulce foi atender ao telefone na cozinha, dei­xando os dois se entreolhando com ar desconfiado.

- Sou escultor - declarou Matthew, contendo o riso. - E já que preciso da mão para trabalhar, acho melhor ir logo dizendo que sou irmão de Dulce, antes de oferecê-la para cumprimentá-lo.

- Irmão? - O olhar ameaçador de Christopher se amenizou um pouco, mas não desapareceu por completo.

- Não se parece muito com ela.

- Todo mundo diz isso. Mas se quiser conferir minha identidade...

- Era a sra. Wolinsky - anunciou Dulce, vol­tando para a sala. - Ela o viu entrando, mas não conseguiu abrir a porta a tempo de cumpri­mentá-lo. Acho que ela queria apenas dizer que você está mais bonito do que nunca. - Sorrindo, apertou as bochechas dele. - Ele não é lindo?

- Não comece.

- Ah, mas você é mesmo. Tem um rosto lindo, desses que fazem as mulheres suspirarem. - Ela sorriu e pegou a mão de Christopher. - Venha, vamos beber algo para comemorar.

Ele fez menção de recusar, então deu de ombros. Não faria nenhum mal passar alguns minutos ao lado de Dulce e do irmão dela.

- Com que tipo de escultura você trabalha?

- Esculturas de metal - respondeu Matthew, tirando a jaqueta e jogando-a sobre uma cadeira.

Dulce, porém, pegou-a no mesmo instante.

- Vou pendurá-la no banheiro para secar. Christopher, sirva-nos um pouco de vinho, sim?

- Claro.

- Não tem cerveja? - indagou Matthew, ar­queando uma sobrancelha ao ver a familiaridade com que Christopher foi até a cozinha, procurar a bebida.

- Tem, sim. - Christopher tirou duas latinhas da geladeira e abriu-as, antes de servir vinho para Dulce.

- Você trabalha na região sul?

- Isso mesmo - Matthew respondeu. - Para mim, é mais prático ficar em Nova Orleans do que na Nova Inglaterra. Raramente chove por lá e isso me dá mais oportunidade de trabalhar ao ar livre. Dulce não havia falado de você. Quando se mudou para cá?

Christopher tomou um gole de cerveja , notando que os olhos de Matthew eram quase da mesma cor dos cabelos de Dulce. Um tom de uísque envelhecido.

- Mudei-me há pouco tempo - respondeu.

- Age rápido, não? - insinuou Matthew.

- Dependendo do meu interesse...

- Christopher - Dulce suspirou ao entrar na co­zinha -, poderia pelo menos ter servido a cerveja em copos, não?

- Não precisamos de copos - respondeu Mat­thew, dando uma piscadela para Christopher.

- Be­bemos diretamente da lata, como homens de ver­dade, não é, Uckermann?

Dulce riu.

- Então não vai nem querer o queijo temperado e o patê com torradas que eu pretendia lhe ofe­recer para acompanhar a bebida? - provocou ela.

- Quem disse? - indagou Matthew, em um tom de protesto, sentando-se em um dos banqui­nhos diante do balcão.

- Você tinha quatro dessas banquetas, não tinha?

- Oh, emprestei uma para Christopher. O que veio fazer em Nova York, Matthew? - perguntou ela, examinando o que havia na geladeira.

- Vim fazer alguns contatos para minha pró­xima exposição. Estou aqui apenas há alguns dias.

- E se hospedou em um hotel, não é? - ques­tionou Dulce, com ar ofendido.

- Essa sua "política de boa vizinhança" me dei­xa louco, irmãzinha. - Olhando para Christopher, continuou: - Está aqui há algum tempo, não é? Então já deve ter visto como este apartamento vive cheio de gente. É um horror. Ela deixa... - ele fez um ar dramático -...as pessoas entrarem aqui a todo momento.

- Matthew é um recluso profissional - expli­cou Dulce, começando a arrumar a mesa. - Vocês dois vão se dar muito bem. Christopher também não gosta de ter contato com muitas pessoas.

- Ah, finalmente alguém com bom senso. - Matthew sorriu para Christopher, concluindo que cer­tamente os dois iriam se dar bem.

- Certa vez, cometi a tolice de pedir para ficar aqui - conti­nuou ele, pegando uma torrada. - Foi um pesa­delo. Três dias vendo gente entrando sem bater, falando alto e trazendo seus parentes e bichos de estimação.

- Era apenas um cachorrinho.

- Que insistiu em ficar no meu colo, sem ser convidado, e depois comeu minhas meias.

- Se você não tivesse deixado no chão, ele não as teria comido. Além do mais, ele só as furou um pouquinho.

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora