O nome dele era Christopher Uckermann. Não se considerava particularmente misterioso, apenas reservado. De fato, fora justamente o desejo de privacidade que o levara, ironicamente, a ir parar bem no coração de uma das maiores cidades do mundo.Felizmente, seria por pouco tempo, pensou ele guardando o sax na maleta própria para o instrumento. Seria por pouco tempo. Com sorte, dali a alguns meses a reforma de sua casa na costa rochosa de Connecticut estaria terminada. Algumas pessoas diziam que o lugar parecia um forte, mas ele não se importava com isso. Pelo menos em um forte era possível se ter paz e silêncio durante semanas, caso fosse necessário. Além disso, ninguém podia entrar no local sem permissão.
Começou a subir a escada, deixando para trás a sala praticamente vazia. Costumava ficar ali apenas quando decidia tocar, pois a acústica do ambiente era ótima. Ou então para se exercitar, quando não tinha vontade de caminhar até a academia alguns quarteirões adiante.
O segundo andar era o local onde ele passava a maior parte do tempo. Mas felizmente aquilo não duraria muito, pensou mais uma vez. Tudo que precisava enquanto estava ali era de uma cama, um guarda-roupa, iluminação adequada e uma mesa de escritório com um tamanho suficiente para comportar seu notebook e os papéis de trabalho que ele costumava usar. Não quisera ter um telefone, mas sua agente insistira para que ele mantivesse pelo menos um telefone celular, para o caso de ela precisar entrar em contato com ele. Christopher aceitara a idéia, mesmo não gostando dela.
Sentou-se à mesa de trabalho, satisfeito por seus pensamentos estarem mais claros depois do breve exercício com o sax. Mandy, sua agente, andava preocupada com o progresso de seu último roteiro teatral. Mas, em sua mente, tudo já estava bem definido. A peça ficaria pronta quando tivesse de ficar, e nem um minuto antes. Fora assim que ele sempre trabalhara, e não seria àquela altura de sua carreira que iria mudar de atitude, devido ao nervosismo de uma agente.
O problema com o sucesso, pensou ele, era o nível de cobrança que ele trazia consigo. Ao fazer algo que as pessoas apreciavam, você era sempre cobrado a repetir o feito, só que de maneira mais rápida e mais eficiente. Christopher não dava a mínima para o que as pessoas queriam. Elas poderiam arrombar as portas do teatro para ver sua próxima peça, laureá-lo com outro Pulitzer ou lhe pagar um caminhão de dinheiro. Nada disso era importante para ele. Também não dava a mínima para críticas. Se o público não gostasse, que fosse à bilheteria e exigisse seu dinheiro de volta.
Para Christopher, o trabalho em si era o mais importante. E isso dizia respeito apenas a ele e a mais ninguém.
Financeiramente, estava seguro como sempre estivera. Mandy costumava dizer que isso era parte do problema. Sem a necessidade ou o desejo de ganhar dinheiro para incentivá-lo, ele havia se tornado arrogante e indiferente ao público. Por outro lado, dizia ela, isso também era o que o tornava um gênio da criação teatral. Christopher não se importava com nada, e isso era o que fazia seu trabalho ser tão especial.
Continuou sentado à mesa, pensativo. Porém, logo despertou do devaneio e passou a mão por entre os cabelos castanho-avermelhados. Seus olhos, de um azul intenso, perscrutaram as últimas palavras que havia digitado. A expressão séria e os lábios ligeiramente apertados denotavam sua concentração.
Com os ruídos característicos da rua chegando-lhe aos ouvidos, Christopher estava tendo de se esforçar mais para voltar a penetrar na alma do homem que ele havia criado no texto mostrado na tela do computador. Um homem que lutava desesperadamente para superar os próprios desejos.
De súbito, o incômodo som da campainha o fez praguejar, desconcentrando-o mais uma vez. Pensou em continuar ali e não dar atenção, mas sua noção da natureza humana o fez mudar de idéia, ao concluir que provavelmente o intruso continuaria insistindo até obter uma resposta. Por isso, decidiu despachá-lo de uma vez por todas.
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...