capítulo 19

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Christopher estava encantado. Dulce era mesmo fascinante.

- Guitarras vermelhas e kits de química fize­ram parte de sua busca?

- Eu não conseguia decidir o que ia ser. Tudo que eu começava a fazer parecia muito divertido no início, mas logo eu me cansava daquilo. Sabe cortar cenouras em cubinhos?

- Não. Nunca pensou que acabaria fazendo o que faz hoje em dia?

Dulce suspirou, começando a cortar a cenoura em cubinhos.

- Não - admitiu ela. - Mas gosto muito do que faço, embora eu tenha muito trabalho. De qualquer maneira, é muito divertido. Você não gosta de escrever?

- Não completamente.

Dulce olhou para ele, surpresa.

- Então por que faz isso?

- Porque não consigo me imaginar fazendo ne­nhuma outra coisa. Essa é minha única busca - respondeu Christopher.

Ela assentiu com um sorriso. Entendia-o mui­to bem.

- Também é assim com minha mãe - disse a ele. - Ela nunca pensou em fazer outra coisa, exceto pintar. Às vezes, quando fico olhando ela trabalhar, noto quanto é doloroso para ela ter uma visão e ter de se esforçar ao máximo para conse­guir retratar na tela aquilo que ela quer comu­nicar. Mas quando ela termina um trabalho, quan­do este se mostra suficientemente bom, ela se rea­liza. A satisfação, ou talvez o choque de ver o que ela é capaz de fazer, é que surte esse efeito nela. Deve ser assim com você também.

Dulce levantou a vista, então notou que Christopher a estava observando com um olhar perscrutador.

- Sempre se surpreende quando demonstro sa­ber algo a respeito de um assunto que você não esperava, não é?

Dizendo isso, colocou a tigela com os legumes picados sobre o balcão. Christopher segurou-lhe o pul­so, antes que ela pudesse de virar.

- Se isso ainda acontece, é porque sou eu quem não consegue entendê-la, Dulce. E é provável que eu continue a magoá-la por isso.

- Mas é ridiculamente fácil me entender!

Christopher riu.

- Era isso que eu pensava antes, mas estava enganado. Você é um labirinto, Dulce. Com deze­nas de caminhos e curvas inesperadas.

Um belo sorriso se insinuou nos lábios dela.

- Esta é a coisa mais bonita que você já me disse.

- Não sou do tipo que vive se derramando em gentilezas. Teria sido melhor me manter fora de sua vida, deixando que eu continuasse trancado no meu apartamento.

- Acho que até eu mesma já me convenci disso - admitiu ela. - Porém... - Pousou a mão no rosto dele, com gentileza.

- Você parece haver se tornado minha nova busca.

- Até ela deixar de ser divertida e você deixá-la de lado?

A expressão de Christopher se mostrou muito séria. Ele parecia preparado demais para acreditar no pior.

- Christopher, você está falando demais e traba­lhando de menos. Sabe cortar batatas em formato de palitos?

- Não tenho a mínima idéia de como fazer isso.

- Então olhe e aprenda, meu caro. Da próxima vez, quero que você prepare o jantar. - Dulce pegou uma batata descascada e cortou-a com des­treza, formando palitos. Então arriscou um olhar para ele. - Ainda estou nua?

- Você quer estar?

Ela riu e tomou um gole do vinho que deixara ao lado.

Levava muito tempo para preparar um sim­ples jantar quando se era distraída por uma conversa agradável, por olhares provocantes e toques sedutores.

Levava muito tempo para comer uma simples refeição quando o perigo de se apaixonar e a von­tade de fazer amor com o homem sentado à sua frente se tornavam cada vez mais evidentes.

Dulce reconheceu os sinais: as batidas acelera­das de seu coração, o insistente calor pelo corpo acumulando-se deliciosamente entre suas per­nas... Tudo isso aliado a sorrisos irresistíveis e a suspiros incontidos era um forte indício de que seria muito fácil se entregar ao amor.

Imaginou como seria se deixar levar. Provavel­mente maravilhoso.

Levava muito tempo para se despedir quando se era arrebatada por longos beijos provocantes à porta de seu apartamento. E mais tempo ainda para conseguir pegar no sono quando seu corpo ardia de desejo e sua mente se encontrava repleta de imagens eróticas.

De fato, só conseguiu dormir quando o som do sax vindo do outro apartamento finalmente ces­sou. Somente então se entregou ao sono. E com um sorriso nos lábios.

Um Vizinho PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora