- Preciso achar esse sujeito e acertar algumas contas com ele - disse Grant Saviñon por entre os dentes, andando de um lado para outro da cozinha e lembrando um dragão prestes a cuspir fogo.
- Isso não a faria parar de sofrer - salientou Gennie, afastando-se da janela de onde estivera observando a filha.
Notando a atitude impaciente e irritada do marido, lembrou-se do homem por quem ela havia se apaixonado muitos anos antes. Grant ainda mantinha alguns traços do caráter incisivo da juventude, só que permeados pelo charmoso ar da maturidade. Seu amor por ele havia mudado ao longo dos anos, mas não havia dúvida de que continuava tão intenso quanto antes.
- Pelo menos iria fazer eu me sentir bem melhor - resmungou ele. - Vou sair para buscá-la.
- Não, você não vai. - Gennie pousou a mão sobre o braço dele, antes que ele passasse pela porta. - Deixe-a sozinha por algum tempo.
- Mas está ficando escuro - argumentou Grant, sentindo-se impotente.
- Dulce virá quando sentir que está pronta.
- Não sei se vou agüentar isso. Detesto ver a sombra de tristeza que Christopher deixou nos olhos dela.
- É preciso se ferir, antes de se curar. Ambos sabemos disso. - Gennie abraçou o marido e repousou a cabeça sobre o ombro dele. - Ela sabe que estamos aqui.
- Era mais fácil quando algum deles caía, se machucava e precisava de cuidados. Pelo menos sabíamos o que fazer.
Gennie sorriu.
- Não era o que você pensava na época. - Afastando-se um pouco, segurou o rosto dele entre as mãos. - Você sempre se feriu mais do que eles.
- Eu apenas queria aninhá-los no colo e fazer a dor passar. Como quero fazer com ela agora. Depois irei atrás do sujeito e acertarei as contas com ele.
- Também estou sofrendo por vê-la sofrer - confessou Gennie. Sorrindo, acrescentou: -- Se pudesse, também quebraria o pescoço do "sujeito", como você diz. Mas sabemos que essas coisas não se resolvem assim.
Foi dessa maneira que Dulce os encontrou ao entrar na cozinha. Os dois abraçados diante da janela, fitando-se nos olhos.
Mais do que nunca, teve certeza de que era aquilo que ela queria para si. Havia sido criada em meio àquela atmosfera romântica e tranqüila, e não conseguia se imaginar criando seus próprios filhos em um ambiente diferente.
Aproximando-se devagar, abraçou-os ao mesmo tempo.
- Vocês têm idéia de quantas vezes na minha vida eu vim até aqui e os vi exatamente dessa maneira? E de quanto ,é bom poder ver isso de novo?
- Seus cabelos estão molhados - observou Grant, passando a mão por eles.
- Eu estava olhando as ondas se quebrando nas rochas. - Dulce o beijou. - Pare de se preocupar comigo, papai.
- Vou parar. Quando você estiver com cinqüenta anos. Talvez. - Ele pousou a mão sobre o rosto dela.
- Quer um pouco de café?
- Hum... não. Acho que vou tomar um banho quente e ir para a cama junto com um bom livro. Isso sempre funcionou para mim, quando eu era adolescente e passava por alguma crise.
- Naquele tempo, quando você estava em crise, era eu quem preparava seu banho - a mãe a lembrou.
- Então, por que quebrar a tradição?
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...