Capítulo XIX

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Confissões...

  São as minhas confissões, e, se nelas nada digo é que nada tenho que dizer.  

Fernando pessoa.







Assim que cheguei na porta do apartamento do meu pai, percebi que o dia seria agitado, a porta estava entre aberta, logo da entrada dava para se ouvir a voz estridente da minha avó – Rocco, onde já se viu guardar cuecas juntos com as meias? E por que tem uma gaveta só para camisinha? E de quem é essa calcinha aqui? Você já tem 39 anos, pare de se portar como um adolescente excitado com a vida, você já deveria estar casado, Vala me Deus, onde foi que eu errei?!

– Mãe, por favor pare de ficar bisbilhotando minhas coisas, ah mãe não faz isso, eu vou devolver isso para Ângela então não jogue no lixo... ela jogou. Olha desisto a senhora me deixa louco.

– Você que me deixa louca, tenho orgulho do que você se tornou profissionalmente, só falta agora ter uma mulher que te ponha na linha e você Oliver vai ficar parado atrás dessa porta feito um espantalho, sua respiração pesada dar até para eu ouvir e olhe que já estou velha. A menção do meu nome me fez sair do meu estupor, empurrei a porta e entrei, meu pai ao me ver tentou desfarçar tentando voltar a pose de um homem sério e não de um homem velho levando carão da mãe por misturar meias com cuecas.

– Oliver, - Disse minha avó vindo em minha direção me dando um abraço forte, ela se afastou e sorriu tocando no meu rosto – Você está muito magro e pálido e por que está com cabelo tão grande, vai virar lobisomem? E por que não ligou mais para mim só por que sou uma velha não quer dizer que não sirvo para nada, você é tão irresponsável quanto seu pai. – Ela bufou e me deu as costas e foi em direção a cozinha.

– Foi bom ver a senhora também vó – murmurei. Meu pai bufou e passou a mão nos cabelos.

– Ainda bem que você está aqui, faz três horas que essa mulher me enlouquece, e você está bem?

– Estou sim, cansado mas estou bem, quem tá no pic é a general ali.

–  Nem me fale, ela resolveu vir do nada para cá e ainda inventar essa palhaçada de almoço em família, seus primos ainda não voltaram desde de ontem, devem estar dormindo na casa de alguma asinha que eles acharam na noite.

Olhei em direção da cozinha e a vi passando para lá e para cá carregando sempre algum ingrediente, dava para sentir um delicioso aroma vindo da cozinha.

Para uma senhora de 80 anos ela é bem ativa, o que ela não tem de altura compensa com bravura, sempre soube do que ela passou, na realidade ela não cansa de contar suas histórias, das suas aventuras e desventuras que teve na vida, para uma pessoa como eu que admira história até eu fico cansado, mas ela é a mulher admirável, sempre correu atrás do que deseja, não desistia até conseguir o que queria, não puxei isso dela, na realidade não tenho muitas heranças familiares, a única coisa que eu tenho de comum da família é o vício por livros, minha avó ama poesias, e ela nunca deixou de investir nisso nos seus filhos, sempre presava a educação mais do que tudo e hoje ela tem o resultado, meu pai Arquiteto, o irmão do meu pai, Sílvio, que é médico, e até minha avó conseguiu depois de anos voltar a estudar e hoje dar aulas numa das escolas de sua cidade

– E você, passou onde o Réveillon? - perguntou meu pai.

– Aqui mesmo, fui ver o show ontem que estava acontecendo no Pina, e depois voltei para casa.

Incondicional  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora