As duas casas

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Sócrates faz o que diz, e deixa ruínas da casa com várias imagens intactas.Quando acaba, joga o martelo fora.

-Por que você jogou o martelo fora?

-Ué, eu já acabei.

-Claro que não.Ainda há a outra mansão.

-E quais tipos de imagens estão na outra casa?

-Venha comigo.

Eu pega o martelo e começa a andar para a outra casa, e Sócrates aperta o passo para acompanha-lo.Então Eu para em frente a porta.Sócrates lê a inscrição "Cantor" acima da entrada; ele fica imóvel e reflexivo enquanto Eu o observa.Lentamente, Eu abre a porta ainda observando Sócrates, que está com um rosto aflito.

-Vamos entrar. – diz com um tom sóbrio, sério.

Quando entram, a lamparina aumenta a sua luz de modo que todo o andar fica acesso.Ao observar as imagens, Sócrates demonstra uma aflição ainda maior.Enquanto anda e olha as imagens, Eu o observa atentamente.Ambos ficam em silêncio e o pequeno barulho dos passos de Sócrates parecem trovões.Ele para em frente a uma foto que o mostra ainda adolescente, com apenas 13 anos, escrevendo canções no quintal da parte de trás de sua casa; desvia o olhar rapidamente para Eu, que o continua observando.Sócrates pensa em falar algo porém desiste, Eu também prefere deixar que o silêncio fale.

Sócrates dá uma olhada panorâmica na casa, abaixa a cabeça e começa a subir para o outro andar; Eu o acompanha de longe.Ao chegar à parte superior, Sócrates percebe que a chaminé desta casa está em um ritmo muito mais vigoroso que o da outra, pelo menos três vezes mais forte.No andar superior, há algumas imagens dele chorando sozinho; outras o mostram no escuro, desamparado.A névoa que as imagens desta casa soltam são mais densas que a da outra.

Sócrates se aproxima lentamente da última imagem da casa, que mostra a sua banda se separando.Ele a toca suavemente e depois de um tempo, diz em voz baixa:

- Eu não vou fazer isso.

-Você precisa.

-Não posso desistir desse sonho...esse foi o caminho que eu escolhi e vou tentar até quando eu puder.

-Não foi isso que vi quando cheguei em sua casa; o que vi foi uma pessoa prestes a se jogar no abismo.Você já tinha desistido desse sonho, apenas não aceita isso.

-Mas agora posso tentar de novo, pois ainda estou vivo.

-Está vivo não graças a você.Não é que você não possa ser músico, mas o seu sonho é ser reconhecido mundialmente pelo seu talento.E de fato, você é talentoso, porém para conseguir o sucesso e reconhecimento que você busca é preciso muito mais do que talento.É preciso um ambiente favorável em termos políticos, culturais ou financeiros, e você não está em nenhum desses contextos.Você nasceu na época errada para fazer isso.Na verdade, o que você queria fazer na música já foi feito por pessoas de gerações anteriores.É impossível você conseguir o que quer?Não.Mas é tão improvável, que o final provavelmente seja o mesmo daquele que vi na sua casa quando cheguei.

-Então...eu devo desistir do meu grande sonho?...Não vale a pena viver desse jeito...Não vale a pena viver para sempre incompleto...

Eu escuta alguém abrir a porta no andar inferior.Sócrates está falando baixo, como se estivesse perdendo as forças; está cabisbaixo e sem vida no olhar.

Alguém começa a subir a escada.


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