O castelo

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Sócrates se senta e Eu cria uma cadeira sentando um pouco mais longe.De repente a porta da direita se abre.Uma mulher bonita entra na sala e se senta na mesa junto a Sócrates.Ele está paralisado.

-Ge...Geisa?É você?

-É.Tudo bem?

-Tu...tudo.

Eles ficam se olhando.Ele com cara de absoluta surpresa, ela com um sorriso maroto no rosto.

-O que foi?Não gostou de ter me visto?

-Não!Quer dizer...sim!Mas...como você chegou até aqui?

-Isso não importa Sócrates.Eu vim aqui para lhe ajudar.

-Como assim?

-Você precisa refletir sobre a sua vida...há coisas que você fez no passado que tiveram um efeito desastroso no seu futuro.

-E...como você vai me ajudar?

-Fazendo você me pedir desculpas.

Sócrates ergue as sobrancelhas.

-Desculpas?Pelo que?

-Por ter me rejeitado quando na verdade queria namorar comigo.

Ele fica em silêncio, surpreso e desarmado.Depois de alguns segundos calado, diz:

-Mas eu lembro que foi você que me rejeitou primeiro!A culpa foi sua!

-Não...No começo eu queria ficar com você...mas ai nos tornamos amigos...e então eu comecei a ver você de uma outra maneira...

-Mas eu nunca quis ser só um amigo, eu sempre quis algo mais...

-E por que se tornou um amigo?

-Ah, porque você veio com um papo de que estava ficando com um cara e pediu conselhos e tal...como ia pedir pra sair com você?

-Mas porque fez aquilo?Porque começou a me ajudar, a dar conselhos?

Sócrates abaixa o olhar.

-Eu...queria ficar perto de você.Só isso.

Ela pega na mão dele e sorri.

-E ficar perto de você era o que eu gostava.

-Eu só tive coragem de pedir pra ficar com você no fim do ano, pois eu sabia que a gente não ia mais se ver.Foi uma tentativa desesperada.

-Eu só disse "não" , porque já não pensava na possibilidade de ficarmos juntos...mas ai essa possibilidade veio de repente...foi muito rápido pra mim...e você?Por que disse "não"?

Sócrates olha nos olhos dela; ergue a cabeça para cima tentando se lembrar do momento...seus olhos se enchem de água.Ele coloca a mão sobre a cabeça e a abaixa, fazendo a gravidade puxar uma lágrima; ele olha para Eu, que o está observando atentamente.Respira fundo.

-Eu...não sei...estava bravo...falei sem pensar...

Geisa se levanta e o faz levantar também; ela o abraça fortemente.Só um abraço tão quente poderia desfazer um coração tão frio e solitário.Ele começa a chorar, assim como ela.As barreiras do orgulho foram quebradas, e os corações estão expostos naquele momento; a doce sensação de estar com alguém que se goste de verdade fala mais do que qualquer coisa, e qualquer palavra dita poderia quebrar o caloroso discurso da paixão sincera.

Através das lágrimas, vão se escoando o rancor que se acumulara entre os dois durantes todos aqueles anos, e o que era sujo tornou-se limpo, o que foi perdido acabou de ser achado.

Ela coloca suas duas mãos no rosto dele, e enquanto choram, diz:

-Não deixe o orgulho o impedir de viver um grande amor...não permita que isso aconteça de novo.

Ele meneia a cabeça positivamente.

-Me desculpe.

Ela o beija na testa e começa a andar em direção a porta.

-Aonde você vai?- ele pergunta com a voz ainda embaçada.

-Vou embora...o que eu tinha que fazer aqui já foi feito.Mas você ainda está um pouco longe de finalizar a sua jornada...Eu tenho uma vida pra viver agora...mas vou estar para sempre na sua memória.Adeus... – ela abre a porta sorrindo para ele e vai embora.

Sócrates está desmontado e fraco.Fica parado durante alguns segundos, sem reação.

-É melhor você se sentar, suas visitas ainda não acabaram. – diz Eu.


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