Depois de um tempo, lentamente foi voltando para casa, enxugando as lágrimas dos olhos. Entrou no seu quarto, mas não conseguia dormir; cochilava um pouco, mas logo acordava. A noite inteira foi assim. Ficava pensando se ela poderia ficar se fosse morar com ele.
E durante toda a noite, lembrava-se dos momentos que teve com ela. Quando se deu conta, já estava amanhecendo. Levantou-se e foi se arrumar para ir ao trabalho. Estava pensativo e cansado. Andava como se houvesse uma bola de ferro em suas pernas. Sem disposição, sem alegria.
No trabalho, falou apenas o necessário. Estava desconcentrado, abatido. Acabou não almoçando, pois não tinha fome alguma. Depois do fim do expediente, foi direto para casa, apesar de seus companheiros de trabalho insistir na ideia de beber em um bar.
Era sexta-feira e apenas foi para casa, tomou seu banho e não comeu nada. Trancou-se no quarto e começou a escrever poesias. Eram linhas tristes, pesadas. As letras quase empurravam o caderno no chão, tamanho o peso. Durante todo o fim de semana, só saía do seu quarto para ir ao banheiro. Comia quantidades ínfimas de comida. Ligou para Teodoro e Gustavo dizendo que não poderia encontrar com eles. Disse que estava doente.
E de fato estava. A tristeza é uma doença tão perigosa quanto um câncer. Ela destrói lentamente as defesas da mente e do corpo, deixando-os expostos a todo tipo de perigo; e transforma-se em um inimigo interno, que se alimenta das dores do hospedeiro. E quanto maior o tempo em que ela vive dentro de uma pessoa, mais ela tira as suas forças.
Até que chega o ponto em que já não há mais vontade. E a própria vida torna-se um peso. Durante aquela semana, Sócrates carregou sua vida a contragosto. Quando se lembrava da partida de Bruna, se lembrava também do seu fracasso em realizar seu sonho de jogador. E de como o seu atual sonho estava tão difícil de se realizar; a saída de tudo aquilo era conseguir concretiza-lo.
No outro fim de semana, ligou para Teodoro e Gustavo para tocar algumas músicas.Eles sempre se encontravam na casa de Teodoro e lá ficavam tocando.
-Ei Téo, e ai bora fazer um som nesse fim de semana?
-Claro.E outra coisa, arrumei um baterista!Eu chamei ele pra vir aqui, e ai agente conversa.
-Pô cara é mesmo?Finalmente!Já falou com Gustavo?
-Já.Ele já confirmou e vai vir.
-Beleza.
Uma notícia que serviu para acordar Sócrates.Depois de sete anos procurando pessoas, ele finalmente tinha uma banda.Eles se encontraram e já acertaram um ensaio com algumas músicas que Sócrates e Teodoro tinham feito.Havia um clima de empolgação entre eles; o baterista Felipe, estava bastante empolgado.
Talvez fosse por causa da idade, era o mais novo de todos com vinte e um anos.Teodoro era o mais velho, com trinta e dois.Mas a confiança de que algo bom iria sair dali não tinha limites de idade.Adotaram o nome "Prometheu Liberto" para a banda, sugerido por Sócrates que gostava de mitologia grega.
Pesquisaram um estúdio cuja distância fosse boa para todos e passaram a ensaiar todo fim de semana, o que era pouco pois só se encontravam umas quatro ou cinco vezes por mês.Mas como todos trabalhavam, não havia tempo livre durante a semana.Felipe, apesar de ser o mais empolgado, via aquilo apenas como diversão.Não achava que daria para viver daquilo.Já os outros três tinham como objetivo fazer a banda funcionar ao ponto de poderem se sustentar somente com música.
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Os Espelhos
Narrativa generaleTodos nós possuímos sonhos.Alguns muito grandes, outros mais simples.O fato é que nem sempre conseguimos realiza-los e alguns ficam decepcionados por toda a vida, não conseguindo superar a dor da derrota.Mas na vida não há apenas um caminho a se se...