O castelo

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-Às vezes você deveria tentar compartilhar a atenção do público conosco Sócrates – diz Gustavo.

-A culpa não é minha se o público gosta de prestar mais atenção em mim do que em você.

Eu e Sócrates se entreolham.

-Bom, parece que independente do plano, vocês sempre estão brigando. – diz Eu

-É o que parece.Podemos sair daqui agora?Eu não estou confortável aqui.

-Claro.Vamos para o palco.

Eles ficam no palco, observando o público ir embora.Sócrates fica observando com um olhar pensativo.Depois de alguns minutos de silêncio entre os dois, ele diz:

- Por que estamos aqui?Pra que estamos indo nesses mundos paralelos?É tudo mentira não é mesmo?Por que ficar visitando essas fantasias? – Sócrates pergunta de uma maneira levemente irritada.

-Você se lembra o que eu lhe disse antes de entrarmos no calabouço?

-Não.

-Imaginei.Tinha dito que você teria que superar a sua arrogância e o seu orgulho.Mas para fazer isso, você tinha que perceber o que esses sentimentos fizeram com você, e como eles se originam.Por causa deles, você perdeu algumas pessoas na sua vida antes mesmo de ganha-las, pessoas que seriam extremamente importantes para a sua história.Por causa deles você afasta as pessoas, mantendo uma distância que não é saudável, aumentando a sua solidão e amargura.Você afasta as pessoas por ter vergonha de quem você é; não quer que elas conheçam quem você é de fato.E por ter essa vergonha você vive neste mundo imaginário, onde você é bem-sucedido, levantando um muro de arrogância para cima das pessoas.

O arrogante se agarra a um mundo imaginário onde ele é melhor, desprezando o seu verdadeiro eu.Ele acha que é mais bonito, ou mais inteligente ou habilidoso, quando muitas vezes não é; ele se apega a autoimagem que é mais agradável.Porém o seu caso em específico, é um pouco peculiar.Você acha que é inteligente, bonito e talentoso e de fato você é; porém você fracassou em tudo que tentou e isso para você é humilhante.Se não fosse por mim, você já teria desistido de viver a muito tempo.Já estaria morto.Agora venha, vamos sair daqui .

Eu começa a andar para uma porta por trás do palco.Sócrates está parado, ainda olhando a multidão indo embora, observando os cartazes com o nome da sua banda escritos.Então Eu mais uma vez de maneira gentil, coloca a mão no ombro de Sócrates e diz:

-Isso não é real e nunca vai ser.Vamos, vamos sair daqui.

Os EspelhosOnde histórias criam vida. Descubra agora