As duas casas

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- O erro é você achar que só pode fazer uma coisa.Lembra-se que você queria ser jogador mas não conseguiu?Você não pensou em se matar quando falhou nisso.E por qual motivo?Por que você tinha outro sonho para tentar realizar.Pense em si mesmo como um navio que mira um destino; porém no meio do caminho o capitão percebe que não pode chegar ao destino final.O que se deve fazer?Afundar o navio?De maneira nenhuma.Navios foram feitos para navegar em direção a qualquer destino, não apenas a um.Você mirou dois destinos, mas não conseguiu chegar aos dois; o que deve fazer agora é buscar uma outra direção.

-Não tenho outra direção para ir.

-Eu lembro que quando você era criança, gostava muito de desenhar histórias em quadrinhos.E sei também que você gosta de contar histórias, e que pretendia fazer isso quando se aposentasse da música.Você planejou tudo isso para a sua vida não foi?

Os olhos de Sócrates começam a ficar cheios de lágrimas; ele solta um pequeno sorriso no canto da boca.

-É... foi.

A terra começa a tremer.

-Pois está na hora de rever o seu destino, e seguir uma nova direção... está na hora de parar de chorar por sonhos não realizados e começar a buscar outros que ainda estão ao seu alcance.

-Uma nova direção...

-Sim, um novo sentido para a sua vida.

A criatura chega perto de Sócrates e fica de pé ao lado dele.

-Porém morrer seria um jeito mais fácil de continuar... eu estou em busca de paz... chega de agonia, de tristeza e de solidão... chega de frustrações...

-Você quer ser alguém importante ou não?

-Quero.

-Então precisa fazer alguma coisa de relevante.Falhar e se entregar para a morte é algo digno de esquecimento.É isso que você quer?

-Não.

-Então precisa buscar esse novo sonho, esse novo sentido com todas as suas forças.

-E se eu falhar novamente?

-Só há um jeito de saber: abrindo a caixa e vendo se o gato está vivo ou morto.

Sócrates olha nos olhos de Eu e sorri.A criatura prepara a sua foice para dar um golpe em Sócrates.Eu estende a mão para ele.

-Está pronto?

Sócrates observa a mão de Eu e depois o olha nos olhos; depois olha para o estranho ser e sua foice.Com relutância, ele aperta a mão de Eu; a estranha figura desarma sua posição de ataque, dá as costas e começa a ir embora, saindo da caverna.A terra para de tremer.Sócrates e Eu se levantam e também saem.Os ventos diminuem bastante ao ponto de se transformarem apenas em uma leve brisa, a neve baixa a sua intensidade, assim como os relâmpagos e trovões.O tempo não fica bom, apenas volta para o que era antes; há algumas crateras no chão feitas pelo terremoto.

-O que aconteceu aqui?Por que esse terremoto? – pergunta Sócrates.

-Tudo isso estava prestes a ruir.

Os dois trocam olhares na hora e Sócrates entende.

     

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