A segunda visita

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Era dezembro e o ano novo se aproximava; seus pais estavam com planos de ir viajar, mas ele quis ficar em casa.Disse que ia celebrar a festa com os amigos na praia.

Na manhã de 31 de dezembro ele já estava sozinho em casa.Havia se passado um pouco mais de uma semana desde a última vez que viu Daniele.Estava mais magro, com olheiras gritantes.Passou o dia inteiro vendo televisão e jogando videogame.A noite, começou a escutar música.Apagou todas as luzes da casa.

Sentado no canto do chão, Sócrates escuta uma música extremamente depressiva, chamada "The Eternal"(O Eterno), de uma banda inglesa chamada Joy Division; ele está só em casa, e ela está totalmente escura.Ele ainda mora com os pais, apesar de ter 33 anos.Mora com eles não porque quer, mas por dificuldades financeiras.

No canto, sente o clima pesado da música; ele chora a sua solidão, os seus fracassos, a sua depressão.Ele não sabe o que fazer em seu futuro, ele não vê saída; tudo o que ele realmente queria, não conseguiu.Os seus sonhos no fim das contas, se mostraram ser apenas ilusões tristes, que foram alimentadas em excesso.Ele até pode conseguir algo que ele não deseja muito, mas o que ele realmente quer, não.Sócrates se sente impotente, incompleto.Ele pega um faca para cortar seus pulsos e dar fim ao seu sofrimento.

Não há perspectivas, não há esperanças; apenas sonhos despedaçados e amores quebrados, ou nunca realizados.Há apenas uma vida de ilusões, e tudo isso já está pesando muito sobre os seus ombros; ele achava que os suicidas eram fracassados, pessoas que desistiram de tudo e resolveram perder de vez; não pensava em suicídio pois sempre pensava que um dia, iria conseguir realizar algum sonho e finalmente poderia sair da fila de espera que parecia eterna.Sem sonhos, sem emprego e com um coração quebrado, ele não possui mais esperança.Enquanto a música toca, ele vira o pulso da mão esquerda para cima; encosta a faca nele, e quando vai cortar a própria carne, a música para.

A princípio ele para também, pois acha aquilo estranho e incômodo, pois o som estava sendo o alimento da sua depressão.Todavia, logo se volta para o seu objetivo e coloca a faca novamente no seu pulso, e quando vai cortar...

-Pare! – alguém grita.


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