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Victória. - semanas depois.

E a faladeira continuava.

Estavam todos na sala, HG, Alana, KL, Tati, Lelê e Dani.

Era um domingo, o sol estava escaldante, e tudo me irritava. Nada do que eles falassem resolveria a situação, eles só falavam, falavam e nada.

Nada estratégico, nada de um plano de fulga, nada! E aquilo só ia me irritando.

-- Vocês só estão falando besteira! – levantei e fui pra cozinha.

Essa semana eu não estou tendo paciência com nada, tudo me irrita, e estou a base de calmantes, estou completamente louca.

Patrick proibiu a minha ida à prisão, definitivamente.

Tentei ir umas duas vezes, fiz barraco, os ameacei, mas de nada adiantou, não me deixariam entrar, não me deixariam vê-lo, e isso, por um pedido dele.

Eu não entendo o por que dele fazer isso? Será que ele queria me ver sofrer? Se ele quisesse, bom, estaria no caminho certo.

-- Não importa vocês falarem, falarem, falarem e na hora ninguém agir. Quase todos são bundão, vão fazer um plano de fuga e na hora ninguém vai colocar a cara a bater! O Patrick perderia a vida por um de vocês, e vocês só estão se prologando.. Vão deixar ele ser julgado, transferido, pra tentar fazer alguma coisa, quando as coisas estiverem mais difícil! – me exaltei.

-- Vic, não é assim.. – disse Kl.

-- É assim, sim! – gritei – Porra, pega umas cabeças, colocam num carro, e vão lá explodir aquela porra! – bati as mãos no balcão – Caralho, vocês tomam morro, vocês assaltam banco, fazem os caralho a quatro, mas não conseguem tirar uma pessoa da prisão.. Gente, eu nunca pedi nada demais pra vocês, será que vocês podem fazer isso por mim? Por favor!

-- Vic, não é fácil, não é assim, chegar lá e tira-lo, se você se esqueceu, somos fichados. – disse Hg.

-- "Se você não se esqueceu, somos fichados" – o imitei com ironia. – Porque nada dá certo? Nada? – todos me olhavam com olhar de pena, e logo veio as palavras de Patrick em minha cabeça, e a raiva tomou conta.

Tudo que havia encima do balcão foi de encontro ao chão e todos ali se assustaram. Pratos, copos, talheres, tudo foi quebrado, a raiva me consumia totalmente, mas a raiva não era o único sentimento, era raiva, dor, ódio, rancor. Todos os sentimentos ruins possíveis.

Chutei armários, porta, geladeira, tudo que estava ao meu alcance, até a hora que Lelê me segurou pelos braços.

-- De coé Patroa, se acalma! Nós vai tirar o chefe lá de dentro, mas tem que ser na muida! Tu ficar assim só vai agravar nosso lado, sabe qual é?

-- Me solta – me debati em seus braços – Vocês são tudo um PAU NO CU. Eu tô cansada gente, pelo amor de Deus.. – me soltei dos braços de Lelê e olhei todos a minha volta.

Todos me olhavam com olhar de pena, como se eu fosse uma moradora de rua, ou como se eu estivesse maluca.. Talvez eu estaria. Talvez, eu não tivesse em sã consciência, ou talvez com um distúrbio por conta da saudades.

Saudades.

" A saudade é uma doença horrível!"

Um sentimento filha da puta que destrói uma pessoa.

Um sentimento que vem como um tiro, e te perfura pouco a pouco.

Te destroça em tempos, sem deixar um resíduo sequer.

Pena, isso é o que eles sentem de mim.

Talvez, eu deveria ser digna de pena. Se eu olhasse por fora, eu sentiria pena de mim mesma. Estou péssima, magra, feia.. Quem não teria dó de uma pessoa que nem a sanidade está em dia?

Sai de casa e sentei na calçada, o dia era ensolarado, os bares tinha suas respectivas músicas, a criançada soltando pipa na rua, e aquilo me fazia lembrar muito mais o Patrick.

Em seu tempo menino ele adorava soltar pipa, já caiu de inúmeras lages tentando pegar pipas em fios.

Afundei minha cabeça em minhas pernas cruzadas e chorei.. Chorei pela milésima ou bilesima vez, não sei.

-- Depois de otária, chifruda, agora é depressiva. Tenho dó.

Hoje, definitivamente não é o meu dia.

A voz estridente de Luana, percorria por meus ouvido, os corroendo.. Seria hoje, hoje, descontaria toda fúria que havia dentro de mim.

Levantei em total ódio, só conseguia enxergar a quenga que quando me viu levantar, logo tentou entrar em seu quintal, uma tentativa mal sucedida.

Fui até ela e peguei em seus cabelos à trazendo pra fora.

-- Quem é a depressiva agora?

Não dou tempo da mesma responder, apenas a esmurro

Aquela sensação era nova pra mim, nunca havia sentido aquilo antes, nunca tinha batido em alguém assim.

Minhas brigas com Aline e Giovana não chegava nem perto dessa coça que agora dava em Luana, a coça que parecia uma libertação de um sentimento ruim que habitava em mim.

Sei que é errado descontar nela, quando a única responsável por esse sentimento era apenas eu. Mas ela veio procurar, veio mexer com quem estava quieto, e eu já avisava a mesma, não era de agora!

Só conseguia ver o rosto de Luana ensanguentado depois de inúmeros socos em seu nariz, a mesma que era branca igual um papel, já estava com olhos roxos e tinha a consciência que aquela surra deixaria bastantes marcas.

Estava montada encima da mesma que apenas me arranhava, coloquei seus braços embaixo de meus joelhos e deixei a mesma sem opções de defesa, já que era uma coisa que ela não estava fazendo direito mesmo.

Peguei nos cabelos de Luana e bati a cabeça da mesma no chão duas vezes com muita força, não contente, pela terceira vez, a cabeça foi de encontro ao chão.

Já era perceptível que Luana já não estava se aguentando, levantei a mão para acertar o próximo tapa quando senti me puxarem. Era Kl.

-- Você tá maluca, Victória? – Tati gritou olhando Luana no chão, me dei conta e olhei em minha volta. Uma rodinha era formada por bastante curiosos, olhei para minha blusa azul clara e a mesma era tomada por sangue, sangue que não me pertencia.

Foi como uma saída de um transe, a vontade de chorar me alcançou e não pude conter minhas lágrimas, o que havia acontecido comigo? Eu não era assim, nunca fui.

Logo veio as lembranças da época em que Patrick me batia, e de como me sentia, e ao lembrar de Patrick, me veio o real motivo pelo qual eu estava agindo daquela forma.

Desci o pequeno percurso até a minha casa em prantos, me senti a pior pessoa do mundo por ter feito aqui, será que eu a mataria? Se não fosse por Kl? Será que eu deixaria um sentimento ruim me consumir por completa?

Abri aquela porta e reparei meus dedos machucados e minha mão com sangue, adentrei a sala e agradeci mentalmente por Valentina e Bernardo não estarem na sala e não me verem naquela situação.

Adentrei o banheiro arrancando aquela roupa do meu corpo e a jogando no lixo, me sentia uma imunda, uma pessoa pobre de espírito.

Liguei o chuveiro e deixei aquela agua quente me lavar, lavar minha alma e tentar, assim, amenizar um pouco a minha situação.

As lágrimas caiam junto a água, e lá, novamente, à água era uma corrente junto às minhas lágrimas, já havia virado uma rotina chorar, no banheiro, era como um ritual.

Eu não poderia viver assim, nessa perturbação, será que era isso que me atrapalhava de ser feliz?

Eu conseguirei! Conseguirei pela Valentina, o Bernardo e por ele, pelo o Patrick.

Levantarei minha cabeça, e segurarei nas mãos de Deus, deixarei ele guiar o caminho que apenas a ele pertence!

Primeira Dama II [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora