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Victória.

Patrick abriu a porta brutalmente e logo Alana entrou levando Bernardo e Valentina para o quarto.

— Patrick... Você está.. Aiiiiiiiiiiii!! — senti uma contração forte.

— Vamos pro hospital agora, eu não posso deixar vocês. — subiu para pegar as bolsas.

Os barulhos dos tiros não cessaram, só tomavam intensidade.

— Ainda não acabou? — perguntei chorosa

— Isso não importa agora. — sua respiração era ofegante — O que importa é colocar nosso filho no mundo.

— Eu estou com medo. Ainda não está a semana certa pro neném vir ao mundo. — ele me olhou assustado.

— Como assim?

— Eu não sei, mas a bolsa já rompeu.

— Vamos logo pro hospital. — me pegou no colo.

— Você não vai poder entrar no hospital assim. - disse sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto — Você está todo sujo de sangue.

— Quem vai me proibir? Entro até pelado. - me colocou no banco de trás do carro e jogou as bolsas no banco da frente.

Patrick entrou no carro dando partida e pisando fundo no acelerador, logo vi um carro atrás de nós.

— Patrick, estão nos seguindo. - disse nervosa.

— Relaxa, é escolta. - ele disse sem olhar pra mim.

Descemos pelo caminho mais longo, mas tenho certeza​ que era por medo de ter alguém da tropa do Pingo.

— Ainda não acabou essa guerra? - perguntei segurando a barriga.

— Não. - ele diz nervoso.

— Mas amor, como você saiu assim?

— Vocês são mais importantes pra mim, Victória. — ele diz com uma aparência séria.

Como a clínica onde fiz todo o pré natal era longe e o posto do morro não fazia parto, tivemos que ir pra maternidade pública mais próxima.

Patrick cortou caminho indo por uma pequena rua que eles usavam como esconderijo ou rota de fuga. Toda hora ele olhava pelo retrovisor, o que me causava mais medo.

— Aqui é perigoso, chefe. — ouvi alguém falar pelo rádio do Patrick.

— Porra, eu tenho que chegar rápido com ela no hospital! Vocês tão aqui pra me dar cobertura! — gritou apertando as mãos no volante.

Se eu não tivesse com tanta dor, pudia jurar que Patrick estava andando a 100 km por hora. Eu mal conseguia ficar com olhos abertos quando vi Patrick retirar a pistola de sua cintura.

— Abaixa, Victória! — Patrick gritou e o minha única reação foi deitar no banco do carro.

Dois tiros foram disparados contra o carro, que pegou apenas no retrovisor dianteiro esquerdo. Patrick gritava ao rádio e pude ouvir outros tiros sendo disparados, mas não contra nós.

— Patrick, eu não tô aguentando mais. — disse enquanto o carro trepidava por conta da rua de paralelepípedo.

— Eu tô indo o mais rápido que posso. - ele diz nervoso — Maldita hora que o Cleiton resolveu invadir o morro. Não era pra eu ter saído de casa.

— Para de se culpar. — disse chorosa - Não temos culpa, você também não.

— Já viu que tudo de ruim que acontece na nossa família é por minha culpa? — ele deu uma breve olhada para mim — Você ouviu o que a Valentina disse hoje? Se ela souber no futuro tudo que fiz com você, será que ela vai me perdoar?

— Patrick, a Valentina só tem seis anos. — me ajeitei no banco — O importante é que eu te perdoei.

— E valeu a pena?

— É claro que valeu. Acha que eu aceitaria passar tudo de novo e ainda pior, com você e por você? — o encarei — Mas isso não é hora de termos essa conversa. Tenho uma pessoa pra colocar no mundo.

Me assustei com o cavalinho de pau que Patrick deu, e só então percebi que já havíamos chegado na maternidade.

Patrick desceu me pegando no colo e pegou no banco da frente a bolsa que o mesmo tinha trago. Logo uns paramédicos que haviam ali perto de ambulâncias vieram me socorrer.

— Bota ela na cadeira e leva ela pra sala de parto, ela tá tendo neném! — Patrick gritou e os paramédicos se assustaram.

-— Senhor, você precisa fazer a ficha dela. — uma moça disse.

— Ficha é o caralho, eu preciso é que vocês peguem a cadeira, senão, quem vai andar de cadeira de rodas são vocês! — ele disse exaltado.

Logo apareceu uma cadeira de rodas e Patrick me colocou sentada, um enfermeiro ia me empurrando quando segurei a mão de Patrick.

— Amor, vem comigo. — digo chorando — Não me deixa sozinha, por favor.

— É claro que vou, eu só...

— Me desculpe, mas o senhor não pode entrar desse modo. — o enfermeiro disse.

— Desse modo como? — Patrick o encarou — Tô pelado?

— Não, mas sujo de sangue. — o enfermeiro disse e Patrick começou a gritar — Alguém chama a polícia pra esse homem! - o enfermeiro gritou e empurrou a cadeira.

Eu queria muito levantar e correr atrás do Patrick, mas a minha dor era tanta que fui incapaz até de ficar com os olhos abertos e a única coisa que fiz foi abaixar a cabeça e chorar.

Primeira Dama II [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora