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Patrick.

Porque eu não consigo toca-lá?

Porque estão todos chorando? Eu não morri!

Me tirem desses aparelhos, odeio coisas que me apertam!!

Porque eu estou isolado? Porque todos estão indo embora?

O barulho desse aparelho está me irritando, juro que irei quebra-lo!!!

Eu não sinto dor, já posso ir pra casa.

Ela voltou!

Ela e um doutor. Com certeza pra assinar minha alta.

Porque ela ainda tá chorando?

Que cara de pena é essa? O que esse filha da puta tá falado pra ela, que está fazendo ela chorar?!

Ela está se aproximando, o doutor saiu da sala.

Ela ainda está chorando.

Ela pegou na minha mão. Eu senti seu toque.. Ah, suas mãos macias, quentes e sedosas que aceleram o meu coração. Ela sorria abobalhada.

— Quantas reviravoltas em?! — sorru enxugando as lágrimas — Olha tudo que passamos pra você me deixar agora.. Não desiste, por favor.

Não desistir de que? Eu tô bem aqui! Será que ela não vê? O que está acontecendo?

— Sabe, há dois dias eu tive uma surpresa. O dia não era muito bom, mas a notícia, pelo menos essa, foi boa. A nossa família irá crescer. Isso mesmo, novamente o nosso amor não coube só em nós. Queria tanto que você tivesse no momento comigo, mesmo eu tendo descobrido da pior maneira..

O que???

ELA TA GRÁVIDA, PORRA!

Nossa família cresceu, porra mano, como eu quero abraça-la.

Mas... Eu não consigo!

Eu consigo senti-a. Eu sinto seu cheiro, ouço sua voz e até mesmo as batidas do seu coração.

Mas, ela não pode me ver.

Será que eu parti? Deixei ela sozinha novamente?

Não, não, não.. Eu não posso abandona-lá.

Oh, seu grandão, me põe no meu lugar de volta! Eu não vou deixar ela. Não é minha hora, aqui não é o meu lugar.

Olhei pra ela novamente e a vi acariciando sua barriga ainda sem volume..

Que cena mais linda..

— Se você estiver me escutando, saiba que eu te amo. Amo tanto que não suportaria viver sem você. — senti seu carinho em minha mão — Tudo o que me fez, tudo que aconteceu eu te perdoo. Eu perdoo só pra você voltar pra mim. — eu vou voltar amor.. Não se despede — Nós não lutamos tanto contra o mundo, pra você desistir logo agora. Luta por mim, por seus filhos e por você. Você sabe que não é a sua hora. Sabe que ainda tem tanta coisa pra viver. Tantas risadas pra soltar, tantas palavras pra falar. Não nos deixa agora.

Não, eu não vou desistir, eu vou voltar por vocês. Eu vou lutar até contra mim mesmo. É.. É só questão de tempo!

Vi Kaio chamar Vic na porta.. Que saudades desse viado..

— Tô te esperando — beijou minha mão — Vê se não vai demorar..

Não. Deus, eu não posso deixa-lá.

Não me castiga de tal maneira. Ela não merece passar por isso tudo, não vê o quanto ela sofre?

Eu não posso deixa-lá assim. Não irei descansar. Eu tenho filhos pra criar, tenho uma família pra cuidar.

Vi aquele tal doutor se aproximar com uma enfermeira, pelo visto ele estava limpando o tal machucado.

Parceiro, não mexe aí não, vai ver que a minha peça é maior que a sua.

Vi ele colocar algo direto na minha veia, não sei o que era, porém não tinha gosto.

— Eu não posso fazer mais do que isso por você. Tu sabes que não pode partir. Sabe que não cumpriu totalmente sua missão aqui na terra. Ela precisa de você, sua família precisa de você. Eu não posso lutar por você. Você tem um mês pra lutar, Patrick. Um mês pra resolver os teus problemas aí é voltar pra sua família que tanto lhe ama. Agora é só com você.

Logo entendi a gravidade da situação que se tratava, logo vi, que tudo ali dependia de mim e do meu esforço.

Logo ouvi a máquina que controla meus batimentos cardíacos se descontrolar, todos os médicos vieram em mim, mas o que poderiam fazer? Tudo depende de mim...

Kaio entrou na sala e logo se assustou com o barulho que a máquina fazia, avisando que o meu coração estava parando.

— Que isso, irmão? Não pode nos deixar agora!!! — logo senti ele a fazer reanimação em mim.

O que se ele tá fazendo? Eu estou aqui caralho, não morri e nem vou morrer!!

— Olha aqui, PK. Só vou fazer isso porque está em coma e eu te considero pra caralho!

O que ele tá fazendo? NÃO! Não, não, não... Que porra é essa?

Senti ele apertar o meu nariz e encostar a boca dele na minha, essa porra é o que? Me afoguei e não sabia? Quando sair daqui vou matá-lo na porrada, viadinho!!

O som das máquinas não parava, já não era aquele normal, mas sim um som fino, final de quando a pessoa vai desta para melhor.

Eu não posso morrer! Não posso deixar a Vic e os meus filhos, sangues do meu sangue!  Eu vou estar presente na gestação e no crescimento do meu novo filho. Tenho que estar e não aceito um não!!

— O que se houve Kaio? O que aconteceu? — o Doutor disse nervoso e veio logo com uns enfermeiros e uma máquina, aquela máquina dos choques... Ah mano fodeu... Nunca contei mas eu tenho medo de choque..

— Por favor se retire. Enfermeira prepare tudo rápido, já passou muito tempo não sei se vamos conseguir...

Uma luz, só consigo ver uma luz... Já não consigo mais ouvir os médicos nem sentir nada.

Eu, eu acho, acho que eu morri...

Primeira Dama II [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora