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Victória.

Há algumas semanas começamos a frequentar o grupo de ajuda aos autistas. Percebi lá que eles são crianças completamente normal, que apenas requerem atenção. Eles não tem uma doença contagiosa, muito menos uma doença mortal, aliás, eu nem sei se isso pode ser considerado como uma doença, apenas é um desvio de atenção. Eu sei que isso o prejudicará no futuro, mas pra mim, não haverá diferença entre ele e Valentina, e como a psicóloga falou, todos tem que ser tratado da mesma forma, com a mesma atenção. Eu sei que vou conseguir ser uma boa mãe aos três, pois o meu amor fala mais alto, e sempre me ajuda quando acho que os faltam amor.

Conversei com Tina e Julinha sobre o autismo do Bernardo, e a Valentina disse que pra ela, o irmão dela é normal, que pintará quantas vezes ele pedir, e que se alguém da rua o zoar pela doença, ela mesmo vai dar um corretivo na pessoa, eu posso com isso?

O Patrick dobrou a atenção com o Bernardo. Sempre que pode passeia com ele, o ajuda a montar os blocos e teve até a ideia de criar um quarto, especialmente para o Bernardo. Com blocos grandes e até um quadro na parede para que ele possa desenhar, ao invés de rabiscar paredes.

É tão estranho quando a paz reina porque eu sei que sempre que tudo está muito bom, acontece uma coisa três vezes pior. E nessa altura do campeonato eu não estou podendo ter fortes emoções com essa grande abóbora que engoli, como diz Valentina.

Volto da cozinha com um copo de suco de laranja, cenoura e beterraba, o que foi receitado pela doutora já que não estava comendo direito.

— Até que ele leva jeito pra ser pintor, Victória. — diz Patrick sentado no tapete pintando com Bernardo.

Sorrio e sento no sofá ao lado de Tina que assiste um filme que pela primeira vez não é o que ela costuma ver.

— Aí filha, já vi esse filme muitas vezes. — digo prestando atenção na tv

— Eu não gosto dele. — ela diz ainda olhando pra tv.

— Porque?

— Porque quando ela conhece o amor mamãe, ela volta pro mar. Depois de tudo que ela passou, porque ela volta pro pai dela que é má? Eu não entendo, ela é idiota. — automaticamente Patrick me olhou.

— Independente de tudo, ela ainda ama o pai dela, Tina. Ela mostrou pro pai dela que o amor verdadeiro existe, e depois disso tudo ela volta e mostra pro pai dela o que aprendeu, filha. E assim, eles vivem felizes para sempre. — sorri — E não diga palavras feias, já conversamos sobre isso.

— Se eu fosse ela, nunca mais olhava na cara desse papai bobão. — Patrick me olhou e se sentou ao meu lado no sofá.

— O papai bobão dela vai aprender que ficar longe da filha dele é muito ruim, e a filha dele vai mostrar pra ele o que é o amor verdadeiro. Não do jeito que ele quer, mas vai aprender na marra. E no final, ela ainda ganha as amigas dela.

— Mas as amigas dela ficam na terra, ela volta pra água.

— Pra ficar com o pai dela. — Patrick diz — Você não faria qualquer coisa pra ficar com o papai?

— Depende..

— E com a mamãe? — perguntei

— Também depende. Eu amo vocês dois, e não gostaria de escolher entre vocês. Por isso eu disse que depende.

— Tá ficando esperta em poço de abuso! — Patrick brincou com ela.

— Eu tô crescendo, pai. Minha mãe disse que já estou uma mocinha.

— Mas pra mim ainda é a bebê do papai. — Patrick a pegou no colo e a encheu de beijos.

Senti a mesma coisa que venho sentindo há cerca de uma semana atrás. Um sentimento tão ruim, tão doloroso, mas quando olho para minha família, assim tão unida, esse sentimento​ desaparecia, mas de vez enquanto vinha dar o seu sinal de vida.

Primeira Dama II [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora