A L I S S A
Estou te fazendo uma ligação noturna para dizer como me sinto.
(Nightcall – London Grammar)
O telefone chama. Chama. E chama. Ninguém atende.
São 21:45. Estou ligando para a casa dele pela terceira vez. A primeira foi às 11h. Não quero ser uma namorada grudenta. Quando atravessei o gramado até a casa vizinha às nove e meia da manhã para visitá-lo, ele não estava. Quando fui novamente às três da tarde, ninguém atendeu. Não estou bancando a chata insistente, estou apenas preocupada. Três vezes é um número razoável para um período tão longo quanto o dia inteiro.
É a terceira vez que ligo para o telefone fixo da casa, porque nas duas tentativas de ligar para o celular, não ouvi sequer o toque de chamada. Provavelmente está desligado.
Estou com o telefone nas minhas mãos, sentada no degrau da porta de entrada da minha casa, quando sinto uma luz forte em meu rosto. Protejo minha visão e coloco uma mão sobre os olhos para conseguir enxergar o carro que vem chegando na casa ao lado. Ele passa devagar pelo portão eletrônico de madeira que abre e fecha deslizando lentamente com um ruído grosseiro. Observo as luzes da sala serem acesas e vejo a silhueta de Sarah passar para a cozinha.
Espero mais alguns minutos, mas nada acontece. Desanimada, volto para dentro de casa.
Minha mãe está lendo um livro na poltrona da sala de estar. Ela ergue a vista rapidamente ao me ver passar, mas não diz nada enquanto eu devolvo o telefone ao seu lugar de sempre.
Me sento no sofá ao seu lado e cruzo os braços, preocupada.
Não era para isso estar acontecendo, mas está. É como se um abismo estivesse se formando entre mim e Daniel. O fato de ele passar horas sem falar comigo e se recusando a sair do quarto apenas dificulta as coisas. A vontade que eu tenho é de invadir sua casa, escalar pelas paredes e entrar pela janela do seu quarto. Mas não estamos num filme americano adolescente onde você pode subir pelo telhado e erguer o vidro da janela. A arquitetura das casas aqui não me favorecem em nada.
– Quando você vai me dizer o que está acontecendo? – minha mãe pergunta, depois de cansar de me assistir suspirando e resmungando no canto do sofá.
Eu dou mais um suspiro e um resmungo.
– Não consigo falar com Daniel.
Ela fecha o livro, marcando a página com uma fita amarela, e o põe em seu colo.
– Vocês brigaram?
– Não – murmuro. Estamos nos falando muito pouco para sequer podermos brigar. – O celular dá desligado.
– Talvez ele esteja querendo ficar um pouco sozinho.
Qualquer pessoa poderia aceitar essa explicação numa boa, mas eu não sou qualquer pessoa. Eu conheço Daniel. Durante todo o período desde que começamos a ter algo mais sério ele sempre deixou claro que não gostava de ficar sozinho, que queria minha companhia, que precisava de mim por perto.
Além do mais, até mesmo Thomas sabe que não se deve deixar Daniel sozinho por muito tempo. Ele pode pensar muitas bobagens quando está solitário e desesperançoso sobre seus problemas. Pelo seu histórico, em hipótese alguma isso seria bom.
– Você sabe que isso está errado, não é?
Eu encaro minha mãe quando a ouço fazer a pergunta. Soa ridículo, sem o menor sentido.
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Afogados
Teen Fiction‣ LIVRO 2 DA SÉRIE SUBMERSOS. Daniel e Alissa já ouviram canções melhores e navegaram por mares mais calmos. Calmos porque, se pensam que o barco em que estavam passou pelo pior, estão enganados. A tempestade mal começou e com ela vem grandes estrag...