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N.A.: É, três capítulos em sequência. Também não sei o que me deu. Espero que gostem. Um daqueles que te deixa com a sensação de que falta alguma coisa. Acredite, é proposital. Mas vai dar tudo certo. Boa leitura.


A L I S S A

Nos lábios do meu amor eu estou sozinha de novo, mas sonhando com seu beijo.

(Quantum Immortality Crywolf)


Não preciso dizer que minha mãe quase caiu para trás quando contei a ela o que eu Cristal fizemos. Não preciso dizer que depois de recuperada do susto ela quase me matou. Não preciso detalhar o sermão que levei do meu pai, que também não ficou nada feliz. E com toda a razão. Eu realmente havia me posto em risco.

Tentamos não contar aos meninos, mas Luke ouviu parte da conversa e se recusou a sair da sala até receber uma explicação digna, o que significa que ele trouxe Gabe e os dois acabaram ficando a par de tudo, mas sem opinar nem uma palavra sequer.

Foi estranho não ouvir mais uma das piadinhas sem graça dos meus irmãos num momento de tensão. Era a cara deles tentar aliviar o clima com qualquer comentário idiota. Não foi dessa vez.

Minha maior surpresa foi que eu não fiquei de castigo. Não, meus pais decidiram que era impossível me impedir de fazer qualquer coisa. Eu quase sugeri que eles poderiam me forçar a usar uma tornozeleira de rastreamento, mas achei melhor ficar quieta.

Então foi a vez de Cristal explicar sua versão da história. Não foi muito difícil para eu entender, mas meus pais quase surtaram. Eu juro que minha mãe quase arrancou os próprios cabelos.

Basicamente, Bola era um traficante com quem Nathan estava metido. Ele estava devendo a esse cara. E na hora que Cristal contou isso eu imediatamente relacionei ao cara que tinha visto na praia com Nathan meses atrás, o mesmo que eu tinha ido procurar com a ajuda de Daniel logo após o sumiço do meu irmão.

Eu estava tão estressada e ansiosa com tudo o que estava acontecendo que as coisas passavam como se estivessem alheias a mim. Nem mesmo quando eu recebi o telefonema mais estranho de toda a minha vida eu consegui me entregar às emoções, perder a cabeça e tomar algum tipo de atitude que estava sendo esperada de mim, como por exemplo, surtar, gritar e chorar.

Foi às duas e quarenta da manhã. Acordei quando um número desconhecido inesperadamente me ligou. Achei que fosse Nathan. Fiquei nervosa. A voz do outro lado era muito mais grossa e rude do que a voz do meu irmão:

– Acho melhor você me dizer aonde se meteu aquele filho da puta.

Eu não tive tempo de sequer respirar antes de disparar:

– O único filho da puta aqui é você. O que porra você fez com meu irmão?

Aí a pessoa desligou. Eu senti meu corpo inteiro formigar e o celular caiu da minha mão.

Corri até o quarto dos meus pais, angustiada, e contei. Contei tudo. Inclusive que eu já sabia da história do Nathan e que suspeitava que havia alguém nos observando num carro escuro do outro lado da rua constantemente - essa fora a parte que eu não havia contado mais cedo.

Minha mãe gritou comigo de início, porque eu havia mentido, ou melhor, omitido, informações tão importantes. Depois, ela se acalmou, pediu desculpas e me abraçou enquanto meu pai fazia inúmeras ligações e eu ficava lá, petrificada.

– Vamos rastrear esse cara. Vamos pegar ele – meu pai informo, tentando nos consolar.

Meus irmãos acordaram assustados e eu me desvencilhei de mamãe para dar espaço a eles. Senti que eles precisavam dela mais do que eu. Parte daquilo era minha culpa. Eu fui a única a mentir e deixar que a situação chegasse àquele ponto.

Talvez se eu tivesse feito alguma coisa logo quando percebi que Nathan estava entrando em encreca ele não tivesse fugido. Cristal mesmo disse que parte do motivo por ele ter sumido foi porque queria escapar desse cara.

O pior de tudo, eu estava paralisada demais com tantas emoções que não conseguia sentir medo, terror, preocupação. Só sentia culpa e uma vontade enorme de fugir também.

Então eu fugi.

Saí de casa para os braços da única pessoa que era capaz de me oferecer conforto. Joguei pedrinhas na janela de Daniel para chamar sua atenção e não acordar o resto da casa.

Ele demorou, mas atendeu. Eu estava quase desistindo quando ele apareceu na janela e fez sinal para que eu fosse até a porta.

Eu fui.

Ele abriu a porta para mim.

Eu o abracei com força.

Ele não retribuiu.

Eu olhei fundo em seus olhos. Mesmo no escuro, eu pude enxergar sua recusa. Me senti golpeada com a lâmina mais cortante do universo.

Senti meus olhos marejarem, mas engoli o choro. Se Daniel percebeu, não disse nada.

Ele não precisou me guiar até o andar de cima, até seu quarto, eu já sabia o caminho.

Ele entrou e foi direto se deitar em sua cama. Mesmo sem saber onde enfiar a cara, eu me deitei ao seu lado.

Suspirei, me esforçando para não deixar as lágrimas caírem. Eu não sentia nada além de decepção e culpa. Como ele poderia me querer se eu o estava evitando esse tempo todo, fugindo da sua presença por medo da minha incapacidade de ajudá-lo?

– Vai ficar tudo bem – ouvi-o dizer em meio da escuridão.

O corte em meu peito pareceu mais leve, mas ainda sangrava. Fora profundo, apesar de pequeno.

Daniel me abraçou, finalmente, e eu encostei a cabeça em seu ombro. Depois desabei, chorando em seu peito. Ele não disse nem fez nada além de acariciar meu cabelo, me acolhendo, exatamente como eu precisava que ele fizesse.

Eu ergui meu rosto de encontro ao seu, procurando ávida por seu lábios. Então ele se afastou. Ele virou o rosto, evitando meu beijo. A lâmina perfurou com mais força.

Raiva, tristeza, culpa, rejeição. Eu estava sangrando em cores.

Pus minhas duas mãos sobre a barriga, depois sobre meu peito, como se estivesse apertando o corte, tentando sufocar o que sentia. Eu precisava ser forte.

Meus pais precisavam de mim. Meus irmãos. Nathan. Daniel.

Ele não estava simplesmente me rejeitando agora. Ele estava apenas sofrendo e não sabia como me explicar. Ele estava tentando não me intoxicar com sua própria dor.

Toquei seu rosto uma última vez e abaixei a cabeça, recostando-a sobre seu peito. Ali, fechei os olhos e dormi, torcendo para que os sonhos me levassem para um lugar mais tranquilo.

Agora, pela manhã e depois de um sono sem sonhos, acordo com a vibração do meu celular em meu bolso. Daniel se move, dando espaço para que eu pegue meu telefone. Ele parece alguém que não dormiu a noite inteira.

Desbloqueio a tela do aparelho e leio a mensagem de Luke:

Venha pra casa. Vovô e vovó estão aqui.



N.A.: Mais uma nota para dizer que vou tentar postar novamente o mais rápido possível. Vocês podem ir se preparando com a vibe da música do próximo capítulo, que será Can You Feel My Heart, de Bring Me The Horizon. Sim, definitivamente, preparem-se.

Contagem regressiva para o fim de Afogados: 8.

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