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D A N I E L

E eu não quero viver, mas estou com muito medo de morrer.

(Empty – Olivia O'Brien)


É um daqueles jantares silenciosos em que ninguém mal consegue se olhar nos olhos. Sarah, eu e meu pai. Me pergunto se caso Lilo estivesse aqui estaríamos todos tão quietos. Acho pouco provável. Ela é como Thalia, um espírito livre e alegre que está sempre dando seu melhor para tudo ser melhor.

Observo Sarah cortar cuidadosamente um pedaço de frango em seu prato. Não comi nada desde que me sentei aqui, há cerca de meia hora. Sarah percebe que está sendo observada e ergue o rosto para mim. Tenta sorrir, mas não o que surge em seus lábios não se parece muito com um sorriso. Pelo menos não o que acredito que ela gostaria que fosse.

– Não gostou da comida? – ela pergunta, mesmo que já saiba a resposta.

Não sobra muito espaço em mim para me irritar com sua bondade forçada, então não me preocupo em soltar nenhuma resposta ácida. Dou de ombros sutilmente.

Sinto o olhar do meu pai sobre mim, mas finjo que não me importo e continuo olhando para Sarah até que se torna insustentável para ela. Com um susrpiro de desagrado, ela cruza os talheres sobre seu prato e começa a se levantar.

É inevitável que eu não olhe para sua barriga. Onde, segundo o que ela meu pai disseram, agora há um bebê. Pergunto-me se há mesmo uma criança se formando ali, parece tão complicado e improvável. Quais eram as chances? Depois de refletir por poucos segundos, decido que não me importo.

Assisto enquanto Sarah se sai da mesa e leva seu prato junto consigo, indo em direção a pia. Meu pai começa a falar algo e eu me preparo para o que está por vir. Não tenho uma desculpa preparada para isso. Já falei que estava enjoado durante o almoço de ontem, sem fome no jantar que se seguiu e com dor no estômago na refeição anterior a esta. Reprimo a vontade de levantar e simplesmente ir embora, mas no momento em que Leo está prestes a reclamar do meu comportamento, ouvimos um estrondo na porta.

Sarah corre até lá, subitamente agitada, sendo seguida por meu pai. Eu espero, dividido entre a curiosidade de saber o que é e o desejo de aproveitar a chance para subir para meu quarto.

Estou quase cedendo a segunda opção quando ouço a voz de Alissa.

– Dessculpa. Desculpa. – Ela repete várias vezes, quase sem ar.

– O que aconteceu? – Sarah questionada, a voz carregada de preocupação.

– Nada. Eu só.. Vim correndo até aqui porque.. Tive medo de uma moto que passou na hora em que saí de casa.

Há silêncio durante um minuto, como se um pedaço dessa explicação estivesse faltando, então Alissa complementa:

– Eu estava vindo pra cá e vi essa moto. Sabe como é, tá tendo muito assalto esses dias.

Ouço quando meu pai dá uma risada nervosa e Sarah ralha com Alissa, mas sem estar brava de verdade.

– Eu quase tive um piripaque – ela diz.

– Eu também – Alissa responde. E percebo que ela está falando muito sério.

Levanto-me da cadeira, pronto para ir até a sala e me encontrar com ela. Não sei o que dizer quando vê-la, ou o que fazer. Faz dois dias que não nos falamos, o que é estranho, e eu sinto sua falta. Mas acho que ela não me procurou de propósito. O que eu fiz não foi muito legal para ela também e eu sei que, mesmo que tenha ficado bastante calma durante todas as vezes que me visitou no hospital e na única vez que veio na minha casa após o que aconteceu, Alissa não está bem. Ela tem sido forte, apenas isso. Forte como eu jamais serei capaz de ser.

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