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A L I S S A

Você e eu não seremos agitados pelo som de inverno, mas minha voz está sufocando no som de inverno.

(Winter Sound Of Monsters and Men)


Não parece que é Natal. Provavelmente, este será o pior Natal de todos. Talvez o pior Ano Novo também. Ainda faltam cerca três semanas, mas eu já sei que não vai ter ceia, nem comemoração, nem família reunida. Para variar, meu namorado parece que nem se importa mais tanto assim com nossa relação. Minha vontade de sair do quarto e encarar a vida está chegando muito perto da forma como ele mesmo lida com tudo a sua volta. É como se todo o clima de fim de ano tivesse se tornado triste e sem graça, como se as coisas realmente estivessem chegando ao fim - não apenas mais um ano.

Eu me encontrei com Cristal. Foi tão decepcionante que não quero ter que lembrar. Talvez não devesse ter adiado tanto, se soubesse que seria tão ruim teria poupado tanto tempo gasto me sentindo nervosa e preocupada.

Ela não tinha muitas informações para me dar além do que eu já sabia e esperava: ela e Nathan haviam terminado. Mas o choque mesmo veio de algo em específico que me fez sentir nojo de apenas olhar em sua cara. Cristal traiu meu irmão. Ela ficou com Tobias, seu melhor amigo, dois dias antes de Nathan sumir. Ela mesma contou a Nathan, disse que não conseguiu lidar com a culpa. Agora queria parecer arrependida, como se tivesse perdido seu chão. Mas ela jamais conseguiria alcançar um level maior do que o  meu e da minha família.

Senti tanto ódio daquela garota prepotente e cabeçuda que saí da lanchonete no mesmo instante em que ela me contou aquilo - deixei a conta para ela mesma pagar. Estava raivosa, furiosa, bufante, a ponto de explodir. O pior de tudo, eu não podia contar a ninguém.

Não conseguia falar com Daniel desde a noite anterior. Nem tentei ir até sua casa. Vi quando seu pai saiu cedo com Sarah e quando retornei para minha própria casa senti que eles ainda não haviam chegado. Eu tinha quase certeza de que se Daniel estivesse em casa, e provavelmente estava, não desceria para abrir a porta para mim. Meus pais nem sonhavam com a minha saída. Subornei Luke e Gabe para não contarem, mas eles não pareceram muito preocupados. Haviam chegado a pouco tempo da casa dos nossos avós e já queriam voltar para lá de novo, o clima dentro daqueles cômodos tão familiares não era o mesmo há muito tempo.

Eu não me sentia nem um pouco mal por quebrar as regras. Na verdade, me sentia perdida, como se nada do que eu fizesse fosse mesmo mudar alguma coisa. Como se estivesse perdendo o Nathan pouco a pouco. A lembrança do som da sua voz estava desaparecendo da minha memória, ainda que eu pensasse que isso fosse demorar a acontecer, principalmente depois de sua última ligação.

Meus pais surtaram, é claro. Tentaram a todo custo rastrear de onde veio o telefonema e descobriram um orelhão do outro lado da cidade. Agora estavam por lá, concentrados vinte e quatro horas por dia em cercar a área a espera de alguma nova aparição de Nathan. No fundo, eu tinha a sensação de isso não aconteceria. Estava cada vez mais certa de que meu irmão não queria ser encontrado.

Pela primeira vez em muito tempo, me permiti ficar sozinha e me sentir sozinha. Deitei na cama, me esparramando toda pelo colchão, e deixei Supercombo tocando em volume ambiente.

Agora, aqui deitada, respiro fundo diversas vezes, pegando cada palavra da letra das canções e absorvendo. Tento me imaginar como Daniel. Será que é assim que ele fica em seu quarto, solitário diariamente? Para onde será que sua mente vaga quando ele não consegue pensar em mais nada?

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