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ALISSA

Amar não é fácil quando não é do jeito.

(Make Me (Cry) Noah Cyrus feat Labrinth)

Cinco dias para o Natal. Não é como se fôssemos comemorar alguma coisa. Não com Nathan desaparecido, meus pais ausentes quase todos os dias e meu namorado em colapso.

Estou cansada e nem sei ao certo do quê. Não tenho muitas coisas ultimamente. Há mais de uma semana que não falo com Anna. Recebo seus e-mails, enviados a cada dois ou três dias e repletos de fotos e emoticons alegres, mas não consigo responder e mentir dizendo que as coisas estão ótimas por aqui também, pois não estão. Também não posso contar a verdade e preocupá-la com coisas que estão fora do seu alcance.

Tento preencher meus dias com livros e a companhia dos meus irmãos. Eles parecem estar levando tudo o que vem acontecendo da melhor forma possível. Para a idade, estão sendo muito maduros. Até mais do que eu, agindo feito idiota e ficando bêbada por aí, colocando a mim e quem eu amo em risco.

Cinco dias para o Natal e dois dias desde que Daniel saiu do hospital. Eu o visitei assim que ele chegou em casa, mas depois não tive coragem para vê-lo outra vez. Ele estava péssimo. Ouvi Sarah comentar com minha mãe sobre a promessa que ele havia feito, que esperavam melhoras, mas se sentar no sofá da sala e manter um olhar vidrado para a televisão ligada num programa político for sinal de melhora, não quero imaginar o que pode ser ficar pior.

Talvez eu esteja sendo uma covarde, deitada de barriga para cima em minha cama e me recusando a olhar outra vez para o rosto sombrio e desfigurado do meu namorado, mas eu me sinto minúscula, impotente. Sua face agora está ainda pior do que quando me deparei com ele no hospital. E pensar nisso me faz lembrar no quanto Daniel esteve perto de sumir para sempre e eu não pude prever, não estava ao seu lado para impedir.

A playlist que está tocando no Spotify do meu notebook repentinamente vai de uma música triste e melancólica que fazia a trilha sonora perfeita para o momento infeliz que estou tendo para um pop dançante. Eu reviro os olhos, grunhindo de insatisfação. Ergo-me, pronta para me arrastar até o notebook do outro lado da cama e trocar a canção para algo que encaixe melhor no clima quando uma janela azul pisca no meio da tela.

O nome CRISTAL na caixa de notificação do Skype desperta minha atenção e eu dou um pulo, quase recusando a chamada em vez de aceitá-la. Sempre tive Cristal, namorada de Nathan, na minha lista de amigos em todas as redes sociais que estou inscrita, e ainda que ainda não esteja disposta a aceitar sua amizade ou sequer sua aproximação (que foi muito falsa, a propósito), estou curiosa para o que ela quer falar comigo.

– Oi! – Ela exclama, assim que atendo a chamada e sua imagem surge na tela.

Cristal é linda, não posso negar. Ela tem um olhar penetrante e seus cabelos longos emolduram seu rosto com ondas perfeitas e brilhantes. Enquanto isso minha pele feia e meu cabelo amarrado de forma desleixada deixam claro que jamais poderei sequer competir com ela em quesito beleza.

– O que foi? – eu devolvo, não tão simpática quanto sei que ela gostaria que eu fosse.

Mesmo assim, seu sorriso não diminui.

– Eu tenho uma coisa pra falar que você vai gostar de saber.

Eu me sento na cama em posição de yoga e arrasto o notebook para o meu colo, inclinando a tela para ter uma visão melhor do seu rosto. Minimizo rapidamente a aba do Skype para pausar a música no Spotify e só então volto a falar com Cristal:

AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora