A L I S S A
Cada vez que você respira, eu te vejo escapar. Você está se matando lentamente.
(I Won't Give In – Asking Alexandria)
Sarah o encontrou. Ela subiu para tentar conversar com ele e sentiu que algo estava errado. Primeiro, a porta do quarto de Daniel não estava fechada como de costume. Segundo, a porta do quarto onde Hanna e Leo costumavam dormir e que sempre, sempre, desde que ela havia morrido, ficava fechada, dessa vez estava escancarada.
Ela correu primeiro até lá. Encontrou uma garrafa de whisky vazia e a gaveta da cômoda principal aberta. A gaveta dos remédios de Hanna, que estavam remexidos, uma cartela inteira e vazia jogada no chão, um frasco destampado fora do lugar e diversos comprimidos espalhados pelo tapete.
Sarah gritou. Ela correu em direção ao quarto de Daniel, que estava com a porta entreaberta, e o descobriu caído sobre a cama, podendo ser facilmente confundido com alguém que caíra ali para tirar um cochilo. Porém não. Daniel estava deitado de forma errada na cama, como se tivesse caído ali de tanto cansaço, como nunca antes tinha sido visto - pelo menos não por Sarah ou seu pai.
Eu posso imaginar. Posso visualizar a cortina fechada do quarto, as almofadas desarrumadas, os travesseiros espalhados e o cobertor caindo pelo colchão. Vejo seus pés para fora da cama, seu corpo magro largado de forma irregular, sua respiração quase inaudível.
Quando Leo chegou ao quarto, sendo movido pelo grito aterrorizado de Sarah, eu também consigo imaginar sua expressão de desespero ao agitar o corpo de Daniel e virá-lo de barriga para cima, a dor angustiante provocada pela visão dos seus lábios azulados, a euforia avassaladora que lhe destruiu quando não pôde sentir o movimento de sobe e desce no peito de seu filho.
Leo ficou atônito, disse Sarah depois, para minha mãe, enquanto eu ouvia paralisada em meu lugar, de pé na porta da cozinha.
– Ele não sabia o que fazer. Ficou completamente desesperado. Quis dar água a Daniel, forçar um vômito. Mas eu sei que isso é pior. Não sei como ele não lembrou, sabe? Com tudo o que já aconteceu com Hanna.
– Deve ter sido o desespero – minha mãe justificou. – As pessoas ficam muito aturdidas pelo choque, perdem a noção do que estão fazendo.
– Sim. – Sarah concordou, visivelmente abalada. – Não sei como eu mesma consegui ficar calma. Mas pedi que ele erguesse Daniel nos braços e o levasse até o carro, porque vi que não daria tempo de chamar uma ambulância... Podia ser tarde demais.
Elas fizeram um silêncio doloroso nessa parte. Eu senti meu coração apertar, mas precisava ouvir o que havia acontecido em seguida, então continuei lá, e interrompi a quietude, questionando:
– E aí? Ele ficou bem?
Sarah me olhou de um jeito triste, desesperançoso, mas ainda foi capaz de abrir um sorriso, como se tentasse me passar alguma força.
– Eu lembrei de voltar ao quarto e pegar a embalagem dos remédios antes de sairmos de casa, podia ser útil para o médico.
– Ele está bem? – perguntei outra vez, insistente.
– Precisamos esperar ele.. O médico disse que.. Sim. Ele vai ficar bem. Mas ainda está em observação no hospital. Só viemos aqui pegar algumas roupas para passar a noite lá. Leo se recusa a sair de perto dele.
– Eu vou voltar com vocês para lá.
Minha mãe negou imediatamente. Ela disse:
– Claro que não, Alissa. Isso não é momento para..
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Afogados
Teen Fiction‣ LIVRO 2 DA SÉRIE SUBMERSOS. Daniel e Alissa já ouviram canções melhores e navegaram por mares mais calmos. Calmos porque, se pensam que o barco em que estavam passou pelo pior, estão enganados. A tempestade mal começou e com ela vem grandes estrag...